FLATULÊNCIAS
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Esses dias, o Betão, grande amigo e ex-colega de empresa,
foi categórico ao falar da experiência pessoal, aparentemente constrangedora,
frente às medidas invasivas, apesar de necessárias, adotadas pela equipe
médica: o que é um peido para quem já está todo cagado? Lembrei do Betão quando
diante das inúmeras matérias jornalísticas acerca dos movimentos reivindicatórios
que tomam as ruas e avenidas do país. A mídia, salvo raras exceções, tende a lançar
seus holofotes nas “flatulências” e não na comida putrefata envolta pelas
paredes do intestino. As primeiras, apesar de mal cheirosas, são como que tão
somente a ponta do iceberg. É bem
verdade que chamam atenção pelo desconforto que causam aos presentes. Apesar de
“contaminarem” o ar, mínimas são as efetivas consequências das flatulências
para os mortais. Por outro lado, o “bolo fecal” escondido nos porões do corpo é
que, de fato, desencadeia quase todas as espécies de puns, do mais ao menos
fétido, do mais ao menos espalhafatoso. Ainda assim, a corda arrebenta do lado
mais fraco. Os movimentos de massa que pipocam do Oiapoque ao Chuí têm como
força propulsora o bolo fecal composto pela corrupção, impunidade, lucros
abusivos, apropriação do dinheiro público, aniquilamento ideológico dos
partidos políticos, partidarização dos sindicatos, superfaturamento, falência
dos serviços públicos e tantas outras mazelas. O cheiro não poderia ser pior.
São anos, décadas, séculos de acúmulo de insensatez, falta de ética, escassez
de verdadeiro espírito público. Formas e sistemas de governo passaram. Partidos
ditos de direita, de centro e de esquerda passaram. Mudanças de moeda, planos
econômicos, medidas provisórias... Inúmeras Constituições... Todavia, apesar de
belos discursos e plataformas de governo, segue o profundo e inaceitável
descaso com a saúde, educação e segurança públicas. A multidão de miseráveis
segue envergonhando o país, em que pese algumas medidas paliativas,
paternalistas e eleitoreiras levadas a cabo por este ou aquele governo. O tempo
passa e o que não passam são as práticas coronelistas enraizadas nas relações
de poder. Seguem governando muitas das figurinhas e famílias que governavam no
século passado, que fazem de algumas cidades, estados e regiões do país
verdadeiros currais eleitorais. Cargos, funções, secretarias e ministérios,
pagos pelo contribuinte, são criados para acomodar interesses escusos, sob o
manto da pretensa “governabilidade”. Tudo isso entalado na garganta de nosso
povo. Melhor, nas vísceras. Diante da dor lancinante, o que é um pum? É, meu
amigo Betão, o que é um peido para quem está todo cagado?
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