Translate

sábado, 22 de junho de 2013

FLATULÊNCIAS


FLATULÊNCIAS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Esses dias, o Betão, grande amigo e ex-colega de empresa, foi categórico ao falar da experiência pessoal, aparentemente constrangedora, frente às medidas invasivas, apesar de necessárias, adotadas pela equipe médica: o que é um peido para quem já está todo cagado? Lembrei do Betão quando diante das inúmeras matérias jornalísticas acerca dos movimentos reivindicatórios que tomam as ruas e avenidas do país. A mídia, salvo raras exceções, tende a lançar seus holofotes nas “flatulências” e não na comida putrefata envolta pelas paredes do intestino. As primeiras, apesar de mal cheirosas, são como que tão somente a ponta do iceberg. É bem verdade que chamam atenção pelo desconforto que causam aos presentes. Apesar de “contaminarem” o ar, mínimas são as efetivas consequências das flatulências para os mortais. Por outro lado, o “bolo fecal” escondido nos porões do corpo é que, de fato, desencadeia quase todas as espécies de puns, do mais ao menos fétido, do mais ao menos espalhafatoso. Ainda assim, a corda arrebenta do lado mais fraco. Os movimentos de massa que pipocam do Oiapoque ao Chuí têm como força propulsora o bolo fecal composto pela corrupção, impunidade, lucros abusivos, apropriação do dinheiro público, aniquilamento ideológico dos partidos políticos, partidarização dos sindicatos, superfaturamento, falência dos serviços públicos e tantas outras mazelas. O cheiro não poderia ser pior. São anos, décadas, séculos de acúmulo de insensatez, falta de ética, escassez de verdadeiro espírito público. Formas e sistemas de governo passaram. Partidos ditos de direita, de centro e de esquerda passaram. Mudanças de moeda, planos econômicos, medidas provisórias... Inúmeras Constituições... Todavia, apesar de belos discursos e plataformas de governo, segue o profundo e inaceitável descaso com a saúde, educação e segurança públicas. A multidão de miseráveis segue envergonhando o país, em que pese algumas medidas paliativas, paternalistas e eleitoreiras levadas a cabo por este ou aquele governo. O tempo passa e o que não passam são as práticas coronelistas enraizadas nas relações de poder. Seguem governando muitas das figurinhas e famílias que governavam no século passado, que fazem de algumas cidades, estados e regiões do país verdadeiros currais eleitorais. Cargos, funções, secretarias e ministérios, pagos pelo contribuinte, são criados para acomodar interesses escusos, sob o manto da pretensa “governabilidade”. Tudo isso entalado na garganta de nosso povo. Melhor, nas vísceras. Diante da dor lancinante, o que é um pum? É, meu amigo Betão, o que é um peido para quem está todo cagado?  

Nenhum comentário:

Postar um comentário