APARÊNCIAS
Gilvan Teixeira
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blog:
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“Nossa”(?) Casa Legislativa, ao que tudo indica,
segue produzindo singulares pérolas. Ouvi dizer que um nobre vereador pretende
propor alteração no nome de uma conhecida escola pública municipal, sob o
argumento de que a atual denominação remete para os tempos da Ditadura Militar
(1964-1985). Ora, tal iniciativa denuncia, primeiro, a forte inclinação de
nossa Câmara para discussões fúteis, que nem de perto atendem às reais demandas
deste Município. Segundo, suscita algumas dúvidas: o porquê da iniciativa? Quem
demandou? A comunidade foi consultada? Terceiro, ainda que consultada, como se
deu o processo de discussão junto à coletividade? Democrática, ou nos moldes
por vezes aplicados por organizações que se intitulam representativas, mas que,
no fundo, não passam de históricos cabides de emprego e apadrinhamento, além de
verdadeiros trampolins político-partidários? Apesar de “legal”, a eventual
mudança no nome da dita escola requer algumas reflexões. Foi denominada por Lei
municipal, com fundamento no Art. 67, inciso IV, da Lei Orgânica. Assim, sob o
ponto de vista pura e simplesmente formal, é possível sim a alteração através
de uma nova Lei. Contudo, ao que tudo indica, a pretendida alteração atende,
sobretudo, a caprichos pessoais ou, no máximo, de pequenos grupos “revisionistas”,
como se tal manobra fosse capaz de mudar o passado e impedir suas consequências.
Vã e imbecil filosofia! Surtisse algum resultado prático, seria o primeiro a
defender tal espécie de medida. Aplicaria o “remédio”, por óbvio, a todas as
outras escolas, ruas, praças, ginásios e avenidas que remetam a personagens
que, no passado, estivessem associados a alguma espécie de atrocidade, arbítrio
ou coisa que o valha. Assim, nomes como o de Flores da Cunha, Getúlio Vargas e
Kennedy, por exemplo, seriam execrados deste Município, pois que é para lá de
sabido que eles e mais uma penca de outros “vultos” da história tiveram seus
nomes ligados à perseguição política, censura, assassinatos, guerras (civis e
externas), entre outros. Por que então, apenas e tão-somente, banir o nome do
General? Atire a primeira pedra aquele vereador que pertença a algum partido
que não tenha o rabo preso! Atire a primeira pedra aquele vereador que pertença
a algum partido que não tenha se “prostituído” e deitado no mesmo leito dos
“adversários”, jogando por terra o discurso da ética e da bandeira partidária.
Atire a primeira pedra o vereador que tenha ousado cortar na própria carne,
abrindo mão de vantagens e privilégios que passam de longe da esmagadora
maioria dos munícipes. Atire a primeira pedra o vereador que jamais mudou de
partido ou que tenha pública e abertamente condenado seus pares pelos
flagrantes e frequentes atrasos nas já breves sessões da Casa. Acredito que
Jesus seguirá escrevendo na areia... Sugiro, portanto, aos nobres vereadores: divaguem
menos e trabalhem mais! Problemas não faltam neste Município. Segurança, saúde,
infraestrutura, mobilidade urbana, distribuição de renda, geração de emprego,
lazer, EDUCAÇÃO. Tá bom, fiquemos apenas neste último e grave problema. Por que
não discutir com a comunidade (pais, alunos, professores, Poder Público,
sindicato, associações de bairro, Conselhos de Direitos, etc.) os porquês de
nossas crianças e adolescentes não estarem aprendendo? Os porquês do baixo
rendimento, repetência, evasão... Os porquês da falta de valorização dos
profissionais da educação? Os porquês das disparidades entre a renda da maioria
dos contribuintes e dos nobres vereadores. Os porquês da precariedade dos
serviços públicos e suas consequências no processo ensino-aprendizagem. Quiçá,
aproveitar, ainda, para explicar à comunidade os porquês de bom número de
vereadores não retornarem aos bancos escolares para aprimorarem seus
conhecimentos, aumentarem a escolaridade e aprenderem a se expressar sem
tamanhas ofensas ao bom português. Feito varejeiras em torno da merda, muitos
parlamentares sobrevoam a “área” – por vezes, com sobrevoos rasantes e piruetas
cheias de plasticidade – sem, contudo, assentar os pés no problema. Não é tempo
de discursos e projetos vazios. A sociedade, formada por pessoas de carne e
osso, exige ações efetivas por parte do Estado (Executivo, Judiciário e
LEGISLATIVO). Ações capazes de darem respostas concretas e eficazes às sérias e
preocupantes demandas existentes. O fantasioso Estado democrático de Direito
está ruindo. Pipocam, cada vez mais, manifestações nascidas dos mais diversos
lugares. Movimentos – bem ou mal organizados, bem ou mal intencionados – que,
em comum, colocam em dúvida a real necessidade do Estado. O LEGISLATIVO que aí
está não serve. É caro, tomado de vícios éticos e dissociado dos grandes
clamores sociais. Assim como os demais Poderes, precisa ser “refundado”.
Precisa ser, não apenas de “direito”, mas de “fato”, a Casa do Povo.