EPÍLOGO
Gilvan
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blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com
Acho que estou ficando velho. Com a idade, as manias.
É chegar o final do ano, especialmente o Natal, bate uma espécie de tristeza,
nostalgia... Talvez, o mesmo sentimento dos elefantes, quando pressentem que o
fim se aproxima. Afastam-se da manada. Por vezes, também desejo afastar-me...
Uma profunda e inexplicável vontade de ficar só, enfiado no mais profundo
silêncio do meu ser. Sem aquela aparente necessidade de ter que oferecer respostas
às perguntas ou ter que esboçar perguntas que engendrem respostas, mesmo que
vazias. O Natal e quase tudo o que a ele (ao menos hoje!) está associado, me
oprime. A “obrigação”, imposta por uma sociedade consumista, de presentear
familiares, parentes, amigos e até mesmo o cachorrinho ou o gatinho de
estimação, cria um triste “caldo” cultural, tomado pelos “temperos” do mercado
e do capital, “condimentos” que têm como principal tarefa escamotear o fétido
cheiro do “cadáver”. Pertencemos e somos frutos de uma cultura morta e, de per
si, mal cheirosa. Não fosse o “incenso”, travestido em tantas datas comemorativas,
se revelaria insuportável. A propaganda, com toda sua criatividade e apelação,
há muito vem servindo para mascarar o defunto. Perdoem-me as crianças. Confesso
que, noutros tempos, era bem menos insosso e não tão amargo. Natal, penso hoje,
deveria ser momento de afagos e abraços. Muitos abraços... Momento de festa,
reunião de parentes e amigos, mas sem presentes! Tá bom, no máximo, presentes
confeccionados por quem os dá. Já imaginaram, poder passar horas, dias, quem
sabe meses, preparando um presente para quem se quer bem? Presente e presenteado se confundiriam. Seria
um a cara do outro! Aí sim seriam presentes do coração. Não desses que se
compra, por vezes de última hora, nas lojas e supermercados. O Natal teria
outro sentido. Os olhinhos – mesmo dos adultos – nem piscariam, tamanha a
curiosidade. O presente carregaria muito da personalidade de quem o fez.
Passados muitos anos, jamais o presenteado esqueceria quem o presenteara. Os
presentes se revelariam em elos de afeto, de compromisso, de amizade, de amor.
Presentes que valeriam pelo investimento afetivo neles depositado, jamais pelo
valor de mercado. Acho que estou ficando velho. Pareço pertencer a outro mundo.
Por que os elefantes se afastam ao pressentirem que o fim se aproxima? Ah,
antes que esqueça: bom Natal a todos!
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