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quarta-feira, 30 de julho de 2025

DISCURSO DE FORMATURA DA EJA 2025-1

 

DISCURSO DE FORMATURA 2025-1

Prof. Gilvan Teixeira 

Boa noite! 

               Vinte e dois de julho de 2025! Mais uma noite, como tantas outras? Não, absolutamente! Muito pelo contrário. Trata-se de uma noite especial. Para este quase aposentado Professor, instante de honra ao ser homenageado pelos queridos alunos do Bloco 9A da EJA Fidel Zanchetta. Para esses formandos, momento de glória, afinal a Formatura coroa uma trajetória, incontáveis lutas e desafios, muitos deles guardados em segredo. Dificuldades econômicas, conflitos familiares, sonhos não realizados. Por detrás de cada um desses rostinhos, uma vida, uma história. Vocês, meus amados e amadas, são o mais fiel retrato da Educação de Jovens e Adultos no município de Cachoeirinha. Assim como nós – profissionais da educação – vocês são teimosos, bravos, resilientes. Apesar de todo descaso com o ensino público e dos inúmeros obstáculos impostos por aqueles que deveriam zelar pela educação na cidade, nós professores e vocês, formandos, não desistimos. Seguimos acreditando no poder transformador do conhecimento, pois que libertador, capaz de romper com os vergonhosos vícios culturais e com as criminosas amarras que impedem o desenvolvimento socioeconômico da cidade, do estado e do país. Qualidade de vida não se resume a dados lançados numa planilha, facilmente manipulada, mas se traduz por meio de serviços públicos de qualidade: saúde, saneamento, transporte, segurança... A educação é o “alfa” e o “ômega”, o princípio e o fim desse processo, pois é ela que melhor indica o grau de seriedade e compromisso dos gestores com o real interesse público.

            Queridos formandos e formandas, façam do “diploma” que receberam não a “conclusão”, mas sim o “início” para novos e mais ousados desafios. Sigam estudando, ampliando horizontes. Façam a diferença onde quer que estejam, semeando ética, honestidade, respeito, empatia, solidariedade, compromisso com a verdade. Não negociem o voto e nem, tampouco, a consciência. Jamais permitam que te imponham limite à liberdade (com responsabilidade, é claro) ou te impeçam de sonhar. Carreguem com vocês as boas lembranças construídas durante o tempo em que estivemos juntos. Alimentem a esperança e que esta cresça forte – como a Esther (filhinha do formando Renato) – no coração de cada um e cada uma de vocês. Desejo muito sucesso e jamais esqueçam este velho Professor. Beijo no coração! Muito obrigado...

segunda-feira, 30 de junho de 2025

TEXTOS E ARTIGOS NO "FACEBOOK"

 01/03/24

Big Brother, como é possível uma pessoa em sã consciência assistir? Confesso ser mais fácil acertar os números da Mega-Sena (uma chance em cinquenta milhões...) do que encontrar argumentos para responder a indagação. Contudo, tal "gosto" não surpreende toda vez que lembro dos membros da Câmara, por exemplo! Ou quando vislumbro a imensa quantidade de lixo na cidade. Ou, ainda, quando enfio o pneu da minha motinho numa das crateras daquilo que alguns chamam de "asfalto". Não surpreende, quando vejo inúmeras famílias sem saneamento básico ou jogadas às moscas, desrespeitadas em seus direitos básicos (saúde, educação, segurança, etc.). Os olhos na "Casa" da telinha não me surpreendem quando lembro das ditas "terceirizadas" prestando serviço de porco e surrupiando dinheiro público por meio de licitações suspeitas. Como ficar surpreso com o gosto pelo programa quando se convive com o aparelhamento do Estado para obtenção, manutenção e perpetuação de privilégios? Não surpreende, quando vejo a falta de água num dia sim e noutro também, ou ao ver o emaranhado de fios caindo dos postes a colocar em risco a vida das pessoas e tornando a cidade ainda mais feia. Não surpreende, ao ver uma "ciclovia" feita a preço de ouro e tomada de postes impedindo o trânsito de bicicletas (não entendeste? Eu, menos ainda...). Olha, talvez o Big Brother não seja tão ruim assim... Abraço no coração, meus brothers!

03/03/24

Big Brother, como é possível uma pessoa em sã consciência assistir? Confesso ser mais fácil acertar os números da Mega-Sena (uma chance em cinquenta milhões...) do que encontrar argumentos para responder a indagação. Contudo, tal "gosto" não surpreende toda vez que lembro dos membros da Câmara, por exemplo! Ou quando vislumbro a imensa quantidade de lixo na cidade. Ou, ainda, quando enfio o pneu da minha motinho numa das crateras daquilo que alguns chamam de "asfalto". Não surpreende, quando vejo inúmeras famílias sem saneamento básico ou jogadas às moscas, desrespeitadas em seus direitos básicos (saúde, educação, segurança, etc.). Os olhos na "Casa" da telinha não me surpreendem quando lembro das ditas "terceirizadas" prestando serviço de porco e surrupiando dinheiro público por meio de licitações suspeitas. Como ficar surpreso com o gosto pelo programa quando se convive com o aparelhamento do Estado para obtenção, manutenção e perpetuação de privilégios? Não surpreende, quando vejo a falta de água num dia sim e noutro também, ou ao ver o emaranhado de fios caindo dos postes a colocar em risco a vida das pessoas e tornando a cidade ainda mais feia. Não surpreende, ao ver uma "ciclovia" feita a preço de ouro e tomada de postes impedindo o trânsito de bicicletas (não entendeste? Eu, menos ainda...). Olha, talvez o Big Brother não seja tão ruim assim... Abraço no coração, meus brothers!

06/03/24

Haiti, mais um país de joelhos para o crime organizado. A lista não para de crescer, infelizmente. Entristece, preocupa, mas não surpreende. Afinal, o crime - inclusive no Brasil -, primeiro é muito mais organizado do que o Estado. Segundo, as organizações criminosas são, cada vez mais, globais, tendo suas ramificações mundo afora, rompendo e corrompendo fronteiras. No Haiti, de uma só vez, mais de dois mil presos escaparam da prisão. Ao menos, por lá, a "transparência" é maior. Já por aqui, é mais sutil... Por vezes, fruto do canetaço de magistrados prepotentes, arrogantes e incompetentes. Outras, pela cumplicidade de agentes públicos corruptos a fazerem vistas grossas. O Haiti escancara aquilo que escondemos. A republiqueta centro-americana é a foto nua e crua das mazelas típicas deste malfadado continente, cujas veias não cicatrizam, machucadas que são pela estupidez de uma elite insensível. Abraço!

06/03/24

Haiti, mais um país de joelhos para o crime organizado. A lista não para de crescer, infelizmente. Entristece, preocupa, mas não surpreende. Afinal, o crime - inclusive no Brasil -, primeiro é muito mais organizado do que o Estado. Segundo, as organizações criminosas são, cada vez mais, globais, tendo suas ramificações mundo afora, rompendo e corrompendo fronteiras. No Haiti, de uma só vez, mais de dois mil presos escaparam da prisão. Ao menos, por lá, a "transparência" é maior. Já por aqui, é mais sutil... Por vezes, fruto do canetaço de magistrados prepotentes, arrogantes e incompetentes. Outras, pela cumplicidade de agentes públicos corruptos a fazerem vistas grossas. O Haiti escancara aquilo que escondemos. A republiqueta centro-americana é a foto nua e crua das mazelas típicas deste malfadado continente, cujas veias não cicatrizam, machucadas que são pela estupidez de uma elite insensível. Abraço!

06/03/24

Ano eleitoral deveria ser beatificado... Milagres acontecem, a cada quatro anos, nas cidades do país. Multiplicam-se os "santos do pau oco", operando "curas" milagrosas. O asfalto que ontem não existia, repentinamente aparece! É verdade que não mais do que uma casquinha, mas o suficiente para sair na foto e aguentar até outubro. Depois? Ah, depois é depois... Afinal, a memória do eleitor é menor do que titica de galinha. Dessa falta de virtude, alimenta-se o larápio, mentiroso, lacaio que ocupa a cadeira do Executivo e da dita "Casa do Povo". É no ano eleitoral que as promessas frutificam, só menos do que os cabides de emprego nas repartições públicas. Caem de paraquedas, da noite para o dia, nas Secretarias, figurinhas jamais vistas noutros tempos. Quem são? Indicação do Fulano, do Beltrano, do Ciclano... Verdadeira farra com dinheiro do contribuinte! O mesmo que, por sinal, reelege o Fulano, o Beltrano e o Ciclano. Triste e lamentável ironia... No ano eleitoral, candidatos até seguram criancinha pobre e ranhenta no colo. Correm atrás do caminhão do lixo, juntam galhos, acolhem animais abandonados, prometem desde telhas e tijolos até vagas em escolas e leitos hospitalares. Negociam com céu e flertam com o inferno. Tudo vale! Escondem a amante, pousam com a legítima e, tal fariseus, oram em alto som nas praças públicas, embalados pelo berimbau e com a mão sobre a Bíblia. O ecletismo religioso ressurge nos corações dos que pleiteiam uma teta gorda no úbere estatal. Ano eleitoral deveria ser beatificado! Abraço.

07/03/24

Venezuela, exemplo para quem? Exemplo de quê? A republiqueta sul-americana, assim como a nossa, é um país rico, mas subdesenvolvido. As riquezas, muito mal distribuídas, perpetuam as vergonhosas desigualdades sociais. Com um Estado a serviço de grupelhos, dando as costas à maioria, especialmente os mais pobres, figura na lista dos mais corruptos. Um governo autoritário, sob o manto de uma falsa democracia, capaz de engambelar imbecis e manter no poder um misto de bizarrice e insanidade. Pobre América Latina... Grande abraço!

08/03/24

Dia Internacional da Mulher! Mais a lamentar do que comemorar, quando voltamos o olhar para maioria dos países, dentre eles o Brasil. Apesar de serem maioria numérica, seguem constituindo uma "minoria" social, pois que discriminadas, por exemplo, no mercado de trabalho. Apesar dos avanços na legislação (por aqui, as leis existem para serem descumpridas, especialmente por aqueles que deveriam dar o exemplo), a realidade das mulheres, geralmente, tem sido dura. Tarefas múltiplas (muitas delas não reconhecidas), violência de toda ordem, pouca ou nenhuma representatividade em postos de decisão, precariedade dos serviços públicos, preconceitos estrutural e institucional... A lista é interminável. Contudo, para não dizerem que não falei de flores, também é momento de reverenciar a cada uma de vocês, MULHERES. Meu abraço especial às mulheres da minha vida e, por meio delas, registro os parabéns a todas minhas queridas amigas.

08/03/24

Só muda o endereço, mas a saga é a mesma! Caos na saúde, educação, segurança, mobilidade, saneamento... Tem sido cada vez mais difícil pinçar um, apenas um, serviço público que esteja dando certo. Sobram discursos e promessas, faltam competência e seriedade por parte dos gestores, em todas as esferas: federal, estaduais e municipais. Quem sofre é, principalmente, a população mais vulnerável, leia-se a maioria. A carga tributária irresponsável, inconsequente e insuportável não corresponde ao que a população recebe em serviços básicos. Apropriação indébita, portanto, por parte do Estado. Crime este somado ao enriquecimento ilícito de uma pequena parcela de agentes públicos encastelados nos Poderes da República. Por vezes, bate uma saudade da guilhotina... Beijo no coração!

10/03/24

LED - Luz na Educação! O Movimento diz buscar e premiar boas iniciativas - projetos e talentos - voltadas à melhoria da educação no Brasil. Válido, sem dúvida. Contudo, absolutamente insuficiente! Afinal, nem de perto traz à tona um dos principais problemas, o da desvalorização social e salarial dos profissionais que atuam nos ensinos público e privado deste país. Não por acaso, as licenciaturas, por exemplo, há muito vêm perdendo clientela e deixando a desejar no que tange à qualidade dos cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior (muitas delas, mera vendedoras de certificados). O que esperar dos "profissionais" formados por elas? Alimenta-se um triste círculo vicioso. Paga-se mal porque a percepção coletiva (por vezes equivocada) é de que o professor "entrega" pouco à sociedade. O educador, por sua vez, muitas vezes, não encontra motivos razoáveis para qualificar seu trabalho. Ao mesmo tempo, alunos e suas famílias, geralmente, entendem como suficiente o "passar de ano", como se isso atestasse qualidade de ensino. É a conhecida história do "faz de conta que ensina, faz de conta que aprende"... Para os gestores, por sua vez, mais vale a aparência! Importantes são os números de "aprovados", "evadidos" e "reprovados", sem nenhum compromisso com a triste e caótica realidade vivida dentro da esmagadora maioria das escolas deste país. Qualquer projeto ou iniciativa que busque a melhoria da qualidade de ensino que não passe pela efetiva valorização do professor estará fadada ao fracasso! Grande beijo no coração, especialmente dos meus abnegados colegas de profissão.

12/03/24

O Avesso da Pele! A obra, escrita por Jeferson Tenório, tem despertado o interesse de muitos (alavancando as vendas, possivelmente, muito além do esperado pelo próprio autor) e levado a uma enxurrada de comentários, favoráveis e contrários, nas redes sociais. Confesso que ainda não a li. Independente disso, entendo (isso vale não apenas para o referido livro, mas toda produção literária) que deva prevalecer o bom senso. Toda produção artística (teatro, cinema, música, literatura, rádio, pintura, etc), presume-se, está voltada a um determinado público, às vezes mais, às vezes menos amplo. Um dos critérios a ser levado em conta, obviamente, é a faixa etária de quem irá consumir o produto (a obra artística atende a lógica do mercado, como qualquer outra mercadoria!). Vale lembrar, inclusive, que existe legislação atinente ao assunto e órgãos que, ao menos em tese, regulam e fiscalizam eventuais abusos do mercado. Não se trata, portanto, de censura mas, isso sim, de resguardar o interesse público, proteger alguns segmentos frente à exposição a determinados produtos que ofereçam risco à saúde física ou psicológica, à formação do sujeito, aos valores éticos, a direitos universalmente defendidos, por exemplo. No caso concreto, há de levar-se em conta algumas perguntas: o tema e a forma de abordá-lo está em conformidade com o público-alvo? Este último sendo formado por menores, o cuidado é, por lei, redobrado! Outra indagação importante: quem pagará pela obra? Envolvendo recursos públicos, o zelo (exigência do próprio ordenamento jurídico) é maior, havendo necessidade de criteriosa análise prévia. Terceira pergunta: a obra será consumida por instituição privada ou pública? Neste último caso, a dita gestão democrática das escolas (quase sempre, mera obra de ficção), em parceria com suas respectivas mantenedoras, deve avalizar ou não a aquisição do material. Não existe, ao contrário do que alguns acreditam, liberdade absoluta. A máxima vale, também, no campo artístico! A matéria precisa ser analisada com um olho na razão e outro na legislação, sem que se dê asas às cegas paixões ideológicas. Ah, deixo registrado que pretendo ler a obra aqui discutida, até porque este país precisa, cada vez mais, de livros e leitores para, quiçá um dia, sairmos deste lamentável quadro político e socioeconômico sombrio que, desde sempre, nos atormenta. Beijo no coração de todos!

14/03/24

Licitação! Tenho chamado atenção para o problema. Mais um escândalo, dentre tantos, envolvendo processo licitatório. As causas para lambança com o dinheiro público são inúmeras. A quase certeza da impunidade, omissão e/ou incompetência dos órgãos internos e externos de fiscalização, indiferença e/ou desconhecimento por parte do contribuinte no que diz respeito ao assunto... Não em menor número ou menos graves são as consequências da farra com os recursos públicos. Não por acaso, o flagrante caos nos serviços básicos prestados à população. Nada, ou quase nada, funciona a contento. Prejuízo enorme na qualidade do atendimento à saúde, educação, assistência social, transporte, ruas e avenidas, áreas de lazer, segurança... Enquanto houver confusão entre interesses público e privado, não haverá saída para o problema. O conluio entre agentes públicos e "empresas" (não raras vezes, organizações criminosas com CNPJ), a visão torpe e estúpida acerca da "política", o loteamento dos espaços públicos com servidores não concursados, o uso de FGs e CCs como moeda de troca para obtenção de votos e/ou apoio de "partidos" - agem como meretrizes (às putas, perdão pela comparação!), vendendo a legenda para quem paga -, ajudam a engrossar o caldo da corrupção. Daí, meus amigos e minhas amigas, a imperiosa necessidade de fazermos uso, por exemplo, do voto. Sirva este como guilhotina a decepar as cabeças daqueles que há muito vêm fazendo do Estado ferramenta para benefício próprio, mantendo a maioria de nossos irmãos à margem da dignidade humana. Beijo enorme no coração!



domingo, 30 de março de 2025

O HOME DA CAPA PRETA

 

O HOMEM DA CAPA PRETA

Alice da Silva Braga

EJA EMEB Fidel Zanchetta – 2024

 

            Quando eu era menina, não tinha luz elétrica, usávamos candeia à base de querosene. Fazíamos quase tudo enquanto havia luz do dia. À noite, sentávamos para ouvir e contar histórias. Minha mãe contava várias (tempo bom esse)...

Uma delas era sobre um homem que usava uma capa longa e preta. Naquela época, os homens se reuniam na venda, para beber e contar causos. Esse homem gostava muito de desafios e os outros o desafiavam a ir no cemitério e pregar um prego num túmulo. Mas não era em qualquer horário, era na madrugada, quando praticamente todos já haviam se recolhido.

Ele entrou no cemitério, logo depois da meia-noite. Calafrios percorriam seu corpo, suas pernas tremiam quase incontrolavelmente. Uma coruja piou, entre os túmulos um tatu se movimentou. Seu sangue gelou nas veias. Era terrivelmente assustador. Onde ele teria que pregar os pregos não era um túmulo qualquer. À época, contava-se causos de um coronel muito malvado, que viveu muitos anos no povoado. Os habitantes morriam de medo só de mencionar o nome dele.

Ele teria que pregar um prego, mas para provar que era muito corajoso resolveu pregar três. Quando foi se aproximando do túmulo, a coragem foi fugindo. Aí veio o pavor, mas como não podia desistir, teve que seguir em frente.

Chegando na hora de pregar os pregos, veio a parte mais difícil, pois suas mãos tremiam muito, mal podendo segurar os pregos. Deu a primeira martelada, a segunda e a terceira... O sangue gelando nas veias, mas finalmente conseguiu.

Terminando a empreitada, ele desesperado queria ir embora. Ao tentar sair, com as pernas trêmulas, não conseguiu... Algo o segurava! Foi então que entrou em pânico, tentou correr desesperadamente, mas sua capa estava presa. O pavor tomou conta dele e, então, caiu.

No dia seguinte, foram procurar por ele e o encontraram morto no cemitério, com a expressão de terror no rosto. Morreu do coração. Tinha pregado a própria capa no túmulo, sem perceber, e achou ter sido uma alma penada que o segurava.

Carimbado com sangue.  

domingo, 12 de janeiro de 2025

RELAÇÕES SOCIAIS E INSTITUIÇÕES DE PODER

 

RELAÇÕES SOCIAIS E INSTITUIÇÕES DE PODER

Prof. Gilvan Teixeira

e-mail: profpreto@gmail.com

Blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

 

 

            Nem sempre é fácil ou prazeroso seguir regras, não é mesmo? Ainda assim, elas são necessárias, indispensáveis numa sociedade, desde as mais simples (povos da floresta, por exemplo) às mais complexas. Obviamente, numa sociedade democrática, as regras precisam ser oportunas, justas, factíveis e necessárias, por exemplo, jamais violando direitos humanos básicos e fundamentais. As principais instituições responsáveis por ditarem as regras são a família (mais antiga dentre todas), a Igreja, o Estado e a escola. Importante lembrar, contudo, que algumas dessas regras são erga omnes (as do Estado) e outras não.

            As regras, assim como quem as dita, passaram e seguirão passando por mudanças. Não surpreende! A família no mundo ocidental, por exemplo, no passado era vista como uma instituição “natural”, “biológica” e “imexível”, diferentemente da concepção moderna que vê a família de forma muito mais ampla, abrindo espaço para as relações monoparentais e homoafetivas, por exemplo. Hoje, a instituição “família” é vista nas chamadas sociedades democráticas como “cultural”, “histórica” e, portanto, “mutável”. Todavia, a família hodierna e a de tempos pretéritos têm em comum o fato de serem espaços “paradoxais”, onde podem preponderar o respeito, o amor e o afeto ou, por outro lado, podem ser fonte de dor e sofrimento. Infelizmente, a maior parte da violação de direitos contra mulheres, idosos e crianças, por exemplo, ocorrem no seio familiar.

            Outra instituição do mundo ocidental que mudou muito foi a Igreja (católica). Deixou para trás o triste, vergonhoso e inaceitável papel que exercia na Idade Média para se tornar – apesar dos inúmeros problemas (dos quais nenhuma denominação religiosa está a salvo, importante dizer) – importante ferramenta de luta pela justiça social.

            As “mudanças nas regras do jogo” institucional acompanham de forma dialética as questões de ordem moral. Exemplo disso é a escravização que, noutros tempos, era tida como aceitável e hoje é vista na maioria dos países como algo hediondo e criminoso. O próprio Estado que a legitimava, impulsionava e, por vezes, patrocinava, também foi se modificando ao longo do tempo. Deixou para trás sua forma “absolutista” e deu lugar ao que conhecemos como Estado de direitos.

            Na construção de uma sociedade democrática têm sido fundamentais as organizações sociais, como os sindicatos, as ONGs e os grêmios estudantis. Apresentam problemas? Claro, sem dúvida, afinal refletem – assim como o Estado, a Igreja, a família, etc. – o que somos enquanto sujeitos e sociedade. Indivíduos e sociedades eivadas de vícios jamais construirão instituições confiáveis, justas e solidárias. A responsabilidade da cidade/estado/país que temos é de cada um e cada uma. Precisamos, como filhos, pais, alunos, professores, empregados, patrões, eleitores, mandatários de cargos públicos, fazer o nosso melhor.

DISCURSO PARANINFO BLOCO 9A 2024/2

DISCURSO PARANINFO BLOCO 9A 2024/2

Prof. Gilvan Teixeira

     Boa noite!

 

     Vinte e dois formandos do Bloco 9A da EJA Semipresencial da EMEB Fidel Zanchetta. No mínimo, vinte e dois excelentes motivos para que, definitivamente, o Ensino de Jovens e Adultos no município de Cachoeirinha seja visto e tratado com seriedade, competência e responsabilidade por quem está à frente da Administração Pública. Afinal, o aluno da EJA é o retrato mais fiel de uma sociedade excludente, que dá as costas para uma infinidade de jovens e adultos, homens e mulheres, que têm em comum – quase sempre – um passado difícil, mas sobretudo um olhar que revela esperança. Aqui, nesta noite, temos vinte e dois exemplos de resiliência, força, dedicação, superação e vontade, muita vontade de vencer. Vinte e duas histórias de vida, cada uma com suas peculiaridades. Por detrás de cada um desses formandos, famílias (pais, mães, irmãos e irmãs, filhos e filhas, além de muitos amigos) que, mesmo indiretamente, contribuíram na jornada. Até porque, importante lembrar, não fazemos história sozinhos, mas com o “outro”. Sim, vinte e duas razões para que nós professores, Orientadora, Supervisora, Diretores e todos os que carregam a escola nas costas, não desistamos, em que pese muitos motivos para fazê-lo. Queridos formandos, vocês dão sentido à escola! É por vocês que seguimos lutando por uma EJA de qualidade, pois acreditamos que somente por meio da educação é que alcançaremos o verdadeiro e pleno desenvolvimento econômico e social.

 

     Meus amados e amadas, chegamos ao final de um ciclo. Não é o primeiro e nem, tampouco, deve ser o último. O “canudo” de conclusão do Ensino Fundamental só aumenta a responsabilidade de cada um e cada uma de vocês, seja na busca de mais escolarização (Ensino Médio, curso técnico ou superior, por exemplo) e/ou de uma melhor oportunidade no mercado de trabalho, seja ainda e sobretudo como cidadãos participativos, críticos, jamais omissos ou acomodados diante das injustiças sociais. Nada cai do céu, não existem “heróis” ou “salvadores da pátria”. A transformação começa por ti, por tuas escolhas. Faça-as bem, portanto!

 

     Finalmente, agradeço o carinho e paciência de vocês com este velho, mas sempre apaixonado Professor. Desejo, de coração, muito sucesso na vida e que carreguem boas lembranças da EJA Semipresencial da EMEB Fidel Zanchetta, que tão bem os acolheu. Deixo aqui, uma homenagem especial ao Prof. José Ricardo Boff e, ao fazê-lo, homenageio todos os profissionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos não apenas em nossa escola, mas no município de Cachoeirinha, inclusive aqueles que – infelizmente – estão sob a ameaça de perderem seus postos de trabalho. Muito obrigado! 

LIBERDADE

 

LIBERDADE

Prof. Gilvan Teixeira

e-mail: profpreto@gmail.com

blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

 

            Somos livres? Difícil responder, até porque existem muitos conceitos para o termo “liberdade”. Apesar disso, importante lembrar que – a contrário dos demais animais – o homem conta com o que chamamos de “capacidade simbólica”, ou seja, não está adstrito apenas à programação genética. É a capacidade simbólica que garante as mais variadas idiossincrasias culturais e nos torna “únicos”. Dela depende a maior parte de nossas ações e todos os “valores” que conhecemos: ética, solidariedade, honestidade, empatia, responsabilidade, alteridade, resiliência, etc..

            Daí a importância, por exemplo, da democracia, pois somente por meio dela uma sociedade garante a pluralidade de ideias e posicionamentos, ainda que estes últimos sejam “desconfortáveis” aos nossos olhos. Infelizmente, nosso país tem sua história marcada pela instabilidade das instituições. Prova disso é a alternância de inúmeras Constituições ao longo de nossa história: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1969 (?) e 1988, sendo que metade delas “outorgadas” (metidas “goela abaixo”). A liberdade, ainda que limitada (sempre o será, de alguma forma...), é uma importante marca das democracias modernas, diferentemente do que ocorre nos países que têm à frente governos autoritários.

            A liberdade jamais é “absoluta”! Exemplo disso é a liberdade de ação. Esta é obstaculizada – às vezes mais, às vezes menos – por questões de ordem natural, material, legal, etc.. Por outro lado, ela também não é “nula”, pois apesar de todas as dificuldades, estas podem ser, ao menos em parte, superadas. A preocupação com aa liberdade de ação é antiga, como podemos ver em pensadores como Hobbes (1588 – 1679) e Locke (1632 – 1704).

            A liberdade de vontade caminha no mesmo diapasão. Até que ponto a vontade é “minha”, “tua” ou “nossa”? Difícil estabelecer o limite entre o que é por assim dizer “autêntico”, personalíssimo, e o que é fruto da vontade alheia, das instituições por exemplo. Aqui, lembramos dois filósofos que se debruçaram sobre o tema: Santo Agostinho (354 – 430) e Sartre (1905 – 1980). Dentro desta questão da liberdade de vontade, importante salientar a influência dos chamados aparelhos repressivos e ideológicos do Estado.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

SOCIOLOGIA: INTRODUÇÃO

 

SOCIOLOGIA: INTRODUÇÃO

Prof. Gilvan Teixeira

e-mail: profpreto@gmail.com

blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

  

            Como podemos definir Sociologia? Uma das formas é aquela que a associa à ciência que estuda a sociedade. Fácil, não é mesmo? Nem tanto... Afinal, a sociedade é algo complexo. Daí a importância da interdisciplinariedade, onde a Sociologia dialoga com outras ciências, como a História (estuda o passado para compreender o presente) e a Geografia (estuda o espaço e nossa ação sobre ele), por exemplo. Até porque – importante lembrar -, tais ciências têm muito em comum, como por exemplo a preocupação e compromisso com o desenvolvimento da cidadania. Esta baseia-se no binômio “conhecimento” e “exercício” dos direitos/obrigações, binômio este quase sempre ausente em nosso país, infelizmente.

            O conhecimento sociológico mostra-se fundamental na compreensão e enfrentamento dos históricos e graves problemas nacionais. Má distribuição de renda, corrupção, precariedade do ensino, insegurança, impunidade, caos na saúde, confusão entre público e privado são algumas das mazelas tão comuns por aqui, mazelas estas que vão muito além do maniqueísmo político-ideológico, direita-esquerda, governo-oposição.

            Apesar de não ser uma ciência “exata”, a Sociologia prima pelo chamado método científico, onde não deve haver espaço para o “achismo” e “senso comum”. O sociólogo não é “neutro”, mas deve buscar a “desfamiliarização” (imparcialidade) em nome do profissionalismo.

FILOSOFIA: INTRODUÇÃO

 

FILOSOFIA: INTRODUÇÃO

Prof. Gilvan Teixeira

e-mail: profpreto@gmail.com

blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


            Muitos são os conceitos para o termo “Filosofia”, dentre eles aquele que a vê como o apego ao conhecimento, a busca incessante para compreensão da existência humana, por demais complexa, fundada num “saber racional”. Para este, a pesquisa permanente é imprescindível, já que a Filosofia não busca respostas definitivas, muito  pelo contrário, ela – por meio da “análise” e da “síntese” – trabalha com a “desconstrução” e “reconstrução” das ditas “verdades”.

             A “desconstrução” filosófica proposta por Heidegger (1889 – 1976), por exemplo, não deve assustar. Não atenta contra a religião ou a moral, apenas lança um olhar reflexivo sobre as mesmas. Objetiva, não destruí-las, mas questioná-las à luz do pensamento racional. O senso comum e suas pretensas verdades representam a principal “matéria-prima” para análise filosófica. Daí o histórico conflito entre a Filosofia e os governos autoritários, já que estes últimos tendem a atacar qualquer pensamento crítico que os conteste ou desabone.

            A Filosofia que normalmente trabalhamos em aula é a da vertente ocidental, tendo na Grécia Antiga um de seus principais expoentes. Antes dela, os homens buscavam explicar seus dilemas existenciais por meio da mitologia que, por sinal, teve importante papel na construção do pensamento humano. A Filosofia – por meio do pensamento lógico e racional – buscou outros caminhos (que não o dos “deuses”) para compreensão do homem e da natureza. É bem verdade que o rompimento dos limites da “caverna” (ver Platão, 428-347 a.C.) não é tarefa fácil, pois exige coragem e determinação.

            A Filosofia não é mito e nem tampouco ciência. Ela é uma espécie de “devir”, um eterno “perguntar”. Como bem diz Cortella (1954 - ...), a principal marca da Filosofia é o “carimbo da interrogação”, lida com os “porquês” e não com os “como” (ciência). Daí sua importância, por exemplo, numa verdadeira democracia. O pensamento filosófico dialoga com o diferente, com o aparentemente contraditório, numa incessante busca da verdade. O verdadeiro filósofo precisa e valoriza o outro, pois é na intersubjetividade que nos constituímos como sujeitos.