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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

A LÁPIDE

 

A LÁPIDE

Prof. Gilvan Teixeira

e-mail: profpreto@gmail.com

blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


Não se faz mais lápide como antigamente… Os mais jovens sequer sabem do que se trata. A lápide moderna, se presente, quando muito traz os limites cartoriais da vida: nascimento e morte. Não mais do que isso. Tamanha pobreza quiçá revelando uma vida banal, morna, sem instantes capazes de merecerem um texto, uma frase ou mesmo uma singela palavra. Revela, talvez, a incapacidade de quem fica em reconhecer, por meio de palavras póstumas, os valores e atributos de quem partiu. Mesmo quando talhados, os adjetivos sobre a lápide soam frios como a própria pedra, frieza esta ou produto da simbiose entre as letras e a tábula mortuária, ou fruto da formalidade vazia de sentimento. Uma espécie de vale de ossos secos! Nada mais (in)apropriado para um cemitério… Sou daqueles que acreditam que a lápide deveria ser erigida em vida e para os vivos. São estes que sentem, veem, ouvem, cheiram, sorriem, choram… São estes que, por meio da palavra, do afeto, da acolhida e do reconhecimento podemos salvar das tristes garras da dolorosa depressão. São estes que, por meio da palavra (ela tem poder!), podemos abençoar, animar, fortalecer, elogiar… São estes, que por meio da palavra, podemos transformar (e nos transformar!), apontar novos caminhos, construir as pontes que ligam os sonhos à realidade. A palavra é tudo! Ela constrói e destrói, faz brotar e aniquila, eleva e sepulta… Portanto, precisa ser garimpada, cuidadosamente selecionada, dado o valor e importância que tem. Deve coroar vidas e abrilhantar relacionamentos, muito mais do que – feito vasos de flores mortas – dormir esquecida sobre a pedra fria de uma lápide.

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