Silenciada
Thaíse Stecker Andrade
Este "blog" objetiva servir de ferramenta de pesquisa e de diálogo constante com o público. Os textos são originais e trazem o ponto de vista do autor acerca de inúmeras temáticas. Boa leitura!
Silenciada
Thaíse Stecker Andrade
ALGODÃO
ENTRE CRISTAIS
Prof. Gilvan
Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
A frase do Ministro Marco Aurélio Mello, do STF,
quando da discussão acerca de sua decisão irresponsável, que levou à soltura de
um grande traficante, é emblemática. Dirigindo-se ao Presidente da Corte, disse
que o mesmo deveria ser como “algodão entre cristais”. Como devemos interpretar
a fala do Ministro (com letra maiúscula, para não ofendê-lo...)?
Corporativista, arrogante, presunçosa... O certo é que o “ato falho” deixa às
claras como ele – assim como a maioria de seus pares – se vê. A postura do
Excelentíssimo Ministro é da mesma linhagem do “você sabe com quem está falando?”
(DaMatta), típica de um país ainda preso a um passado colonial e escravista,
onde a vez e a voz pertenciam (passado?) aos coronéis. Curiosamente, foi o
Digníssimo Ministro indicado pelo primo, sabidamente um descendente dos
coronéis de Alagoas. Com a devida vênia, quiçá, pura “coincidência”. A Suprema Corte, que deveria reunir o que há
de melhor e mais competente na carreira da magistratura, é a cara de um Brasil ainda
oligárquico, onde uma ínfima minoria goza de privilégios – ainda que sob a
roupagem de legalidade (quem faz as leis?) – sustentados por uma maioria que há
muito vegeta na penúria, na falta de oportunidades, na omissão criminosa de um
Estado mastodôntico e ineficiente. Para que os “cristais” e “algodões” (farinha
do mesmo saco, pois fosse no universo da periferia tal conluio seria tipificado
como “organização criminosa”) existam, há que se ter, no mínimo, quem os
reconheça como tais, que os valorize como tais. Que sociedade é esta onde os “cristais”
valem mais do que aqueles que os pagam? Não terá passado da hora de colocarmos
os “pingos nos is”, os “bois na frente da carreta” e os “cristais” em seu devido
lugar? Dizem que uma omelete só faz quebrando os ovos. Não será o momento de
quebrarmos os “cristais” para que entendam a quem, de fato, pertencem? O
escárnio nascido no pomposo Plenário da Suprema Corte não surpreende, mas
apenas revela o quanto estamos distantes do verdadeiro sentido do que seja um “servidor
público”. Como bem lembra Cortella, “um poder que se serve, em vez de servir, é
um poder que não serve”. A presente Corte não serve, pois que fruto de
indicações políticas e descompassada com os novos tempos. Um STF incapaz de
compreender o real sentido e utilidade do garantismo, cego pelo brilho dos “cristais”
como se estes últimos fossem um fim em si mesmos. Uma Corte mais preocupada com
as ignóbeis vaidades pessoais (e dos grupos aos quais representam) e perdida em
verborreias jurídicas vazias (a palavra é poder) do que com a aplicação da
justiça. Seja o Supremo o farol último do bom Direito e não o covil daqueles
que buscam a impunidade. Torço pelo dia em que os verdadeiros “cristais” ocupem
as confortáveis cadeiras da Corte, refletindo não o brilho de egos, mas de um
povo sadio, próspero, feliz e confiante em suas instituições.
PROFESSOR
Prof. Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
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Ser professor neste país é, por um lado,
algo inglório. Uma profissão marcada por incontáveis e complexos problemas.
Escolas precarizadas, péssimas condições de trabalho, indisciplina escolar,
descompromisso das famílias, salários vexatórios, falta de reconhecimento
social (discurso não é suficiente…), políticas públicas equivocadas ou
inexistentes, sindicatos fragilizados pelos mesmos vícios que alegam combater…
Enfim, um infindável rol de intempéries e dissabores. Como nada é tão ruim que
não possa piorar, a pandemia agravou – ainda mais – o quadro. Por outro lado,
ser professor é extraordinariamente maravilhoso… Há cerca de vinte e oito anos
(com um pé na aposentadoria…) leciono, seja em escolas privadas (desde 1992),
ou públicas (a partir de 1994), sempre com uma jornada de trabalho extenuante,
como forma de garantir uma renda minimamente suficiente para garantir à família
(sim, professor tem família!) algum conforto, ainda que singelo. Durante todo
esse tempo, passaram por este velho professor milhares de alunos e alunas,
incontáveis pais, muitos colegas de profissão… Sem dúvida, as boas lembranças
superam, de longe, as más. Muito mais aprendi do que ensinei. Aprendi que não
se faz boa educação sem formação de vínculos, estes imprescindíveis no processo
ensino-aprendizagem. Quantas relações firmadas e assentadas no afeto, no
respeito, na cobrança (quem ama, exige…), na partilha. Quantos homens e
mulheres forjados no ambiente da escola. Feito estrelas, estão por aí,
brilhando como acadêmicos, pais, profissionais de toda ordem. Espero que, acima
de tudo, brilhando como cidadãos questionadores sobre si mesmos e sobre o mundo
confuso e turbulento que os (nos) rodeia. Ser professor é teimar em acreditar
na possibilidade de mudarmos o status quo perverso que alija a maior
parte de nossa gente. É crer no poder da educação como ferramenta de
transformação social e subversão de uma (des)“ordem” que aliena, cria e reforça
a desigualdade entre as pessoas. É debater-se contra um Estado que,
historicamente, anda de mãos dadas com uma elite boçal, atrasada e acostumada a fazer do bem público algo privado. É tensionar as famílias a assumirem seu
compromisso como principais responsáveis pela formação ética do sujeito.
Parafraseando um célebre escritor, o professor é, antes de tudo, um forte! Mais
do que isso, é um “norte” em meio ao encapelado mar, onde as enormes ondas da
desesperança, da indiferença, do preconceito, do autoritarismo – ainda que sob
uma roupagem de democracia – se lançam contra a poesia que nasce do coração
daqueles que creem e lutam por dias menos sombrios. Um abraço no coração de
todos meus alunos e ex-alunos, e em especial no de meus colegas de profissão.
A LÁPIDE
Prof. Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Não se faz mais lápide como antigamente… Os mais jovens sequer sabem do que se trata. A lápide moderna, se presente, quando muito traz os limites cartoriais da vida: nascimento e morte. Não mais do que isso. Tamanha pobreza quiçá revelando uma vida banal, morna, sem instantes capazes de merecerem um texto, uma frase ou mesmo uma singela palavra. Revela, talvez, a incapacidade de quem fica em reconhecer, por meio de palavras póstumas, os valores e atributos de quem partiu. Mesmo quando talhados, os adjetivos sobre a lápide soam frios como a própria pedra, frieza esta ou produto da simbiose entre as letras e a tábula mortuária, ou fruto da formalidade vazia de sentimento. Uma espécie de vale de ossos secos! Nada mais (in)apropriado para um cemitério… Sou daqueles que acreditam que a lápide deveria ser erigida em vida e para os vivos. São estes que sentem, veem, ouvem, cheiram, sorriem, choram… São estes que, por meio da palavra, do afeto, da acolhida e do reconhecimento podemos salvar das tristes garras da dolorosa depressão. São estes que, por meio da palavra (ela tem poder!), podemos abençoar, animar, fortalecer, elogiar… São estes, que por meio da palavra, podemos transformar (e nos transformar!), apontar novos caminhos, construir as pontes que ligam os sonhos à realidade. A palavra é tudo! Ela constrói e destrói, faz brotar e aniquila, eleva e sepulta… Portanto, precisa ser garimpada, cuidadosamente selecionada, dado o valor e importância que tem. Deve coroar vidas e abrilhantar relacionamentos, muito mais do que – feito vasos de flores mortas – dormir esquecida sobre a pedra fria de uma lápide.
DIA DO VEREADOR
Prof. Gilvan Andrade
Teixeira
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profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Dia 01 de outubro! Alguém sabia
tratar-se do Dia do Vereador? Não,
provavelmente! Afinal, que espécie é essa? Quase sempre um misto de
sanguessuga, fantasma e porco. Sanguessuga porque exaure boa parte dos
recursos públicos, sem – nem de perto – fazer a contraprestação daquilo que
recebe. Geralmente ganha mais (muito mais…) do que professores, policiais e
profissionais da saúde, por exemplo, em que pese – muito comumente – ser boçal
e pouco dado ao trabalho. Apesar de bizarro, dá um braço (não o dele, mas o de
outrem) para aparecer na foto. Costuma sair da toca de quatro em quatro anos,
em busca do voto do eleitor, quase sempre um incauto analfabeto político,
destituído de memória e alijado da verdadeira cidadania. Daí o Vereador
parecer, também, fantasma. Vez por outra, abandona seu túmulo (opa,
gabinete!) na busca desesperada do famigerado “apoio popular”, pois que é a
seiva que o alimenta. Para isso, conta com um séquito de CCs a dividirem o
tempo entre bajulações – indispensáveis para manutenção dos cargos – e a
estúpida sacudidela das bandeiras em período de campanha. Este, por sinal, é um
dos raros momentos em que, feito porco, a dita espécie abandona a
pocilga e vai para a rua. Veste-se como povo, fala como povo, comporta-se como
povo, mas cheira a porco. É titubear, lá está ele a emporcalhar-se com seus
velhos hábitos do chiqueiro. Sobra discurso e falta ação. Sobram alianças
espúrias e falta coerência. Ontem advogava para a raposa, hoje veste pele de
cordeiro. Passou da hora de fazermos da Câmara a “casa do povo”, de todo o
povo, não desta ou daquela família (algumas delas, feito baratas, a ocuparem
postos estratégicos em todos os cantos e frestas do Poder Público). Passou da
hora de termos na Câmara homens e mulheres comprometidos com as demandas
sociais. Representantes que honrem o voto recebido e sejam porta-vozes dos
segmentos que os elegeram. Passou da hora de repensarmos o número de
vereadores, a quantidade de recursos públicos a eles destinados, os salários a
eles pagos. Façamos do voto uma poderosa ferramenta de mudança. Expurguemos da
vida pública as sanguessugas, os fantasmas e os porcos, ainda que mimetizadas
em forma de “pessoas de bem”. Faça da urna a pira da mudança, onde sejam
queimadas todas aquelas práticas condenáveis que têm, ao longo da história,
trazido tanta dor e desesperança. Por meio de teu voto, qualifique o
Legislativo. A escolha de um nome para vereança é tão livre quanto séria,
repercutindo diretamente sobre tua vida, o bem-estar de quem amas e sobre o
futuro de tua cidade. Passado o pleito, vem o mais difícil: acompanhar de perto
o trabalho não apenas de quem escolheste para te representar, mas de todos os
vereadores. A Câmara, meus amados, é a TUA casa. Portanto, cuide dela e a
mantenha limpa das “infestações”. Exija de teu candidato e, quem sabe, futuro
vereador, coerência, ética, competência, honestidade, compromisso com o bem
público... Vale lembrar que a democracia não é algo dado, mas construído. O que
semeares hoje, por certo, colherás amanhã. Deposite na urna boas sementes,
donde nasçam ROSAS e não sanguessugas, fantasmas ou porcos...