O ESTADO E A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Prof. Gilvan
Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
A distribuição de renda é, sem dúvida, um importante
– senão o principal – fator para o desenvolvimento social de um país. Não por
acaso, é considerada a característica marcante a definir se um Estado insere-se
no rol dos países do Norte (mundo desenvolvido) ou do Sul (mundo
subdesenvolvido). Tem ela relação direta com o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH), índice este que permite medirmos, claro que não de maneira absoluta, a
qualidade de vida de um país. O Brasil, apesar de ser uma das maiores economias
da Terra, segue na vergonhosa lista dos países de pior distribuição das
riquezas, onde uma pequena parcela da população detém uma grande “fatia”
daquilo que o país produz, enquanto a esmagadora maioria de nossa gente segue à
margem dos serviços básicos de qualidade: saúde, segurança, educação,
transporte, saneamento, moradia, lazer... Fere-se, no Brasil, não apenas aos
direitos constitucionais, mas à dignidade da pessoa humana, tudo sob o olhar
omisso de um Estado que, historicamente, tem se mostrado subserviente aos
interesses das elites.
A história do Brasil está marcada pela incapacidade
do Estado em propiciar uma justa, permanente e significativa distribuição da
renda nacional. A independência frente a Portugal, em 1822, foi, sobretudo,
“formal”, afinal as pérfidas estruturas socioeconômicas a privilegiarem apenas
alguns poucos seguiram sendo a tônica durante o governo monárquico (1822-1889).
A escravidão, o latifúndio, a pífia participação política, o coronelismo, a confusão
entre público e privado continuaram preponderando. O advento da República
(1889) foi incapaz de subverter as referidas estruturas, prova disso foi a
vexatória política do “café-com-leite” que alijava da participação política, no
cenário nacional, quase todos os entes da frágil “federação”. Éramos, à época,
o país do voto de cabresto, da marginalização da mulher e da inexistência de
qualquer legislação que salvaguardasse, de maneira efetiva, os direitos
trabalhistas. Mesmo os avanços trazidos pelos governos posteriores (especialmente,
Getúlio e Juscelino) – como a universalização do voto, a Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT) e as conquistas no campo econômico, foram insuficientes para
alavancar uma profunda melhoria na qualidade de vida da maioria da população. A
Ditadura Militar (1964-85), como era de se esperar, pouco ou nada contribuiu
para tirar o Brasil do rol de países subdesenvolvidos, situação agravada,
ainda, pelo cerceamento dos direitos mais elementares.
A famigerada “Abertura” e a volta à aparente
(fictícia, por vezes...) democracia, na prática, tem representado a permanência
de muitos dos antigos grupos (elites) no poder. Alguns nomes e famílias vêm se
perpetuando nos postos-chave decisórios, status
quo que segue alimentando a injusta distribuição de riquezas neste país. O
uso da máquina pública (Estado) para obtenção de vantagens pessoais (ou de
grupos) permanece, maculando a imagem do Brasil junto à população e à
comunidade internacional. Somos conhecidos como o país da corrupção, da
vantagem indevida, do “jeitinho”, do aniquilamento da ética e do mais profundo
e atávico “analfabetismo político”. Por outro lado, é preciso que se diga que,
algumas ações vêm sendo feitas no sentido de “transferir” renda para a
população menos favorecida. São algumas políticas de Estado (portanto, ao
contrário das de “governo”, têm o caráter duradouro e permanente) que buscam
mitigar as desigualdades sociais. Inserem-se nelas as chamadas “políticas
afirmativas” (sistema de “quotas” nas universidades, inserção das pessoas com
deficiência no mercado de trabalho, geração de renda, etc.), iniciativas estas,
comumente, eivadas de críticas por parte daqueles que veem em tais “políticas”
não mais do que medidas de cunho “eleitoreiro”.
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