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terça-feira, 1 de julho de 2014

AS PEDRAS DE DAVI


AS PEDRAS DE DAVI
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Certa feita, tive o privilégio de ouvir numa reunião de escola alguém falar das pedras de Davi. Quais são as “pedras” que temos escolhido para lançarmos em direção ao “Golias” que, a todo instante, atravessa nossa vida? Têm sido as pedras certas? Têm sido as pedras apropriadas? Temos assistido levas e levas de homens e mulheres, de todas as idades, condições socioeconômicas das mais diversas, instruídos ou não, religiosos ou agnósticos, enfim, miríades e miríades a usarem de pedras que mais parecem bumerangues, onde a grande vítima acaba por ser aquele que as lançou. Enquanto isso, o algoz se fortalece. Ao invés de um, passam a ser dois, três, quatro incontáveis e intermináveis problemas... A seiva que, talvez, já não fosse intensa, esvai-se ainda mais. O inimigo se fortalece. Por que há tantos que lapidam a si mesmos? Apedrejam-se? Voltam-se contra as próprias entranhas? Alimentam tumores do corpo e da alma? Espantam o sono e afugentam os sonhos? Homens e mulheres tristes e entristecedores. Contam nos dedos os momentos de felicidade e fazem vistas grossas à vida que brota a cada instante, em cada canto, em cada sorriso, em cada abraço. Pais que sofrem e fazem sofrer a prole, negando a esta o norte ou fazendo da paternidade uma espécie de roleta russa, onde – salvo os poucos lampejos de sorte – a droga, a indolência, a indisciplina e a morte espreitam e comprometem o futuro. Homens e mulheres que fazem da depressão uma espécie de moda, garganteando a dependência terapêutica e farmacológica. Entregam-se a um mundo de “faz-de-conta”, marcado pelo consumismo doentio e árido de valores perenes. Homens e mulheres que esperam do Estado, dos “outros” (amigos ou não) e dos filhos aquilo que jamais cultivaram. É crível que o lavrador colha o que jamais semeou? Qual é o Golias que desejamos enfrentar? Qual sua real força e tamanho? Quem o alimenta e de que forma? Não será ele, no fundo, a sombra ampliada por nós produzida? Onde reside a maior ameaça, no tamanho do inimigo à nossa frente ou na imagem que dele fazemos? Pedras, há muitas. Tamanhos, formas e cores das mais variadas. Talvez estejamos escolhendo as erradas, as mais (ou menos) acessíveis, as mais (ou menos) pesadas, as pouco resistentes... Urge certa dose de sabedoria para escolhê-las. Por que não ouvir a voz do coração? Por que não dar espaço ao silêncio que instrui? Por que não apostar no amor? Por que não confiar? Por que não dobrar-se sobre os joelhos e chorar? Por que não entregar-se à humildade? O verdadeiro gigante, quem é? Pertence a quem o nosso destino? Qual é o tamanho e o foco de nossos sonhos e desejos? Façamos das pedras poderosas armas, matérias-primas para edificação de estradas que apontem para um ser humano melhor. Pedras a adornarem mosaicos formados de solidariedade, ética, respeito, alteridade... Cumpram elas outro papel que não o de nossa lápide, sob o olhar zombeteiro e triunfal de Golias.  

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http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=15a5e23b06547be090f6492519efb78a

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