PIOR!
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com.br
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Estou ficando velho. Sou de um tempo em que “pior”
significava exatamente isto: “pior”. Era pura e simplesmente o antônimo de
“melhor”. Simples assim. Apesar de um tanto que maniqueísta, trazia uma enorme
dose de tranquilidade à minha geração. Era o tempo em que gozávamos, ao menos
aparentemente, de uma boa dose de estabilidade nas relações. A decantada
“segurança jurídica” vinha, por vezes, mais da palavra dita ou do fio do bigode
do que propriamente da letra – hoje morta – dos dispositivos legais. Deliciávamo-nos
em nossas “zonas de conforto”, mesmo que para isso recebêssemos a pecha de tradicionais,
reacionários ou corolas. Ao menos era preto no branco. Pouca ou nenhuma margem
para dúvidas. A desconfiança, quase sempre, passava de largo. Tempo em que era
o pai falar e pronto! As cãs se confundiam à autoridade. Tempo de ximango ou
maragato. Homem ou mulher. Governo ou oposição. Trabalhador ou vagabundo.
Hoje os tempos, ao que parece, são outros. As
pretensas certezas deram lugar a um relativismo vazio. A palavra perdeu seu
encantamento, enquanto as relações mais fazem lembrar um vale de ossos secos. O
tempo, hoje, é o da entronização não da criança, mas de seus caprichos e
vontades. Tempo em que os adultos se veem subjugados por seus pupilos. Tempo em
que as ideologias – sob o efeito de um progressivo mimetismo – sucumbiram em
nome de uma falsa governabilidade. Tempo em que o “fala sério!” nada mais é do
que uma expressão desafiadora, irônica e debochada. Pessoas e relações são
negociáveis, enquanto os contatos, feito a temperatura gélida dos cadáveres,
são frios e inconstantes. Mudam na mesma velocidade dos dedos sobre as teclas
dos tablets, notebooks e Ifones. Todos,
hoje, dizem “amar”: o larápio, o assassino, o déspota, o adúltero, o pedófilo.
Banalizou-se de tal forma a expressão, que hoje nada diz. Quando muito é capaz
de render alguns mimos ou algumas carícias fugazes. Sem compromisso, sem
envolvimento, sem expectativas... Vive-se tão-somente o presente.
Estou ficando velho. Sinto saudade da vida simples.
Faz-me falta o arroz e o feijão. O cheiro da lenha queimada, as palmas do
carteiro com a missiva esperada, as histórias contadas ao cair da noite, o pulo
do gafanhoto, o pisca-pisca dos vagalumes. Saudade de quem partiu. Não sei se é
a idade ou, quem sabe, a morte que se avizinha. Talvez, ainda, os efeitos do
enrijecimento das articulações ou da flacidez das emoções. Coisas da velhice. A
tolerância, quiçá, se fora com o tempo. Com ela, a facilidade do convívio com
as diferenças. Caduquice! Não pertenço, talvez, a este mundo. Sou de outro
tempo, o da poesia e da boemia. Pareço conjugar o verbo no pretérito. Para
alguns, sandice. Para outros tantos, pieguice. No fundo, só saudade, profunda e
agridoce saudade. Estou ficando velho!
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