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terça-feira, 23 de abril de 2013

PIOR !



PIOR!
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

                Estou ficando velho. Sou de um tempo em que “pior” significava exatamente isto: “pior”. Era pura e simplesmente o antônimo de “melhor”. Simples assim. Apesar de um tanto que maniqueísta, trazia uma enorme dose de tranquilidade à minha geração. Era o tempo em que gozávamos, ao menos aparentemente, de uma boa dose de estabilidade nas relações. A decantada “segurança jurídica” vinha, por vezes, mais da palavra dita ou do fio do bigode do que propriamente da letra – hoje morta – dos dispositivos legais. Deliciávamo-nos em nossas “zonas de conforto”, mesmo que para isso recebêssemos a pecha de tradicionais, reacionários ou corolas. Ao menos era preto no branco. Pouca ou nenhuma margem para dúvidas. A desconfiança, quase sempre, passava de largo. Tempo em que era o pai falar e pronto! As cãs se confundiam à autoridade. Tempo de ximango ou maragato. Homem ou mulher. Governo ou oposição. Trabalhador ou vagabundo.

                Hoje os tempos, ao que parece, são outros. As pretensas certezas deram lugar a um relativismo vazio. A palavra perdeu seu encantamento, enquanto as relações mais fazem lembrar um vale de ossos secos. O tempo, hoje, é o da entronização não da criança, mas de seus caprichos e vontades. Tempo em que os adultos se veem subjugados por seus pupilos. Tempo em que as ideologias – sob o efeito de um progressivo mimetismo – sucumbiram em nome de uma falsa governabilidade. Tempo em que o “fala sério!” nada mais é do que uma expressão desafiadora, irônica e debochada. Pessoas e relações são negociáveis, enquanto os contatos, feito a temperatura gélida dos cadáveres, são frios e inconstantes. Mudam na mesma velocidade dos dedos sobre as teclas dos tablets, notebooks e Ifones. Todos, hoje, dizem “amar”: o larápio, o assassino, o déspota, o adúltero, o pedófilo. Banalizou-se de tal forma a expressão, que hoje nada diz. Quando muito é capaz de render alguns mimos ou algumas carícias fugazes. Sem compromisso, sem envolvimento, sem expectativas... Vive-se tão-somente o presente.

                Estou ficando velho. Sinto saudade da vida simples. Faz-me falta o arroz e o feijão. O cheiro da lenha queimada, as palmas do carteiro com a missiva esperada, as histórias contadas ao cair da noite, o pulo do gafanhoto, o pisca-pisca dos vagalumes. Saudade de quem partiu. Não sei se é a idade ou, quem sabe, a morte que se avizinha. Talvez, ainda, os efeitos do enrijecimento das articulações ou da flacidez das emoções. Coisas da velhice. A tolerância, quiçá, se fora com o tempo. Com ela, a facilidade do convívio com as diferenças. Caduquice! Não pertenço, talvez, a este mundo. Sou de outro tempo, o da poesia e da boemia. Pareço conjugar o verbo no pretérito. Para alguns, sandice. Para outros tantos, pieguice. No fundo, só saudade, profunda e agridoce saudade. Estou ficando velho!

Veja também:
http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=5d7bee5883f183768eb0c203cce78b74 

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