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quinta-feira, 28 de março de 2013

BRINCAR: UM DIREITO FUNDAMENTAL



BRINCAR: UM DIREITO FUNDAMENTAL
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

“1 – Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística.
2 – Os Estados Partes promoverão oportunidades adequadas para que a criança, em condições de igualdade, participe plenamente da vida cultural, artística, recreativa e de lazer”.
(Art. 31 da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança)[1]

                Para criança, brincar é tudo. Brincar socializa, aproxima, solidariza, vincula, valoriza. Na brincadeira, a criança desenvolve aptidões, habilidades, virtudes, valores de toda sorte. Brincando, a criança aprende, ensina, compartilha, assimila. O brincar afugenta a tristeza e mitiga as dores da alma. Brincando, a criança se reconhece e reconhece o outro. No ato de brincar, por mais singelo que seja, o mundo se transforma sob os olhos de quem brinca. A dor, o descaso e ausência dos pais, a indiferença, a omissão do ente público, como que desaparecem. Dão lugar à imaginação, à esperança, à alegria, ao sorriso. Vilões viram heróis. Ganha asa não apenas o bonequinho sem pernas e sem braços, mas a imaginação. Na roda das brincadeiras, todos são bem-vindos. Nela, a inclusão deixa de ser letra-morta e ganha vida. O cego vai à frente, o mudo rege a algazarra e o autista, feito o vento, corre e se diverte com os amigos, às vezes, imaginários. Na brincadeira tudo parece real. A areia da pracinha vira mar e folhinha quedada da árvore serve de alimento às bonequinhas de todos os tipos e tamanhos. Guris e gurias dividem por vezes os mesmos espaços e com alguma frequência disputam os mesmos brinquedos. Dialética saudável e necessária. Embate construtivo. Matéria-prima da própria construção da identidade. Brincando, a criança ao sujar as mãos e as roupas cria “anticorpos” frente às vergonhosas máculas tão comuns no mundo dos “adultos”. Engodo, corrupção, ódio passam de largo nas brincadeiras. Nestas, a aparente mentira não passa de fantasia, enquanto o rostinho cabisbaixo denota não mais do que uma dor de barriga. A brincadeira colore o mundo. Dá vida ao lugar e preenche os vazios. Até os objetos, por mais inanimados que sejam, parecem latejar, feito o pulsar do coração. Na brincadeira não há lugar para tristeza. É o guri “morrer” diante do ataque inimigo, logo levanta como que por milagre, e retoma – mais intensa do que antes – a correria. O que para os adultos, infelizes em sua maioria, não passam de gritos estridentes, são na verdade atestados de vida naquele lugar. A brincadeira revigora, cura e fortalece a autoestima. Nem mesmo as enfermidades, por mais graves que sejam, resistem à brincadeira. A dor foge quando diante do sorriso. Imaginem frente à gargalhada! Na brincadeira, a aprendizagem se perpetua e torna o processo prazeroso, doce feito pirulito e balas de goma. Uma delícia. Verdade que tem adulto que não gosta e prefere comer jiló. Brincar é tudo!



[1] A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança – Carta Magna para as crianças de todo o mundo – em 20 de novembro de 1989, e, no ano seguinte, o documento foi oficializado como lei internacional. A Convenção sobre os Direitos da Criança é o instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal. Foi ratificado por 193 países, entre eles o Brasil (fonte: http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10120.htm)

Um comentário:

  1. Como sempre, mais um texto brilhante e que inspira a reflexão.

    Parabéns e obrigado por partilhar, amigo.

    Abraço grande.

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