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quarta-feira, 27 de março de 2013

PORTA-TRECOS



PORTA-TRECOS
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com


                Cachoeirinha parece ter descoberto o “ovo de Colombo”. Ouvi dizer que já se discute entre os excelentíssimos vereadores a implantação de porta-trecos nas agências bancárias da cidade. A ideia parece genial. Nem poderia ser diferente, vindo de pessoas “feitas para brilharem”... Sensacional a iniciativa. Imaginem poder livrar-se dos “trecos” de todos os tipos e tamanhos já na entrada do banco. Guarda-chuva, relógio, correntes, marca-passo... Sim, porque tudo é motivo para disparar o maldito alarme sonoro. É duvidar, passamos a desconfiar de nossas próprias intenções. Por que mesmo queremos passar pela quase intransponível porta? Feito malfeitores, ficamos à mercê da boa vontade dos seguranças. É antipatizar com nosso jeito, nossas vestes, nossos “trecos”, nossa estatura, nossa cor, nosso cabelo... Batata! Logo o sinal dispara. Do lado de cá os “suspeitos”, enquanto do outro lado os que conseguiram transpor as portas, cada vez mais herméticas, do céu. Não sabem os últimos o que os aguarda. Soubessem eles que é do lado de dentro que mora o perigo. Ali serão assaltados e extorquidos pelas taxas bancárias, juros estratosféricos e sórdidas multas. Sem falar na interminável fila que os espera. Tudo sob o olhar omisso e complacente do Poder Público. Enquanto os caixas forram o interior com as notas de todos os calibres, lá fora Cachoeirinha segue agonizante. Saúde, educação, saneamento, transporte público, mobilidade urbana, segurança... Verdadeiro caos. Salvo algumas “ilhas”, onde o tempo e a vida parecem escoar diferentemente. A Câmara parece ser uma delas. Por lá, ao que parece, o mal não dá as caras. Não tem porta giratória. Só gente de bem. Homens e mulheres bem trajados e de passos elegantes. Olhares altivos que nos fazem parecer um... um... um ninguém. Todo aquele séquito de assessores, estagiários, CCs, permutados, protegidos só aguçam a sensação do quanto somos vil. É bem verdade, contudo, que lá não se faz necessário um porta-trecos. Nos bancos, ao contrário, tudo indica que a iniciativa florescerá. Uma “saída” para a dificuldade de “entrada”. Tão contraditório quanto real. Estamos nos especializando em criar formas de escapolir dos problemas. O Legislativo – assim como os demais Poderes – tem sido pródigo em produzir risíveis “pérolas”, inflacionando o já obeso e mastodôntico ordenamento jurídico. Por que tensionar e exigir que o Estado e os bancos cumpram com suas obrigações junto aos munícipes se no interior das agências é possível instalar porta-trecos? Ao que parece, as portas giratórias – que mais fazem lembrar uma roleta russa a espreitar a próxima vítima – seguirão apitando, anunciando o provável ladrão (nós!) e ensejando belas iniciativas do Parlamento deste Município. 

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