PORTA-TRECOS
Gilvan
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profgilvanteixeira.blogspot.com
Cachoeirinha parece ter descoberto o “ovo de
Colombo”. Ouvi dizer que já se discute entre os excelentíssimos vereadores a
implantação de porta-trecos nas agências bancárias da cidade. A ideia parece
genial. Nem poderia ser diferente, vindo de pessoas “feitas para brilharem”...
Sensacional a iniciativa. Imaginem poder livrar-se dos “trecos” de todos os
tipos e tamanhos já na entrada do banco. Guarda-chuva, relógio, correntes,
marca-passo... Sim, porque tudo é motivo para disparar o maldito alarme sonoro.
É duvidar, passamos a desconfiar de nossas próprias intenções. Por que mesmo
queremos passar pela quase intransponível porta? Feito malfeitores, ficamos à
mercê da boa vontade dos seguranças. É antipatizar com nosso jeito, nossas
vestes, nossos “trecos”, nossa estatura, nossa cor, nosso cabelo... Batata!
Logo o sinal dispara. Do lado de cá os “suspeitos”, enquanto do outro lado os
que conseguiram transpor as portas, cada vez mais herméticas, do céu. Não sabem
os últimos o que os aguarda. Soubessem eles que é do lado de dentro que mora o
perigo. Ali serão assaltados e extorquidos pelas taxas bancárias, juros
estratosféricos e sórdidas multas. Sem falar na interminável fila que os
espera. Tudo sob o olhar omisso e complacente do Poder Público. Enquanto os
caixas forram o interior com as notas de todos os calibres, lá fora
Cachoeirinha segue agonizante. Saúde, educação, saneamento, transporte público,
mobilidade urbana, segurança... Verdadeiro caos. Salvo algumas “ilhas”, onde o
tempo e a vida parecem escoar diferentemente. A Câmara parece ser uma delas.
Por lá, ao que parece, o mal não dá as caras. Não tem porta giratória. Só gente
de bem. Homens e mulheres bem trajados e de passos elegantes. Olhares altivos
que nos fazem parecer um... um... um ninguém. Todo aquele séquito de
assessores, estagiários, CCs, permutados, protegidos só aguçam a sensação do
quanto somos vil. É bem verdade, contudo, que lá não se faz necessário um
porta-trecos. Nos bancos, ao contrário, tudo indica que a iniciativa
florescerá. Uma “saída” para a dificuldade de “entrada”. Tão contraditório
quanto real. Estamos nos especializando em criar formas de escapolir dos
problemas. O Legislativo – assim como os demais Poderes – tem sido pródigo em produzir
risíveis “pérolas”, inflacionando o já obeso e mastodôntico ordenamento
jurídico. Por que tensionar e exigir que o Estado e os bancos cumpram com suas
obrigações junto aos munícipes se no interior das agências é possível instalar
porta-trecos? Ao que parece, as portas giratórias – que mais fazem lembrar uma
roleta russa a espreitar a próxima vítima – seguirão apitando, anunciando o
provável ladrão (nós!) e ensejando belas iniciativas do Parlamento deste
Município.
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