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segunda-feira, 12 de março de 2012

FILHOS MIMADOS

FILHOS MIMADOS
Gilvan Teixeira


            Como pequenos (às vezes, não tão pequenos assim...) reis, eles dão as cartas do jogo. Dizem, melhor, determinam o que os pais devem ou não fazer. Quero isso, quero aquilo. É pedir e pronto! Lá estão os pais fazendo-lhes a vontade. Portam-se não como filhos, mas como ditadores. Usam o choro, a ameaça e até mesmo o famoso “beicinho” para alcançarem o que desejam. Aprisionam os genitores fazendo destes não apenas servos, mas escravos de seus desejos. Usurpam o direito natural, divino e jurídico da autoridade paterna. Fazem de seus caprichos uma máxima. Invertem a lógica da verticalidade e da hierarquia, ambas indispensáveis à organização social. É bem verdade que não são todos, quiçá até uma minoria. Ainda assim, um grupo que traz sérios e imensuráveis prejuízos à sociedade. Fazem mal a eles, às famílias, à escola, à sociedade como um todo. São os “sem-limite” de amanhã. O preço é, por certo, altíssimo. Precisam do freio. Os pais o dão ou alguém o fará. A escola, a polícia, o juiz... Parecem acreditar que o mundo gira ao redor do umbigo. Ideia não apenas medieval, mas perniciosa. Chantageiam com o único intuito de conseguirem para si aquilo que desejam, mesmo que algo fútil e superficial. Como débeis, olvidam e transgridem as mais elementares regras de convívio social. Tudo sob a complacência, conivência dos ditos (ir)responsáveis legais. Nefasta e terrível condescendência. Para justificá-la, inúmeros e conhecidos são os jargões e argumentos: hiperatividade, bipolaridade, ansiedade, imaturidade (mesmo que cronologicamente, alguns desses filhos já tenham idade para procriar...). Outra estratégia, não menos incomum, é transferir para outrem a responsabilidade. A culpa é dos colegas, professores, amigos, vizinhos... Quando a explicação não é mais elaborada: coisas da pós-modernidade, dos tempos líquidos... Explicações que nada mais fazem do que tentar mascarar o cerne do problema. São falsas “saídas” que, apesar de toda perfumaria utilizada, não disfarçam o fétido cheiro da incapacidade e incompetência paternas (leia-se, também, maternas). Apesar de ululantes, são problemas e fracassos familiares mal resolvidos. Ajuda externa é, às vezes, bem-vinda e necessária. Porém insuficiente. Urge, primeiro, admitir e reconhecer o problema. Segundo, estar disposto a revertê-lo, mesmo que para tanto se tenha que lutar contra o reinado dos filhos mimados.

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