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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A política

A POLÍTICA
Gilvan


Aprendi, quando guri, naquele tempo em que a turminha ainda ouvia a professora, que o homem é por essência um ser político. O termo, ainda que complexo para a limitada compreensão de alguém em tão tenra idade, inspirava como que um ar de respeito, quase reverência. O tempo passou. A escola (excetuando-se a disposição das classes) já não é a mesma, como também não o é a visão do que venha a ser política. Esta, de aparentemente honrosa e virtuosa, passou a ser motivo de escárnio. Sequer é tema de conversa entre ébrios e loucos. Poucos a conhecem e menos ainda são os que a tomam como algo sério. O desprezo só não é menor do que a indignação, especialmente por parte dos que pagam a “conta”. Como leprosos, os que ainda vivem da política não raras vezes se escondem por entre os gabinetes daquela que outrora era chamada de “a casa do povo”. Não fosse o voto compulsório – verdadeiro atentado à liberdade das pessoas em exercerem o direito de escolherem ou não seus ditos “representantes” -, alguém duvida do insignificante quorum que teríamos? Por certo mancharíamos a imagem, distorcida e enganadora, de sermos uma das maiores democracias do mundo. Famílias se perpetuam no poder. O coronelismo atávico, em muitos rincões, segue ditando as normas. Compra-se consciências, vende-se ilusões. Os favores, há muito que são moeda de troca. Público e privado, ao contrário do que faz crer a lei (só viva para os que têm vez e voz), se misturam sim. Senado, Câmara Federal, Assembléias Legislativas, Câmaras de Vereadores... Verdadeiros saaras de confiabilidade e honestidade. Legisla-se, não raras vezes, em causa própria. O povo? Que povo? O que dizer do Executivo em todas suas esferas? Verdadeiro prostíbulo de interesses espúrios e mesquinhos. Mais parece uma mal-acabada colcha de retalhos, fétida e mal-cheirosa. Partidos, muitos deles nanicos, hora se amancebam, hora se revezam, hora ainda se digladiam. O intuito, ao final das contas, parece ser sempre o mesmo: permanecer no poder e deste poder usufruir todas suas vantagens e benesses. Ideologia partidária? Nada disso. Teorias e bandeiras são postas de lado tão logo estejam diante do banquete dos poderosos. O Judiciário, por sua vez, segue com os olhos vendados, os ouvidos encebados e os braços encolhidos diante das agruras dos que sofrem. O acesso à dita Justiça não passa de discurso, pois que na prática inexiste. O julgamento dos processos segue o rito quase sempre “ordinário” na acepção mais vil da palavra. Magistrados se deixam corromper e põem em risco e em dúvida a credibilidade naquele que deveria ser um importante baluarte social. Enfim, há de questionar-se o famigerado Estado Democrático de Direito. Que Estado? Que democracia? Que Direito? Tal construção teórica – pois que em sua práxis se mostra eivado de engodo – há muito não convence, despertando num que outro sonhos de guri.

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