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domingo, 25 de setembro de 2011

O leprosário

O texto abaixo foi escrito em 2008, em pleno período de campanha eleitoral. Lembro que daqui alguns dias teremos eleição para direção de escola.


O LEPROSÁRIO
Gilvan Teixeira

            Época de campanha é assim. A cidade inteira vira um leprosário. Pessoas antes bem quistas e simpáticas, passam a lutar contra o ostracismo. São alijadas do convívio com aqueles que, ainda ontem, comungavam à mesma mesa. Vive-se a quarentena, onde todos são suspeitos em potencial. Alguns tentam esquivar-se, correm daqui, correm dali, mas não adianta. Persiste a sensação de que olhos delatores os miram. Não há saída. Muros – a maioria tomados ou pelas pichações ou pelas propagandas -, placas, prédios, ruas e avenidas, tudo parece ter olhos e ouvidos aguçados e prontos à traição. Um vacilo e pronto. Leprosário na certa. A cidade passa a ser dividida, feito o Mar Vermelho, entre os amigos (partidários) e os inimigos. Não há espaço para o meio-termo, nem tampouco para a neutralidade. É dentro ou fora. “Ame-o ou deixe-o”, diriam os gringos. Alguns, por temor ou conveniência ostentam bandeiras. Conservam-se as aparências e os FGs. As feridas, fétidas e abertas, só são vistas conforme o matiz partidário do doente. O limite entre o remédio e o veneno é tênue e casual. Problema não de saúde pública, mas moral e cultural, onde apesar dos penduricalhos e tambores dos pretendentes aos cargos públicos, o que prevalece é um grande vazio, verdadeiro Saara de valores e propostas. Enquanto isso, o Leprosário enche. Bom lugar este, pois que os doentes seguem à solta na cidade, tendo as feridas envoltas pelas bandeiras.


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