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domingo, 29 de janeiro de 2023

Janeiro de 2023

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Feito árvores centenárias, nossos pais, avós, bisavós, abrigavam sob seus galhos um incontável número de filhos, netos, bisnetos... Tal qual imponente figueira a lançar seus enormes braços, os anciãos - a maioria, presente só em nossas saudosas lembranças - abraçavam a todos, reunindo à mesa (sim, as pessoas ceavam à mesa...) diferentes gerações. Presentes os de sangue, agregados, amigos, vizinhos... Multiplicavam-se o peixe, o pão e o vinho! Embalados por boas histórias e muitas fofocas, vez por outra ouvia-se um "que Deus o tenha!". Sim, os falecidos ganhavam lugar especial entre os vivos. Enquanto, na cozinha, as tias "tricotavam", deixando correr a língua para tudo que é lado, os homens mateavam sob a sombra, tendo aos pés o guaipeca. Era acariciá-lo, o rabo denunciava a faceirice do bicho. Enquanto isso, a piazada corria solta, exceto aqueles trepados nas amoreiras e butiazeiros ou os danados a tomarem banho na sanga. Ao longe, o tordilho e meia dúzia de vacas pastavam, indiferentes a tudo. Feito os afazeres domésticos, reuniam-se todos num grande círculo. Socializava-se não apenas o chimarrão, mas a palavra. Enquanto um falava, os demais escutavam, exceto o guri recém nascido. Nada que a teta materna não desse conta. Nossos velhos e velhas estão se indo... Estamos ficando órfãos. A casa está ficando vazia. As rodas de conversa têm dado lugar aos monólogos solitários de uma geração incapaz de olhar além do próprio umbigo. Às "árvores centenárias" ainda existentes, meu respeito, admiração e afeto!

Inicio dizendo que condeno toda e qualquer depredação de espaços públicos (e privados), inclusive as tão comuns pichações a macularem prédios, praças, monumentos por todo o país, por alguns tidas como "livre expressão do pensamento". Contudo, a invasão do Congresso, Palácio do Planalto e STF, apesar de questionável, é compreensível. Demonstra, por um lado, o extremismo de grupos político-ideológicos inconformados com o resultado das urnas, mas - por outro - deixa claro a absoluta falência do Estado brasileiro, há muito nas mãos de interesses outros que não aqueles de uma verdadeira República. Alguns meios de comunicação vêm usando a expressão "terroristas" para os referidos movimentos, estes, contudo, não mais nocivos do que os grupos que, historicamente, têm surrupiado os cofres públicos, acobertados por seus mandatos e togas. Não se está, portanto, diante de um duelo entre bandidos e heróis. Pensar assim soa como simplista e irresponsável. O que está em risco não é a democracia, até porque esta última jamais vingou em sua plenitude. São as mesmas famílias de sempre a darem as cartas do jogo, os mesmos interesses espúrios a preponderarem, as mesmas organizações criminosas a se apossarem das estruturas estatais. Os belos discursos de inclusão, a colocação de meia dúzia de lideranças sérias e bem intencionadas em alguns postos-chaves, uma ou outra iniciativa mais popular, quase tudo não passa de nuvem de fumaça para esconder o verdadeiro e diabólico intento dos "donos do poder", a saber a perpetuação das infames desigualdades sociais. Não me sensibilizo, portanto, com o ocorrido e nem, tampouco, me solidarizo com os que se sentem ultrajados com a invasão de prédios públicos. O prejuízo causado pela depredação levada a cabo por vândalos (quase todos os movimentos, infelizmente, têm os seus) é nada comparado ao imensurável estrago provocado por aqueles que se apropriaram do Estado. Mantém-se larápios na vitrine, enquanto olvida-se a necessária mudança estrutural de que o país necessita. Reformas política, tributária, penal, por exemplo, seguem ou engavetadas ou capengas, sob o olhar aflito e desesperado da sociedade. Inexiste maior violência do que aquela alimentada pela corrupção, pelo atávico descaso em relação à maioria da população, pela indiferença frente aos direitos assegurados (letra morta) na Constituição. Enquanto perdurar o coronelismo, o apadrinhamento, a confusão entre público e privado, o faz-de-conta dos "gestores" (impostores) públicos, o distanciamento da Justiça em relação a quem a sustenta e lhe dá sentido, a venda de consciência (o quase nada que ainda dela resta) dos que detêm algum mandato, o país seguirá sendo essa falsa democracia, dando margem a manifestações, ainda que lamentáveis (para muitos) como a que assistimos no raiar de janeiro de 2023. O famigerado "Estado de Direito", há muito emparedado pelo crime organizado (presente em todos os Poderes e em todas as esferas: federal, estaduais e municipais) precisa ser repensado, refundado (fundado, pois ainda não o foi...), como única forma de vivermos sob a égide da paz e justiça social. O denuncismo, hoje incentivado inclusive por órgãos oficiais, soa como temerário, seja porque abre margem para o linchamento social de pessoas que, talvez, não cometeram qualquer crime, seja porque faz vistas grossas às regras mais elementares do Direito. Abre, ainda, perigoso precedente, ao perseguir - juntando a força coercitiva do Estado e a omissão/apoio/condescendência de parte da sociedade - indivíduos em decorrência de suas posições, opiniões e/ou simpatias político-ideológicas, traço típico do totalitarismo. Portanto, sugiro prudência! Beijo no coração de todos!

Os fins justificam os meios? A teoria de Maquiavel parece estar presente no modelo do chamado presidencialismo de coalizão. Busca-se o apoio (pode não ser "casamento", mas no mínimo constitui-se numa "união estável", o que, no frigir dos ovos, dá no mesmo...) do maior número de partidos e parlamentares, como uma espécie de passaporte para a governabilidade. Apesar de aparentemente lógica a estratégia, até porque historicamente praticada neste país, entendo como equivocada e perigosa. Quase sempre a moeda de troca faz lembrar a de Caronte, onde o fim não poderia ser mais trágico. Sou daqueles que acreditam (utopia, eu sei...) que os meios denunciam os fins. Sendo os primeiros ruins, dificilmente os últimos serão bons. A própria história brasileira é prova incontestável disso. Não é de hoje vermos o Executivo refém do Parlamento. Na prática, é este quem governa (nos últimos anos, acompanhado do Judiciário...), rasgando os princípios mais elementares da divisão de Poderes herdada do Iluminismo. Desnecessário lembrar que, no Brasil, o Congresso constitui-se num grande prostíbulo, onde vende-se até a mãe em troca de benesses. A sopa de letrinhas das siglas partidárias não deixa dúvida de que, feito placas de igreja, o Parlamento é um balcão de negócios, quase sempre espúrios, onde as maiores vítimas desse estelionato somos nós, a maioria da população. Entendo sim ser difícil romper com tais práticas, mas necessário, sob risco do Brasil seguir nas mãos daqueles que têm levado à desesperança de nossa gente. Beijo no coração de todos!

Interessantes alguns discursos que têm sido pronunciados pelo Presidente eleito. Espero que saiam do plano da retórica para o da práxis. Segundo ele (concordo plenamente!) não existe democracia plena enquanto perdurarem as profundas desigualdades sociais. Diria que estas últimas só serão superadas a partir de significativas reformas política, econômica e social, o que exige - obrigatória e necessariamente - a "quebra dos ovos", a desacomodação, a subversão, enfim práticas e relações de poder completamente distintas daquelas que vêm marcando a história deste país. Apesar de ser pessimista e cético quanto às mudanças acima, torço para que ocorram, pois quem ganha é a maioria. Há muito deixei de acreditar no modelo de "democracia" e arremedo de República adotado por aqui, porém não vejo outro caminho que não o do respeito às regras do jogo, regras estas que podem e devem ser questionadas, melhoradas, depuradas... Daí a importância do VOTO, mas não qualquer voto, mas o de qualidade, consciente, comprometido, coerente com a "pólis" que se deseja. A posição, a cor político-partidária e ideologia precisam ser respeitadas (soa como óbvio numa sociedade democrática), o que não pressupõe condescendência ou anuência, mas respeito, desde que as posições firmadas não se distanciem da ética e compromisso com o social. Abraço no coração de todos!

"Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos" (Jó, 42:5). A experiência com Deus é pessoal, singular, personalíssima, intransferível... Cada um a vive num determinado tempo e lugar, de forma diferente. Prescinde de terceiros, intermediadores ou quaisquer tipos de "pontes", o que não diminui em nada a importância daqueles que - pautados no amor, fé e boas intenções - levam as boas novas e esperança ao povo. Placas de igreja, dogmas e a "institucionalização" da fé até podem servir de "ópio" às ditas massas, mas a íntima relação com Deus (tu e Ele), ainda que aos trancos e barrancos - tal qual a vivenciada por Jó - é formidável, renovadora, inspiradora... Aproveitemos, enquanto é tempo, para nos colocarmos sob Suas asas, aprendendo, agradecendo, crescendo... Beijo no coração de todos!

Imprestável! Assim tem se mostrado o Judiciário brasileiro. Sua político-partidarização só vem agravando o quadro. Não por acaso, paira sobre tal Poder inegável desconfiança. Passaram-se dez anos (sim, uma década) da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria e, para indignação das famílias enlutadas, prevalece - até o momento - a impunidade. Duzentas e quarenta e duas vítimas fatais e nenhuma punição aos responsáveis pelo crime! Alguns deles, por sinal, seguem na vitrine política, ocupando relevantes postos na Administração Pública, sob olhar complacente do Judiciário. O "caso Kiss", importante lembrar, não é algo isolado. Brumadinho (270 mortos), passados quatro anos, segue no mesmo caminho! Por quê? A criminosa demora e retardo na punição aos responsáveis por essas e tantas outras tragédias (a maioria delas "apagada" da memória coletiva, mas ainda viva no coração dos que sofrem tamanha perda) não deixa dúvida acerca da incompetência, despreparo e, por vezes, conivência do Judiciário com pessoas e/ou grupos, em flagrante prejuízo ao interesse público. Comum tem sido a magistratura transferir a (ir)responsabilidade para as falhas e lacunas existentes no Direito, em especial às inúmeras possibilidades de recursos que, na prática, levam à impunidade. Processos são tornados nulos, sentenças proferidas perdem o efeito, crimes são prescritos... Enquanto o Judiciário lava as mãos, a bandidagem segue solta, para o desespero e indignação das vítimas e suas famílias. Grande abraço a todos, em especial aos "indignados".


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