COVID-19, O
MAIOR INIMIGO?
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
A pandemia associada à Covid-19 é, por certo, algo
muito sério. Até mesmo as previsões mais otimistas – trabalho aqui somente com
aquelas fundamentadas em pesquisas científicas (quanto às demais, são
desprezíveis...) – trazem muita preocupação, em especial em se tratando de
países subdesenvolvidos como o nosso. O impacto sobre o sistema de saúde tende
a ser desastroso, comprometendo ainda mais os já precarizados serviços prestados
à maioria da população. Não menos terríveis são e serão as consequências
econômicas advindas da quase total paralisação da indústria, comércio e
serviços, por exemplo, levando à quebradeira das empresas (a maioria, pequenas
e médias) e aumentando o número de desempregados, alargando, sobremaneira, o
fosso da ignóbil desigualdade social. Caminha-se, perigosamente, em direção ao
caos social, aguçado pela raivosa e insana polarização político-ideológica que
busca simplória e irresponsavelmente dividir o país em “gremistas” e “colorados”,
“ximangos” e “maragatos”. Na prática, acabam por prestar um grande desserviço à
sociedade, ainda mais diante do triste quadro hoje existente. Não menos
criminosa é a busca de alguns grupos em obter dividendos eleitorais frente à
crise, demonstrando de forma clara e inequívoca o descompromisso com nossa
gente. Parecem não perceber que o momento exige união de todas as forças
políticas, partidárias, sindicais, organizacionais, estatais, etc. objetivando
planejamento, execução e avaliação conjuntas, de forma a mitigar ao máximo os
danos trazidos pela pandemia. Não surpreende, contudo, a postura de boa parte
da dita classe política brasileira, postura esta marcada pela imbecilidade e
clientelismo. Vive-se num arremedo de República, onde os Poderes batem cabeça,
embriagados que estão por interesses espúrios, onde “público” e “privado” se
misturam em prol de alguns poucos, enquanto a maioria segue à margem dos
direitos consagrados na Constituição. Mudou-se a forma de governo, da Monarquia
para a República, mas a perversa lógica permanece. Executivo, Legislativo e
Judiciário seguem, salvo raras e honrosas exceções, dissociados do verdadeiro
espírito público, mais parecendo feudos loteados pelos “amigos do rei”. Quantos
brasileiros perderam a vida nos últimos doze meses em decorrência da
subnutrição, falta de exames preventivos, escassez de medicamentos, violência
urbana, precariedade no saneamento básico, etc.? Quantos brasileiros perderam a
esperança devido à falta de oportunidades, falta de celeridade da Justiça,
inexistência ou insuficiência de políticas públicas voltadas à geração de
renda, etc.? Quantos brasileiros seguem à margem de serviços públicos de
qualidade na saúde, educação, segurança, etc.? Não tenho dúvidas de que o mal
trazido pela Covid-19 é grave, mas infinitamente menos impactante do que o
profundo e vergonhoso descaso do Estado e de seus agentes, em especial daqueles
que sob seus ternos e togas se locupletam com dinheiro público, em prejuízo do
país como um todo. Espero que a pandemia passe, mas que também “passe” o lacaio
promíscuo que trai a ética, a verdade, a honestidade e a hombridade. Lutemos e
sepultemos o mal, seja ele em forma de vírus, seja em forma de homem...
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