CADA ESQUERDA TEM A DIREITA
QUE MERECE
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Não deveria surpreender a ascensão, no Brasil, de uma “direita”
empunhando um discurso assentado no talião, na família
“tradicional” e no “antipolítico”. Cada “esquerda” tem a
“direita” que merece. Trata-se da já conhecida lei da
ação-reação, onde o porvir refletirá aquilo que fazemos hoje, da
mesma forma que as práticas pretéritas levam ao que hodiernamente
se assiste. Da mesma forma que a redemocratização trouxe, em seu
bojo, a ampliação dos direitos como resposta aos “anos de chumbo”
das décadas de 1960 e 70, o fortalecimento da “direita”, hoje,
nada mais é do que uma resposta às frustrações nascidas da
dicotomia entre teoria e prática de governos ditos de “esquerda”.
Os históricos e aparentemente atávicos problemas da educação,
saúde e segurança não foram sequer minorados, quanto mais
resolvidos, pelos governos alinhados ao, há muito surrado, discurso
marxista. Vícios outrora combatidos – quando se estava na oposição
– passaram a fazer parte do diabólico repertório do jeito de
governar da “esquerda”. Carga tributária insana, confusão entre
público e privado, promiscuidade e meretrício partidários,
enriquecimento dos bancos, sucateamento dos serviços básicos,
mendicância de estados e municípios frente ao centralismo do
Planalto Central, incapacidade de transformar as riquezas do país em
qualidade de vida para nossa gente, insignificância no cenário
internacional, corporativismos de toda sorte, corrupção…
Verdadeiro quadro da dor, onde os sete pecados capitais soam quase
como brincadeira de criança. Infelizmente, a “esquerda” jogou ao
lixo não apenas a esperança de milhões de brasileiros, mas a
oportunidade de um “fazer” diferente. Movida pela desculpa da
governabilidade, optou-se pelo presidencialismo de coalizão,
vendendo-se a alma e a história de luta aos algozes que, desde
sempre, vêm surrupiando nosso povo. Alianças espúrias e impudicas
foram celebradas, desprezando a ética e a coerência. Não por
acaso, coube – principalmente – à “base” a derrubada do
famigerado governo da “esquerda”. Esta, portanto, colheu o que
semeou. Não tardará, o país voltará às urnas. A “esquerda”
precisa reconhecer os erros cometidos. Precisa, ainda, entender e
aceitar que o Brasil – por sua extensão continental e formação
cultural – é um país complexo, marcado por idiossincrasias, por
vezes, irreconciliáveis. Urge, também, auscultar os sussurros de
uma população refém do medo, ou os gritos de uma juventude que vê
seu futuro esvaindo em meio à estreiteza de perspectivas. A
“esquerda” precisa repensar-se antes de repensar o Brasil.
Precisa submeter-se ao divã da humildade e forjar um novo pacto
social, depurando suas fragilidades, seus vícios, seus discursos e
suas posturas. Às demandas do século XXI, mostram-se inócuas as
receitas do passado, ainda que bem intencionadas. A “esquerda”
precisa entender que aqueles que dela discordam ou que, então,
simpatizam com outras ideologias, têm o direito de fazê-lo,
respeitados, por óbvio, os princípios da dignidade da pessoa humana
e do verdadeiro Estado democrático de direito (não esse engodo que
conhecemos...). A democracia não deve sepultar o antagonismo de
ideias, sob o risco de enveredarmos para o caos. A “esquerda”
precisa cortar na própria carne, rompendo, de fato, com práticas
clientelistas e que têm levado este país ao jugo de uma
cleptocracia asquerosa, insensível e desumana. Precisa quebrar os
grilhões do corporativismo, que submete o interesse da maioria aos
caprichos de alguns grupos que entravam o desenvolvimento social.
Necessita romper com privilégios e com a cultura da “esmola”,
pois que esta alimenta o coronelismo e a política de favores. À
esquerda cabe propugnar por uma educação de qualidade, na formação
de sujeitos autônomos, comprometidos, éticos e responsáveis. Lutar
por um sistema tributário racional, justo e proporcional à
capacidade econômica do contribuinte. Tensionar pela oferta urgente,
com qualidade, de serviços públicos de saúde, diminuindo a dor,
sofrimento e humilhação de milhões de brasileiros. Precisa
sublevar-se frente à violência que ceifa vidas, combatendo o crime
organizado em todas suas esferas, inclusive (principalmente...)
estatal. Debruçar-se sobre políticas públicas de curto, médio e
longo prazos, voltadas às diversas áreas, como transporte, moradia,
saneamento, áreas estas que representam sérios gargalos a serem
resolvidos. Somente assim teremos uma “esquerda” (e seu oposto,
salutar e necessário) confiável, capaz de representar, a contento,
importante parcela da população.
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