SUS, UMA VESÍCULA INFLAMADA
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Assim como o ensino e a segurança, a saúde pública
neste país há muito vem sendo motivo de vergonha e desespero. Vergonha, porque
é o retrato fiel de um país que viola os direitos mais elementares do ser
humano. Desespero, porque nossa gente vê o sofrimento ganhar corpo, sem um naco
sequer de esperança. Apesar da insana e irresponsável carga tributária, os
serviços prestados pelo Estado seguem infinitamente aquém do mínimo necessário.
O ente público, ao que parece, é um fim em si mesmo. Triste e asqueroso culto
narcísico, tendo por plateia um séquito que, historicamente, se locupleta em
detrimento do interesse coletivo. Enquanto os ditos “Poderes” da malfadada
República mais fazem lembrar Os Três
Patetas, a população brasileira segue jogada às moscas. Nem mesmo o marketing pago a preço de ouro tem se
mostrado eficaz para afugentar o cheiro fétido exalado pela pocilga em que se
tornou o Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um triste exemplo da inegável
falência do Estado. Feito um doente terminal, o SUS segue respirando com ajuda
de aparelhos. Apesar do esforço hercúleo de um grande número de abnegados
servidores, o Sistema sangra pelas ventas. Resultado de muitos anos de descaso,
gestão fraudulenta, incompetência administrativa, falta de fiscalização,
corporativismo doentio, omissão e tantas outras práticas por nós conhecidas. O
resultado não poderia ser diferente. Hospitais lotados e sucateados, filas
intermináveis nas emergências, esperas infindáveis por exames e consultas... O
verdadeiro quadro da dor. Estará o país em guerra? O cenário repugnante e desolador
dá a entender que sim. Muitos são, por certo, os exemplos a ilustrarem de maneira
farta e inconteste o inferno dantesco em que se tornou o SUS, exemplos como o
do meu irmão. Acometido de dores na vesícula, ingressou na “emergência” do hospital Conceição de Porto Alegre no
dia primeiro de fevereiro do presente ano (2016). Apesar do quadro clínico,
ficou não menos do que quatro dias sentado numa cadeira junto ao corredor.
Depois de muitas idas e vindas na Ouvidoria, finalmente, conseguimos uma maca
para que pudesse descansar. Passado mais algum tempo, finalmente, foi deslocado
para um quarto, sem qualquer previsão para o procedimento cirúrgico. No dia
vinte e quatro (sim, quase um mês depois...), por fim, faria a cirurgia.
Faria... Após ter sido sedado, a “brilhante” equipe médica percebeu que faltava
um cateter, lapso este que
inviabilizaria o prosseguimento do trabalho. Assim, meu irmão retornou ao
quarto, com previsão de cirurgia para dali alguns dias. Hoje, contabiliza-se um
mês de internação, sem que a cirurgia tenha sido feita, tempo este para lá do
razoável e que revela o caos em que se encontra o SUS. Prejuízo não apenas para
a saúde do paciente – pois que exposto a um maior risco de infecções, além dos
inequívocos danos psicológicos –, mas para o próprio Sistema (enorme custo da
diária hospitalar) e para a economia como um todo (dias e mais dias afastado do
trabalho). Verdadeiro atestado de incompetência e desleixo frente a um direito
assegurado na Constituição. Mais do que a vesícula de meu irmão, o SUS tem se
mostrado inflamado pela vileza de alguns, omissão de tantos outros e pela
atávica prática espúria de fazer do interesse público mero trampolim para
obtenção de vantagens indevidas. Enquanto isso, vidas são ceifadas, famílias
são enlutadas e a esperança de um porvir melhor se esvai.
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