Translate

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

SUS, UMA VESÍCULA INFLAMADA


SUS, UMA VESÍCULA INFLAMADA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Assim como o ensino e a segurança, a saúde pública neste país há muito vem sendo motivo de vergonha e desespero. Vergonha, porque é o retrato fiel de um país que viola os direitos mais elementares do ser humano. Desespero, porque nossa gente vê o sofrimento ganhar corpo, sem um naco sequer de esperança. Apesar da insana e irresponsável carga tributária, os serviços prestados pelo Estado seguem infinitamente aquém do mínimo necessário. O ente público, ao que parece, é um fim em si mesmo. Triste e asqueroso culto narcísico, tendo por plateia um séquito que, historicamente, se locupleta em detrimento do interesse coletivo. Enquanto os ditos “Poderes” da malfadada República mais fazem lembrar Os Três Patetas, a população brasileira segue jogada às moscas. Nem mesmo o marketing pago a preço de ouro tem se mostrado eficaz para afugentar o cheiro fétido exalado pela pocilga em que se tornou o Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um triste exemplo da inegável falência do Estado. Feito um doente terminal, o SUS segue respirando com ajuda de aparelhos. Apesar do esforço hercúleo de um grande número de abnegados servidores, o Sistema sangra pelas ventas. Resultado de muitos anos de descaso, gestão fraudulenta, incompetência administrativa, falta de fiscalização, corporativismo doentio, omissão e tantas outras práticas por nós conhecidas. O resultado não poderia ser diferente. Hospitais lotados e sucateados, filas intermináveis nas emergências, esperas infindáveis por exames e consultas... O verdadeiro quadro da dor. Estará o país em guerra? O cenário repugnante e desolador dá a entender que sim. Muitos são, por certo, os exemplos a ilustrarem de maneira farta e inconteste o inferno dantesco em que se tornou o SUS, exemplos como o do meu irmão. Acometido de dores na vesícula, ingressou na “emergência” do hospital Conceição de Porto Alegre no dia primeiro de fevereiro do presente ano (2016). Apesar do quadro clínico, ficou não menos do que quatro dias sentado numa cadeira junto ao corredor. Depois de muitas idas e vindas na Ouvidoria, finalmente, conseguimos uma maca para que pudesse descansar. Passado mais algum tempo, finalmente, foi deslocado para um quarto, sem qualquer previsão para o procedimento cirúrgico. No dia vinte e quatro (sim, quase um mês depois...), por fim, faria a cirurgia. Faria... Após ter sido sedado, a “brilhante” equipe médica percebeu que faltava um cateter, lapso este que inviabilizaria o prosseguimento do trabalho. Assim, meu irmão retornou ao quarto, com previsão de cirurgia para dali alguns dias. Hoje, contabiliza-se um mês de internação, sem que a cirurgia tenha sido feita, tempo este para lá do razoável e que revela o caos em que se encontra o SUS. Prejuízo não apenas para a saúde do paciente – pois que exposto a um maior risco de infecções, além dos inequívocos danos psicológicos –, mas para o próprio Sistema (enorme custo da diária hospitalar) e para a economia como um todo (dias e mais dias afastado do trabalho). Verdadeiro atestado de incompetência e desleixo frente a um direito assegurado na Constituição. Mais do que a vesícula de meu irmão, o SUS tem se mostrado inflamado pela vileza de alguns, omissão de tantos outros e pela atávica prática espúria de fazer do interesse público mero trampolim para obtenção de vantagens indevidas. Enquanto isso, vidas são ceifadas, famílias são enlutadas e a esperança de um porvir melhor se esvai. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário