MANIFESTO
Prof. Gilvan
Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Para que serve o Estado, senão para garantir, com
qualidade, a materialização dos princípios constitucionais, como saúde,
educação e segurança? Para que serve o Estado, senão para garantir a paz social
fundada na justiça e respeito à dignidade da pessoa humana? Para que serve o
Estado, senão para retirar da esfera privada iniciativas violentas que, na
busca de proteção, vingança ou satisfação de desejos mesquinhos, acabam por
fazer sombra aos avanços civilizatórios? O Estado não é um fim em si mesmo.
Existe, sobretudo, para “servir” aqueles que não apenas lhe sustentam, mas lhe
dão sentido.
Vivemos tempos de medo. As ruas e avenidas há muito
vêm sendo manchadas de sangue. As praças viraram local “seguro”, não para as
crianças, jovens e trabalhadores, mas para o consumo e tráfico de drogas. Como
zumbis, hordas de pichadores, arruaceiros, viciados e criminosos de toda
espécie infestam a cidade, fazendo dos espaços públicos e privados um
verdadeiro inferno. O velho ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come” vem assumindo proporções cada vez mais trágicas e preocupantes. Inexiste
local seguro ou a salvo da barbárie que vem ceifando vidas e enlutando lares.
Enquanto os muros altos das residências evidenciam a sensação de insegurança,
as frágeis grades dos presídios – que mais parecem masmorras medievais –
escancaram a falência do ente público, este há muito motivo de escárnio e deboche.
O avanço da criminalidade contrasta com a incapacidade do Estado em transformar
o conhecido e surrado discurso em ações concretas capazes de estancarem o
avanço do câncer da violência urbana que tem levado à metástase da teia social.
Queremos, merecemos e exigimos dias melhores. Nossas
mães não geraram filhos para serem precoce e violentamente arrancados desta
vida. O sangue, inocentemente vertido, de cada criança, jovem ou adulto, clama
por justiça. Não apenas façamos memória a cada filho, irmão, pai, mãe, amigo
que perderam a vida em decorrência desta guerra urbana – alimentada pela
omissão, incompetência, quando não pela íntima relação do Estado com o crime
organizado –, mas transformemos nossa dor e indignação em ações concretas. As
escolas que compõem a Paróquia
Estudantil, através do presente documento manifestam a profunda
preocupação, repúdio e indignação frente ao avanço da violência. A dor da
família do Gabriel (Escola Estadual Júlio César Ribeiro de Souza, em Alvorada),
covardemente assassinado, é, também, a nossa dor. O sofrimento do Henrique
(Instituto de Educação São Francisco, em Porto Alegre) e de sua família é,
também, o nosso sofrimento. Quantos mais perderão a vida? Quantos mais serão
privados de curtirem a infância e a juventude? Quantos mais trocarão muitos
anos de vida por uma pequena nota nas páginas policiais de um jornal qualquer?
Quantas flores de debutantes darão lugar àquelas postas sobre a lápide fria
como a morte?
Enquanto o cidadão de bem definha e agoniza, o crime engorda
e avança a passos largos. Atinge, indistintamente, a todos: brancos e negros,
pobres e ricos, letrados e analfabetos, crianças e idosos, homens e mulheres...
Entrar ou sair de casa é um risco. Ir à escola, ao trabalho, à padaria, ao
posto de gasolina é um risco. Andar a pé, de carro ou de ônibus é um risco.
Sair de dia ou à noite, sozinho ou em grupo é um risco. Ser abordado por alguém
com farda ou sem ela, é um risco. Estamos a ponto de temer a própria sombra,
não sem razão. Nossos direitos vêm sendo vilipendiados diuturnamente. Há muito,
não enxergamos sequer a luz no final do túnel. Foi-nos subtraída.
Abaixo, portanto, à impunidade! Abaixo ao discurso
evasivo ou ao leque de promessas jamais cumpridas. Abaixo à frouxidão do Poder
Público. Abaixo às decisões de magistrados que, em nome de uma lei – por vezes
equivocadamente interpretada – dão salvo conduto a delinquentes de toda sorte. Abaixo
à gestão assentada no amadorismo, na troca de favores e na defesa de interesses
espúrios. Abaixo ao corporativismo de toda espécie que, ao olhar para o próprio
umbigo, olvida o interesse verdadeiramente “público”. Abaixo à falta de
investimentos nas áreas vitais, como a da segurança.
Queremos,
através do presente Manifesto, marcar posição, iniciativa esta que, tenham
certeza, não se limitará à formalidade deste documento. Sozinhos, mais fazemos
lembrar uma ovelha ameaçada pela matilha, mas juntos somos fortes. Assumamos
aqui o compromisso com o “outro”. Uma relação pautada na ética, no respeito, na
empatia e na solidariedade. Exerçamos nossa cidadania com firmeza, não
titubeando ante às falhas e vícios do Estado.
Ante o
exposto, encaminhamos este Manifesto
– em nome das escolas (e comunidades
a elas associadas) da Paróquia Estudantil
– aos representantes de todos os Poderes
(Executivo, Legislativo e Judiciário), ao Ministério
Público, à imprensa e à Sociedade Civil Organizada, para EXIGIR, por parte do Poder Público, ações concretas e duradouras que garantam a
segurança de nossa comunidade, conforme previsto na Constituição Federal.
Leia também: http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/noticias_visualizar.php?noticia_id_=1574
Leia também: http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/noticias_visualizar.php?noticia_id_=1574
Nenhum comentário:
Postar um comentário