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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

MANIFESTO


MANIFESTO
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Para que serve o Estado, senão para garantir, com qualidade, a materialização dos princípios constitucionais, como saúde, educação e segurança? Para que serve o Estado, senão para garantir a paz social fundada na justiça e respeito à dignidade da pessoa humana? Para que serve o Estado, senão para retirar da esfera privada iniciativas violentas que, na busca de proteção, vingança ou satisfação de desejos mesquinhos, acabam por fazer sombra aos avanços civilizatórios? O Estado não é um fim em si mesmo. Existe, sobretudo, para “servir” aqueles que não apenas lhe sustentam, mas lhe dão sentido.

                Vivemos tempos de medo. As ruas e avenidas há muito vêm sendo manchadas de sangue. As praças viraram local “seguro”, não para as crianças, jovens e trabalhadores, mas para o consumo e tráfico de drogas. Como zumbis, hordas de pichadores, arruaceiros, viciados e criminosos de toda espécie infestam a cidade, fazendo dos espaços públicos e privados um verdadeiro inferno. O velho ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” vem assumindo proporções cada vez mais trágicas e preocupantes. Inexiste local seguro ou a salvo da barbárie que vem ceifando vidas e enlutando lares. Enquanto os muros altos das residências evidenciam a sensação de insegurança, as frágeis grades dos presídios – que mais parecem masmorras medievais – escancaram a falência do ente público, este há muito motivo de escárnio e deboche. O avanço da criminalidade contrasta com a incapacidade do Estado em transformar o conhecido e surrado discurso em ações concretas capazes de estancarem o avanço do câncer da violência urbana que tem levado à metástase da teia social.

                Queremos, merecemos e exigimos dias melhores. Nossas mães não geraram filhos para serem precoce e violentamente arrancados desta vida. O sangue, inocentemente vertido, de cada criança, jovem ou adulto, clama por justiça. Não apenas façamos memória a cada filho, irmão, pai, mãe, amigo que perderam a vida em decorrência desta guerra urbana – alimentada pela omissão, incompetência, quando não pela íntima relação do Estado com o crime organizado –, mas transformemos nossa dor e indignação em ações concretas. As escolas que compõem a Paróquia Estudantil, através do presente documento manifestam a profunda preocupação, repúdio e indignação frente ao avanço da violência. A dor da família do Gabriel (Escola Estadual Júlio César Ribeiro de Souza, em Alvorada), covardemente assassinado, é, também, a nossa dor. O sofrimento do Henrique (Instituto de Educação São Francisco, em Porto Alegre) e de sua família é, também, o nosso sofrimento. Quantos mais perderão a vida? Quantos mais serão privados de curtirem a infância e a juventude? Quantos mais trocarão muitos anos de vida por uma pequena nota nas páginas policiais de um jornal qualquer? Quantas flores de debutantes darão lugar àquelas postas sobre a lápide fria como a morte?

                Enquanto o cidadão de bem definha e agoniza, o crime engorda e avança a passos largos. Atinge, indistintamente, a todos: brancos e negros, pobres e ricos, letrados e analfabetos, crianças e idosos, homens e mulheres... Entrar ou sair de casa é um risco. Ir à escola, ao trabalho, à padaria, ao posto de gasolina é um risco. Andar a pé, de carro ou de ônibus é um risco. Sair de dia ou à noite, sozinho ou em grupo é um risco. Ser abordado por alguém com farda ou sem ela, é um risco. Estamos a ponto de temer a própria sombra, não sem razão. Nossos direitos vêm sendo vilipendiados diuturnamente. Há muito, não enxergamos sequer a luz no final do túnel. Foi-nos subtraída.

                Abaixo, portanto, à impunidade! Abaixo ao discurso evasivo ou ao leque de promessas jamais cumpridas. Abaixo à frouxidão do Poder Público. Abaixo às decisões de magistrados que, em nome de uma lei – por vezes equivocadamente interpretada – dão salvo conduto a delinquentes de toda sorte. Abaixo à gestão assentada no amadorismo, na troca de favores e na defesa de interesses espúrios. Abaixo ao corporativismo de toda espécie que, ao olhar para o próprio umbigo, olvida o interesse verdadeiramente “público”. Abaixo à falta de investimentos nas áreas vitais, como a da segurança.

Queremos, através do presente Manifesto, marcar posição, iniciativa esta que, tenham certeza, não se limitará à formalidade deste documento. Sozinhos, mais fazemos lembrar uma ovelha ameaçada pela matilha, mas juntos somos fortes. Assumamos aqui o compromisso com o “outro”. Uma relação pautada na ética, no respeito, na empatia e na solidariedade. Exerçamos nossa cidadania com firmeza, não titubeando ante às falhas e vícios do Estado.


Ante o exposto, encaminhamos este Manifesto – em nome das escolas (e comunidades a elas associadas) da Paróquia Estudantilaos representantes de todos os Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), ao Ministério Público, à imprensa e à Sociedade Civil Organizada, para EXIGIR, por parte do Poder Público, ações concretas e duradouras que garantam a segurança de nossa comunidade, conforme previsto na Constituição Federal. 

Leia também: http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/noticias_visualizar.php?noticia_id_=1574 

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