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sexta-feira, 19 de junho de 2015

ATIROU POR QUÊ?


ATIROU POR QUÊ?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Por que atirou? Muitas são as respostas e vãs tentativas de “justificar” o ato imbecil, violento e covarde que quase levou à morte de um querido aluno e ceifou a vida de seu amigo no último dia dezesseis de junho. Atirou porque a vítima reagiu. Atirou porque ela não reagiu. Atirou porque a vítima se negou a dar o que o agressor pedia. Atirou porque ela entregou o solicitado pelo bandido, mas este não ficou satisfeito. Atirou porque a vítima correu. Atirou porque ela permaneceu imóvel. Atirou porque... A verdade, contudo, quase sempre, é que atirou porque decidiu fazê-lo. Influenciado ou não pela droga, instigado ou não pelos parceiros do crime, desconfiado ou não de uma eventual reação da vítima, fruto ou não de uma sociedade injusta e desigual, resultado ou não de uma família desestruturada, a responsabilidade deve recair, primeiro, sobre o autor do infame delito, ainda que sob a perigosa roupagem da dita menoridade. Tem sido comum o Poder Público, através da Secretaria de Segurança ou da polícia, por exemplo, insistir na falácia de que o melhor caminho é a não reação, como se tal opção fosse salvaguardar a vítima das atrocidades do criminoso. Será por isso que o Estado não tem reagido? Será por isso que o Estado tem se mostrado omisso ou nada eficiente frente à absurda escalada da violência? Será por isso que entra governo e sai governo, a insegurança segue produzindo as metástases que têm levado a sociedade gaúcha à falência total dos serviços públicos, inclusive o da segurança? O Estado tem se mostrado refém da criminalidade, enlameado que está, por exemplo, na areia movediça da incompetência, da corrupção, da falta de planejamento e de investimentos. Um Estado que não tem, nem de perto, cumprido com suas obrigações constitucionais e, portanto, questionável e, talvez, desnecessário. A violência que enlutou a família do Gabriel e pôs em desespero os pais do Henrique é, portanto, responsabilidade também do Poder Público. O Estado, assim como o criminoso, precisa ser responsabilizado. O gestor que descumpre com seu papel, o servidor que “suja as mãos” e denigre a própria consciência, o juiz (que, apesar da toga, é servidor e não Deus...) que irresponsavelmente permite ao criminoso ganhar as ruas, todos eles devem e precisam ser responsabilizados. O descontrole da violência é consequência, sobretudo, da certeza da impunidade. O arcabouço jurídico há muito tem sido motivo de chacota e escárnio, tamanha a distância entre a previsão e o cumprimento do mesmo. Crimes não investigados, inquéritos mal conduzidos, sentenças equivocadas, penas não cumpridas... Virou rotina. Triste realidade que tem alimentado a indignação e a convicção de que a saída para estancar a criminalidade, ainda que em parte, não passa pelo modelo pífio de Estado que temos. A sociedade precisa reagir sim! Precisa fazer uso de todos os meios, ainda que coercitivos, para garantir um direito que lhe é natural e, portanto, anterior à existência do próprio Estado. As pessoas de bem, ainda maioria, precisam se organizar, transformando a indignação e lancinante dor em ações concretas capazes de subverterem as estruturas modorrentas de um Estado que tem abandonado às moscas a população que o sustenta e lhe dá sentido. O Estado existe para servir e não ser servido. Não é um fim em si mesmo e nem tampouco espaço para realização de projetos mesquinhos de poder ou de enriquecimento fácil. Basta de tanta violência. Não podemos seguir assistindo nossas crianças serem violentadas, filhas sendo estupradas, juventude sendo viciada, casas sendo assaltadas, veículos sendo roubados, vidas inocentes sendo tiradas... A letargia do Estado precisa ser rompida. Tiremos o sono do presidente, governador, prefeito, ministro, secretário, senador, deputado, vereador, juiz, promotor, delegado... Não sejam em vão as lágrimas das mães que enterram seus filhos ou que, na calada da noite, suplicam aos céus pelo rebento à beira da morte. 

Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=9728c6a2784ee154c3c9cc8ee10132a7 

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