ATIROU POR QUÊ?
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Por que
atirou? Muitas são as respostas e vãs tentativas de “justificar” o ato imbecil, violento e covarde que
quase levou à morte de um querido aluno e ceifou a vida de seu amigo no último
dia dezesseis de junho. Atirou porque a vítima reagiu. Atirou porque ela não
reagiu. Atirou porque a vítima se negou a dar o que o agressor pedia. Atirou
porque ela entregou o solicitado pelo bandido, mas este não ficou satisfeito. Atirou
porque a vítima correu. Atirou porque ela permaneceu imóvel. Atirou porque... A
verdade, contudo, quase sempre, é que atirou
porque decidiu fazê-lo. Influenciado ou não pela droga, instigado ou não
pelos parceiros do crime, desconfiado ou não de uma eventual reação da vítima, fruto
ou não de uma sociedade injusta e desigual, resultado ou não de uma família
desestruturada, a responsabilidade deve
recair, primeiro, sobre o autor do infame delito, ainda que sob a perigosa
roupagem da dita menoridade. Tem sido comum o Poder Público, através da
Secretaria de Segurança ou da polícia, por exemplo, insistir na falácia de que
o melhor caminho é a não reação, como se tal opção fosse salvaguardar a vítima
das atrocidades do criminoso. Será por
isso que o Estado não tem reagido? Será por isso que o Estado tem se
mostrado omisso ou nada eficiente frente à absurda escalada da violência? Será
por isso que entra governo e sai governo, a insegurança segue produzindo as
metástases que têm levado a sociedade gaúcha à falência total dos serviços
públicos, inclusive o da segurança? O Estado tem se mostrado refém da
criminalidade, enlameado que está, por exemplo, na areia movediça da incompetência, da corrupção, da falta de
planejamento e de investimentos. Um Estado que não tem, nem de perto,
cumprido com suas obrigações constitucionais e, portanto, questionável e,
talvez, desnecessário. A violência que
enlutou a família do Gabriel e pôs em desespero os pais do Henrique é,
portanto, responsabilidade também do Poder Público. O Estado, assim como o
criminoso, precisa ser responsabilizado. O gestor que descumpre com seu papel,
o servidor que “suja as mãos” e denigre a própria consciência, o juiz (que,
apesar da toga, é servidor e não Deus...) que irresponsavelmente permite ao
criminoso ganhar as ruas, todos eles devem e precisam ser responsabilizados. O descontrole da violência é consequência,
sobretudo, da certeza da impunidade. O arcabouço jurídico há muito tem sido
motivo de chacota e escárnio, tamanha a distância entre a previsão e o
cumprimento do mesmo. Crimes não
investigados, inquéritos mal conduzidos, sentenças equivocadas, penas não
cumpridas... Virou rotina. Triste realidade que tem alimentado a indignação
e a convicção de que a saída para estancar a criminalidade, ainda que em parte,
não passa pelo modelo pífio de Estado
que temos. A sociedade precisa reagir
sim! Precisa fazer uso de todos os meios, ainda que coercitivos, para
garantir um direito que lhe é natural e, portanto, anterior à existência do
próprio Estado. As pessoas de bem, ainda
maioria, precisam se organizar, transformando a indignação e lancinante dor em
ações concretas capazes de subverterem as estruturas modorrentas de um Estado
que tem abandonado às moscas a população que o sustenta e lhe dá sentido. O
Estado existe para servir e não ser servido. Não é um fim em si mesmo e nem
tampouco espaço para realização de projetos mesquinhos de poder ou de enriquecimento
fácil. Basta de tanta violência. Não
podemos seguir assistindo nossas crianças serem violentadas, filhas sendo estupradas,
juventude sendo viciada, casas sendo assaltadas, veículos sendo roubados, vidas
inocentes sendo tiradas... A letargia do
Estado precisa ser rompida. Tiremos o sono do presidente, governador, prefeito,
ministro, secretário, senador, deputado, vereador, juiz, promotor, delegado... Não
sejam em vão as lágrimas das mães que enterram seus filhos ou que, na calada da
noite, suplicam aos céus pelo rebento à beira da morte.
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=9728c6a2784ee154c3c9cc8ee10132a7
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