RIOS E RITOS
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com
Ritos se parecem com rios. Assim como estes trazem
consigo as águas que nascem em meio às montanhas, os ritos carregam uma
incontável gama de sentimentos, emoções e crenças. Rios e ritos não apenas dão
sentido à vida, como a sustentam. Ritos, assim como rios, os temos dos mais
diversos tipos. Alguns, mais longos, outros, nem tanto. Alguns mais pedregosos,
profundos e densos do que outros. Todos, contudo, indispensáveis à “hidrografia”
da vida. A fé está para o rito, assim como as águas para o rio. Indissociáveis.
O rito sem “coração” soa como margens sem água. Sem esta, não há que se falar
em rio. Não passa de terra seca, sem vida aparente. O rito, da mesma forma, não
pode prescindir das motivações que o embalam. Assim como o rio serpenteia o
vale, acrescentando-lhe beleza e vida, o rito traduz histórias pretéritas,
sentimentos presentes e crenças no porvir. Sobre o rio curva-se o corpo na
busca da água pura que sacia a sede, enquanto sob o manto do rito busca-se o
acalento da alma. Rios e ritos trazem consigo o poder da cura, depende, muitas
vezes, do quanto se crê. Assim como a água alimenta o corpo, o rito alimenta o
espírito. Rios existem que deles só se ouve o rolar constante da seiva. Outros,
contudo, parecem festa de aniversário, tamanha é a variedade de sons a se
confundirem. Ritos da mesma forma. Há entre estes, os que exigem silêncio quase
que profundo, enquanto outros convidam à troca de palavras e até mesmo abraços.
Sisudos ou não, os ritos têm em comum o sagrado, assim como o Ganges no
imaginário daqueles que nele se banham. Rios e ritos requerem respeito. Reconhecê-los
e preservá-los significa reconhecer e preservar a própria vida. Desmerecê-los,
ao contrário, é um triste convite à morte física e espiritual. Rios e ritos
gritam por socorro. Lutam teimosa e desesperadamente para não sucumbirem frente
à indiferença e apostasia humanas. Apesar de toda grandeza construída ao longo
de gerações, rios e ritos mantêm aquele olhar sereno dos humildes. Não
desperdiçam uma só oportunidade, sendo-lhes caro cada ser, cada gesto, cada
sentimento, por mais singelo que seja. O importante é que seja verdadeiro. Rios
e ritos, ao que parece, sabem reconhecer a importância do “outro”, pois é neste
que eles ganham sentido. Dispensam o embuste e a altivez. Acolhem, isto sim, o coração
quebrantado e todo aquele que estiver disposto a ouvir a voz do coração. Rios e
ritos pressupõe fluidez, daí serem avessos ao muquirana de espírito. Rios e
ritos voltam-se, isto sim, é à semeadura e à partilha. Os rios se aprazam em
comungar suas águas com a flora e a fauna ali existentes. Nem mesmo as pedras,
por mais duras e pesadas que sejam, representam motivo para tristeza ou
desculpa para não seguirem adiante. Pelo contrário, cada obstáculo só faz
aumentar a beleza de seu curso. Os ritos, da mesma forma, quando assentados no
amor, desconhecem a exclusão deste ou daquele, por maiores que sejam as
diferenças. Rios e ritos têm o poder de aproximarem todos os que orbitam em
torno deles, ensejando verdadeiras obras de arte, onde o Autor – seja lá qual o
nome que se dê a Ele – se vê encantado frente à criação.
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=ed94108996c8ca4cbc9ce22236f8d391
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=ed94108996c8ca4cbc9ce22236f8d391