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sábado, 17 de dezembro de 2011

O PROFESSOR

O Professor
Igor Franco


            Hoje, enquanto olhava as crianças brincando na praça, lembrei-me de minha infância. Tive uma infância normal, sem nada de estranho: eu brinquei, chorei, fiz birra e todas as coisas que são comuns para uma criança. Porém, o meu tempo na escola mudou tudo: no começo era tranquilo, fazia o que tinha que ser feito e pronto.

Tudo começou realmente no 2º grau. Eu tinha um professor que realmente encheu e muito minha paciência, seu nome era Joaquim Peixoto, era meu professor de geografia, lembro-me bem que em todas as aulas dele, com raras exceções, discutíamos sobre comportamento, ele falava o quanto eu era desleixado e preguiçoso, e eu retrucava dizendo que era um velho sem graça e sozinho. Passaram-se os dois primeiros trimestres e a única matéria que me impedia de passar para o segundo ano era a matéria deste professor com o qual tanto me desentendia. Joaquim era um professor de uns 40 anos, um homem inteligente, casado e tinha um bordão próprio, que sinceramente cansei de escutar, “O sucesso só se alcança lutando!”, ele vivia falando isto, quase em todas as aulas. Como dá para adivinhar, peguei recuperação com ele, e o pior, só eu peguei recuperação com ele.

Como uma forma de implicância, ele fez com que eu tivesse aula todos os dias da semana e dizia que se faltasse um único dia, seria reprovado. Numa quinta-feira, se me lembro bem, estava eu e ele, sentados um de frente para o outro, ele me encarava enquanto eu fazia uma lista de múltiplas escolhas. Quando acabei, ele me perguntou: “Por que você me odeia?”, eu respondi dizendo que não o odiava, mas ele insatisfeito, quis saber o motivo de tanto bate boca durante todo o ano. Com isso, ficamos conversando até mais tarde, descobri que ele é professor de geografia, história e português, queria ter feito Direito também, mas nunca teve tempo. Na semana seguinte, fiz a prova, entreguei a ele, tivemos um momento de silêncio na sala até que ele levantou a cabeça e olhou para mim e com um sorriso disse: “Você passou!”

As férias passaram como um foguete, e no ano seguinte, lá estava ele, o meu professor de geografia que tanto me insultava estava em trégua comigo, logo no primeiro dia de aula ele me chamou para uma conversa na sua sala, esperava ganhar uma bronca, embora não tenha feito nada. Chegando lá, ele perguntou como foram minhas férias, me falou sobre as suas, comentou sobre uma viagem que fez a Itália, me falou também sobre os ofícios da geografia, a importância que se tem em conhecer coisas sobre economia, política e sociedade, percebi então, que não era mais o menino desinteressado e relaxado do ano passado. Eu estava vendo a necessidade de se aprender cada vez mais e, com isso, ganhei um novo amigo.

Muitos na escola me chamavam de queridinho do professor, de puxa saco. Mas nunca dei bola, o professor Joaquim se tornou meu amigo. Em um certo dia, mais ou menos em Julho, convidei ele para tomarmos um café após a escola, fomos a uma lanchonete a duas quadras da escola, conversamos sobre a Ordem Mundial, Globalização, o possível crescimento da economia do Brasil. Eu queria ter todos os conhecimentos que ele tinha.

O fim do ano aproximava-se e com ele as férias. Diferente do ano anterior, já estava passado por média, as férias estavam garantidas. No último dia de aula, convidei meu professor para participar de nossa ceia de natal, junto a minha família, ele aceitou. No dia 24 de Dezembro lá estávamos nós: eu, meu pai, minha mãe e nosso convidado, o professor Joaquim. Tivemos muitas conversas, meu pai se interessava em saber sobre meu rendimento na escola, minha mãe perguntava a ele sobre suas viagens, e eu fiquei apenas parado, observando a felicidade de todos que estavam à mesa. Foi um dia inesquecível.

Começou o último ano do 2º grau. Foi um ano cansativo, fiquei dividido entre as provas escolares e as do vestibular que estavam por vir. Eu não tinha nem ideia do que iria cursar na faculdade, mas tinha certeza que precisaria estudar muito. Joaquim me ajudava em seu tempo livre, quando não tinha provas para corrigir ou aulas para preparar, ele me preparava para o vestibular, arrumava livros universitários e fazia listas de exercícios, eram muito difíceis. Quando finalmente chegou o fim do ano, estava pronto para as provas e decidido, queria cursar Direito.

No dia da formatura, resolvi o presentear com um mapa terrestre, aqueles em forma de globo, contei a ele sobre minha escolha da faculdade e pude ver que estava surpreso e orgulhoso, provavelmente não imaginava que aquele aluno preguiçoso chegaria tão longe. Ele foi meu professor preferido, claro que tive muitos outros professores, mas dele, nunca esqueci.

Um ano depois, soube que seu filho nasceu. Fui convidado a ir ao batismo e ser o padrinho da criança, aceitei o convite.  Seu filho foi batizado com o nome de Henrique Peixoto, um menino saudável e bem esperto. Infelizmente a faculdade me impedia de passar mais tempo com meu afilhado. À medida que meu afilhado crescia eu ficava mais distante dele e de meu grande amigo. Quando terminei minha faculdade, estava trabalhando em uma agência de advocacia. Depois de um ano trabalhando duro, recebi uma proposta, aceitei e viajei para a Europa.

Anos se passaram, eu já estava casado, tive meu primeiro filho e criei um negócio próprio, minha própria agência de advocacia, onde coloquei o lema: “O sucesso só se alcança lutando!”. Depois de 30 anos longe do Brasil, retorno para minha terra natal, encontrei meus pais, revi amigos. Mandei uma carta ao endereço do professor Joaquim, avisando para me encontrar na lanchonete próxima a escola. Chegando lá, me deparo com Henrique, conversamos um pouco, até que perguntei onde o seu pai estava, ele me falou, com uma voz triste, que o professor que eu tanto admirava, tinha morrido há dois meses. Ele me levou ao cemitério onde seu pai tinha sido enterrado. Lá ficamos por um bom tempo, olhando para a lápide, onde tinha escrito: Aqui jaz Joaquim Peixoto! “O sucesso só se alcança lutando!”.

Até hoje, me arrependo de nunca ter dado notícias minhas. Arrependo-me de nunca ter dito a ele que a sua frase estava certo. Mas o pior de tudo, me arrependo de nunca ter agradecido a ele, por tudo que fez por mim, pela ajuda que me ofereceu. Ele teve sucesso em sua vida, lutou para fazer o futuro de muitos ficarem melhor, e eu, sou um desses muitos. Sua missão como professor foi o sucesso de sua vida e ajudou a construir o meu sucesso.

Enfim, escrevi esta história, para vocês, jovens estudantes, nunca esquecerem que não importa o quanto uma matéria seja difícil ou o quanto o mundo fique contra vocês, respeite seu professor, pois ele será o melhor aliado que se pode ter. O professor é a ignição para o começo do nosso futuro. Ah! Jamais esqueça! Agradeça a quem luta por você todos os dias para ver seu sucesso, antes que seja tarde demais!


OBS: O texto acima é uma homenagem de um excelente aluno a este humilde professor!
  





  


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