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domingo, 25 de setembro de 2011

Ser criança


O texto foi escrito em 2010. Hoje meu filho tem oito anos, mas o sentimento é o mesmo.


SER CRIANÇA
Prof. Gilvan


            Quando piá, lembro ainda hoje, gostava de assistir o Pica-Pau, Pantera-Cor-de-Rosa, Tom e Jerry, Vila Césamo, O Sítio do Pica-Pau Amarelo, Ciborg – “o homem de cem milhões de dólares” (eram cem?), assim como tantos outros programas. Tempos bons aqueles. Melhor ainda quando, na penumbra da noite, meu pai contava suas histórias (Pedro Malasarte, A Esporinha de Prata ...). Eram sempre as mesmas narrativas, ainda assim ficávamos – eu e meus irmãos – absortos e envolvidos na trama. No fundo, o que nos encantava era a simples presença de Seu Antonio. Engalfinhávamos sobre a cama, cada qual buscando ficar mais próximo do pai. Saudade daquele tempo. Dizem que a infância hoje é diferente. Os brinquedos dispensam a criatividade e a imaginação, quando não qualquer espécie de esforço físico, contribuindo para (de)formação de levas e levas de crianças obesas. Pior do que a gordura que entope veias e artérias é a do tipo que entorpece os sentidos e a alma. Estaria o imaginário infantil definhando sobre o leito do chamado mundo moderno? A impressão que se tem é de que, desde muito cedo – feito os adultos – as crianças valorizam a aparência em detrimento da essência. O rótulo ao invés do conteúdo. O “ter” no lugar no “ser”. Caminhamos em direção à extinção da infância? O quadro, apesar de – às vezes – parecer desolador, guarda claros sinais de que os agourentos podem estar equivocados. Ainda pouco, observava meu filho de sete anos dormindo. Dormia feito criança! Os cílios em movimento denunciavam que, por detrás dos olhos cerrados, sonhava. Sonhos de criança. Talvez os heróis que habitam seus sonhos já não sejam os do meu tempo. Contudo, a sensação da aventura, do sobrenatural, da fantasia guarda profundas semelhanças com minha infância. A inocência e a esperança se fazem presentes. Nós, adultos – muitas vezes, inconscientemente tristes – , maiores responsáveis pelas desgraças trazidas pela guerra, pela cobiça, pela inveja, pela intolerância, pela mentira, pela indiferença, não temos o direito de apagar, mesmo que tênue centelha, a infância. Deixemos as crianças vivenciarem a infância. Sejamos como que faróis dessas pequenas caravelas que, mesmo sem o saberem, buscam um norte. Sirvamos de modelo, de exemplo. Tenhamos a destreza necessária para conciliarmos disciplina e amor, firmeza e ternura, renúncia e fantasia. Desejamos, nós adultos, um feliz Dia da Criança!   

2 comentários:

  1. Fantástico! Adorei o texto. Seja bem-vindo ao mundo dos blogs com certeza terei um enorme prazer em acompanhá-lo. Um abraço!

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