FILOSOFIA
Prof. Gilvan
Teixeira
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blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Um dos temas por nós trabalhados nas aulas de
Filosofia foi a “dialética”. Esta, como o próprio termo denota, pressupõe
diálogo, onde o confronto de ideias e pontos de vista é visto não como uma
ameaça, mas como algo necessário e positivo, pois que contribui na busca da
própria verdade. O processo dialético busca mostrar que as diferenças
existentes são matéria-prima na construção do próprio autoconhecimento. Este
estaria ameaçado não fosse a existência do “diferente”. A dialética, sem
dúvida, é um dos pilares da sociedade verdadeiramente democrática, da sociedade
que prima pela pluralidade e se mostra avessa a qualquer espécie de
totalitarismo. Contudo, vimos também, que o processo dialético, em hipótese
alguma, significa abandono aos fundamentos da lógica e da razão. Os diferentes
pontos de vista, quando confrontados, devem levar não a devaneios ou a um
interminável “relativismo”, mas – como já dissemos – à busca da verdade, por
meio da chamada “síntese” (resultante da relação entre “tese” e “antítese”). Daí
a importância de valorizarmos os chamados “contrários”, pois que fundamentais
na construção do conhecimento. A escola, a família, o Estado, a Igreja, os
meios de comunicação, enfim, a sociedade como um todo tem o compromisso de
formar indivíduos abertos ao diálogo, verdadeiro antídoto contra o preconceito
e a discriminação. Como, certa feita, disse Mandela, “ninguém nasce odiando
outra pessoa pela cor de sua pele ou ainda por sua religião. Para odiar, as
pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a
amar”. A cumplicidade de todos em prol de uma formação verdadeiramente “humana”
e solidária dos indivíduos faz-se cada vez mais urgente e necessária. Vivemos
hoje a chamada “pós-verdade”, onde imensas parcelas da população mundo afora,
independentemente de serem em países desenvolvidos ou não, vêm se isolando em
espécies de “bolhas” criadas muitas vezes por meio de algoritmos. Tais
“bolhas”, via de regra, trazem enormes prejuízos ao processo dialético, pois
tendem a aglutinar os “iguais” e isolar os “diferentes”. É bem verdade,
entretanto, que a “culpa” em relação ao problema deve-se, sobretudo, ao próprio
usuário e ao uso inadequado que ele faz da ferramenta (redes sociais, por
exemplo).
Outro tema, por nós bastante discutido nas últimas
aulas de Filosofia, diz respeito à “democracia”. Ao longo da história da
humanidade, vimos, a democracia jamais foi a tônica. Mesmo entre as cidades da
Grécia Antiga (Atenas, por exemplo), a participação popular era por demais
restrita, pois eram poucos os que, de fato e de direito, participavam das
decisões políticas. Na Europa da Idade Média, a participação não era maior,
afinal tratava-se de uma sociedade teocrática e feudal, onde uma ínfima parcela
da população (clero e nobreza) tinha acesso às decisões políticas. O
Renascimento da Idade Moderna e o Iluminismo da Contemporaneidade, em que pese
a importância de tais movimentos, não foram capazes de universalizarem os
ideais democráticos, por vezes ficando mais no universo do mero discurso inflamado.
No Brasil, a história não foi diferente. São quinhentos anos de escassez
democrática. As fases Colonial (1530 – 1822) e Monárquica (1822 – 1889), por
exemplo, estiveram marcadas pela escravidão e discriminação em relação à
mulher. A República (1889 aos dias de hoje), por sua vez, sempre mostrou-se
“manca”, assentada no coronelismo (República Velha, de 1889 a 1930) e na
ditadura (Vargas, de 1937 a 1945, e governos militares, de 1964 a 1985). Mesmo
nos escassos momentos de governos pretensamente “democráticos”, o país conviveu
e convive com a corrupção e péssimos serviços públicos prestados à população.
Finalmente, nossas aulas versaram, ainda, acerca das
chamadas “gerações” dos direitos. Temos os direitos de “primeira” (vida,
liberdade e propriedade), “segunda” (saúde, educação e lazer) e “terceira” (paz
e meio ambiente) gerações. Alguns autores falam, também, em “quarta” e “quinta”
gerações, os dois últimos relacionados à engenharia genética, cibernética e internet, por exemplo. No Brasil, assim
como em muitos outros países, tais direitos (de “primeira” à “quinta” gerações)
vêm sendo, diuturnamente, ofendidos e violados. Convive-se por aqui, por
exemplo, com o flagrante desrespeito aos direitos assegurados na Constituição
Federal e outros diplomas legais. Educação, saúde, segurança, moradia e
alimentação de qualidade seguem sendo privilégio de alguns, em que pese sermos
uma das maiores economia do mundo. Enquanto uma minoria se locupleta em
benefício próprio, acobertados por um Estado (Executivo, Legislativo e
Judiciário) marcado pela omissão, conivência e cumplicidade, a maioria de nossa
gente segue à mercê da própria sorte. Apesar de eventuais imperfeições, o maior
problema do país, certamente, não é a legislação, mas o efetivo cumprimento
dela. Nossa República precisa ser “refundada”, passando a estar assentada nos
valores verdadeiramente democráticos.
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