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domingo, 12 de janeiro de 2014

SONHOS E DEVANEIOS


SONHOS E DEVANEIOS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Enquanto o sonho insere-se no limite do possível, o devaneio é pura e inalcançável fantasia. Imaginar-se envolvido num romance hollywoodiano com a Gisele Bündchen regado a Armand de Brignac às margens do Sena, por exemplo, é escancarado devaneio. Não muito diferentes são os quadros que nascem dos discursos oficiais. A pautarmo-nos pelo que dizem as propagandas governamentais, vivemos no paraíso. Onde ficam mesmo as escolas, estradas e hospitais públicos veiculados nos meios de comunicação? Não os conheço. Não são daqui. Sou muito azarado, quem sabe. Passam de longe os corredores largos, asseados e quase vazios mostrados na telinha em horário nobre. As escolas daqui são sucateadas, pouco convidativas e nada instigadoras. Sobram problemas e faltam investimentos, na mesma medida que – feito ratos – corruptos e corruptores infestam os corredores e gabinetes de órgãos públicos. Onde vivo, a violência cresce e se banaliza, sob o olhar impotente, quando não omisso, do Estado. Os presídios por aqui despertam saudade dos calabouços medievais. Neles, o poder público não manda e, se duvidar, sequer entra. Neles, a vida não tem nenhum valor, fadadas que estão ao pérfido círculo vicioso do crime. Sob a égide do medo e da insegurança, tentamos criar nossos rebentos, nadando contra a maré e, muitas vezes, submersos pela política tributária extorsiva e insana do governo. Alimentamos um Estado perdulário e mastodôntico, que nem de perto cumpre com suas funções. Um Estado, portanto, cada vez mais desnecessário. Executivo, Legislativo e Judiciário têm sido um fim em si mesmos. Parecem existir tão somente para garantirem privilégios e interesses individuais e/ou de pequenos grupos. Não falam a linguagem do povo e com este não estão sintonizados. Não por acaso, muitos dos “figurões” de hoje são os mesmos de uma, duas, três ou mais décadas atrás. Reproduzem-se em nível federal, as mesmas relações coronelísticas tão comuns em alguns estados brasileiros, onde público e privado se confundem. Famílias que ontem governavam, seguem dando as cartas. Mudam o discurso aqui e ali, fazem plástica, lipoaspiração, implantam cabelos, mas as práticas seguem as mesmas. Enquanto isso, feito paspalhos, pagamos a alta conta. Somos, talvez sem sabermos, os principais responsáveis pela manutenção e perpetuação das relações de poder que permitem a existência de um país tão injusto, desumano e desigual. Um país bem distinto daquele produzido pelas perfumarias das grandes agências de publicidade, pagas a preço de ouro. O grande desafio é passarmos do Brasil do devaneio ao Brasil do sonho. Este último só será possível a partir de profundas transformações, capazes de subverterem o status quo. Comecemos pelo voto. Façamos dele uma poderosa ferramenta de mudança, feito a lança do principal personagem de Cervantes. Expurguemos, por meio das urnas, toda sorte de larápio, bem como aqueles que se associam a interesses espúrios. Firamos de morte o poder sombrio do coronelismo travestido de democracia que domina significativa parcela do território nacional. Meu voto, teu voto, nossos votos. O Brasil do sonho só nasce de uma construção que seja coletiva. Discuta política com sua família, amigos, colegas... Permita-se sonhar!


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