SONHOS E DEVANEIOS
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Enquanto o sonho insere-se no limite do possível, o
devaneio é pura e inalcançável fantasia. Imaginar-se envolvido num romance hollywoodiano com a Gisele
Bündchen regado a Armand de Brignac às margens
do Sena, por exemplo, é escancarado devaneio. Não muito diferentes são os
quadros que nascem dos discursos oficiais. A pautarmo-nos pelo que dizem as
propagandas governamentais, vivemos no paraíso. Onde ficam mesmo as escolas,
estradas e hospitais públicos veiculados nos meios de comunicação? Não os
conheço. Não são daqui. Sou muito azarado, quem sabe. Passam de longe os
corredores largos, asseados e quase vazios mostrados na telinha em horário
nobre. As escolas daqui são sucateadas, pouco convidativas e nada instigadoras.
Sobram problemas e faltam investimentos, na mesma medida que – feito ratos –
corruptos e corruptores infestam os corredores e gabinetes de órgãos públicos. Onde
vivo, a violência cresce e se banaliza, sob o olhar impotente, quando não
omisso, do Estado. Os presídios por aqui despertam saudade dos calabouços
medievais. Neles, o poder público não manda e, se duvidar, sequer entra. Neles,
a vida não tem nenhum valor, fadadas que estão ao pérfido círculo vicioso do
crime. Sob a égide do medo e da insegurança, tentamos criar nossos rebentos,
nadando contra a maré e, muitas vezes, submersos pela política tributária
extorsiva e insana do governo. Alimentamos um Estado perdulário e mastodôntico,
que nem de perto cumpre com suas funções. Um Estado, portanto, cada vez mais
desnecessário. Executivo, Legislativo e Judiciário têm sido um fim em si
mesmos. Parecem existir tão somente para garantirem privilégios e interesses
individuais e/ou de pequenos grupos. Não falam a linguagem do povo e com este
não estão sintonizados. Não por acaso, muitos dos “figurões” de hoje são os
mesmos de uma, duas, três ou mais décadas atrás. Reproduzem-se em nível
federal, as mesmas relações coronelísticas tão comuns em alguns estados
brasileiros, onde público e privado se confundem. Famílias que ontem
governavam, seguem dando as cartas. Mudam o discurso aqui e ali, fazem
plástica, lipoaspiração, implantam cabelos, mas as práticas seguem as mesmas. Enquanto
isso, feito paspalhos, pagamos a alta conta. Somos, talvez sem sabermos, os
principais responsáveis pela manutenção e perpetuação das relações de poder que
permitem a existência de um país tão injusto, desumano e desigual. Um país bem
distinto daquele produzido pelas perfumarias das grandes agências de
publicidade, pagas a preço de ouro. O grande desafio é passarmos do Brasil do
devaneio ao Brasil do sonho. Este último só será possível a partir de profundas
transformações, capazes de subverterem o status
quo. Comecemos pelo voto. Façamos dele uma poderosa ferramenta de mudança,
feito a lança do principal personagem de Cervantes. Expurguemos, por meio das
urnas, toda sorte de larápio, bem como aqueles que se associam a interesses
espúrios. Firamos de morte o poder sombrio do coronelismo travestido de
democracia que domina significativa parcela do território nacional. Meu voto,
teu voto, nossos votos. O Brasil do sonho só nasce de uma construção que seja coletiva.
Discuta política com sua família, amigos, colegas... Permita-se sonhar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário