O HOMEM DA CAPA
PRETA
Alice da Silva
Braga
EJA EMEB Fidel
Zanchetta – 2024
Quando eu era menina, não tinha luz elétrica, usávamos candeia à base de querosene. Fazíamos quase tudo enquanto havia luz do dia. À noite, sentávamos para ouvir e contar histórias. Minha mãe contava várias (tempo bom esse)...
Uma delas era sobre um homem que usava uma capa longa e preta. Naquela época, os homens se reuniam na venda, para beber e contar causos. Esse homem gostava muito de desafios e os outros o desafiavam a ir no cemitério e pregar um prego num túmulo. Mas não era em qualquer horário, era na madrugada, quando praticamente todos já haviam se recolhido.
Ele entrou no cemitério, logo depois da meia-noite. Calafrios percorriam seu corpo, suas pernas tremiam quase incontrolavelmente. Uma coruja piou, entre os túmulos um tatu se movimentou. Seu sangue gelou nas veias. Era terrivelmente assustador. Onde ele teria que pregar os pregos não era um túmulo qualquer. À época, contava-se causos de um coronel muito malvado, que viveu muitos anos no povoado. Os habitantes morriam de medo só de mencionar o nome dele.
Ele teria que pregar um prego, mas para provar que era muito corajoso resolveu pregar três. Quando foi se aproximando do túmulo, a coragem foi fugindo. Aí veio o pavor, mas como não podia desistir, teve que seguir em frente.
Chegando na hora de pregar os pregos, veio a parte mais difícil, pois suas mãos tremiam muito, mal podendo segurar os pregos. Deu a primeira martelada, a segunda e a terceira... O sangue gelando nas veias, mas finalmente conseguiu.
Terminando a empreitada, ele desesperado queria ir embora. Ao tentar sair, com as pernas trêmulas, não conseguiu... Algo o segurava! Foi então que entrou em pânico, tentou correr desesperadamente, mas sua capa estava presa. O pavor tomou conta dele e, então, caiu.
No dia seguinte, foram procurar por ele e o encontraram morto no cemitério, com a expressão de terror no rosto. Morreu do coração. Tinha pregado a própria capa no túmulo, sem perceber, e achou ter sido uma alma penada que o segurava.
Carimbado com
sangue.