SUPERANDO
O MANIQUEÍSMO
Gilvan
Teixeira
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blog:
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O
término da campanha presidencial de 2018, assim como a posse do novo
mandatário não foi capaz de sepultar a flagrante e danosa
polarização político-ideológica. Sobram, ainda, discursos vazios,
raivosos e recheados de chavões surrados que mais fazem lembrar
aquelas roupas cheirando a mofo. O país precisa, urgentemente,
superar o enfadonho e pernicioso maniqueísmo que atravanca o
desenvolvimento e impede a necessária “união nacional” em torno
daquilo que é, de fato, urgente e necessário ser combatido. A
desigualdade social é fruto, sobretudo, de uma ignóbil distribuição
de renda. Esta, por sua vez, vem sendo alimentada e reforçada pelos
vícios que maculam a história deste país, garantindo, por exemplo,
privilégios a determinados indivíduos, famílias e/ou grupos. O
arremedo de República que possuímos jamais conseguiu romper com a
cleptocracia, o clientelismo e a confusão entre interesses público
e privado. O Judiciário e o Legislativo – até por contarem com
orçamentos próprios (como se isso fosse garantia de independência
de Poderes…) - seguem completamente descolados da triste e
indecorosa realidade de nosso povo. Mostram-se incapazes de cumprirem
com seus papéis constitucionais, mais soando como um peso morto para
o contribuinte. Contaminados por interesses corporativos e espúrios,
bem como por conchavos e apadrinhamentos, tais Poderes há muito
convivem com o descrédito junto à população. Quanto ao Executivo…
Verdadeiro desastre, onde a má gestão confunde-se e mistura-se à
incompetência, desonestidade, descompromisso com a verdade e com as
normas mais elementares da Administração Pública. Não por acaso,
o Estado brasileiro (Executivo, Legislativo e Judiciário, em todos
os seus níveis) chegou onde chegou. Hoje, tem se mostrado
completamente desnecessário, pois que destituído de sentido.
Tornou-se o maior problema do país, insuportável fardo nas costas
do contribuinte. Este – por meio de uma carga tributária insana e
irresponsável – paga, paga e paga, sem o mínimo retorno que se
espera de um ente público sério e comprometido. Assim, saúde,
segurança, educação, infraestrutura seguem jogadas às moscas, com
imensuráveis prejuízos à população, especialmente daquelas
camadas mais pobres. Percebe-se, portanto, que são problemas e
desafios concretos a serem atacados e resolvidos. Discursos mais ao
centro, à direita ou á esquerda, por certo, são incapazes de
resolverem e desatarem os nós existentes. Pelo contrário, muito
comumente, desviam do foco e ajudam a reproduzir e perpetuar as
mazelas existentes. O que se deseja não é a existência de apenas
um “ponto de vista”, mas sim um pluralismo inteligente,
equilibrado, responsável e comprometido com o bem comum.
Apoiar
a livre iniciativa e o empreendedorismo, por exemplo, não significa
abrir mão da justiça social. Ser simpático à menor intervenção
do Estado na economia e na vida das pessoas não pressupõe
descompromisso com o interesse público. Posicionar-se favorável ou
contrariamente à flexibilização da posse de armas, à redução da
maioridade penal ou ao aborto, por exemplo, não atesta a idoneidade
ou grau de cidadania de quem quer que seja. São posicionamentos
individuais e/ou coletivos que precisam ser ouvidos, discutidos e
respeitados. As divergências existentes são salutares e
necessárias, porém devem convergir na mesma direção, qual seja, a
da superação das vergonhosas mazelas que, como metástase, têm
levado o país ao caos. Precisamos ter clareza acerca dos inimigos
que nos são comuns: corrupção, malversação do dinheiro público,
confusão entre público e privado, privilégios corporativos,
péssima e criminosa qualidade dos serviços públicos, violência de
toda sorte, sucateamento e precariedade da infraestrutura,
desemprego… Demandas, portanto, não faltam. São problemas tão
graves quanto complexos a exigirem muita competência, organização
e trabalho para superá-los.