UNIPARTIDARISMO: DEMOCRACIA A PIQUE
Gilvan Teixeira
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blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Dentre as marcas de um governo totalitário, merece
destaque a inexistência de partidos políticos ou, na melhor (pior?) das
hipóteses, o unipartidarismo. As ditaduras, ao que tudo indica, preferem esta
última “saída” à primeira. Assim, acreditam conseguir esconder suas práticas
espúrias por detrás de uma falsa imagem de democracia. Mantém-se o formalismo
e, sob seu teto, esconde-se a repressão a toda e qualquer espécie de oposição. O
último pleito, em muitos municípios gaúchos, revelou o que já sabíamos, a
saber, a flagrante tentativa de alguns setores em acabar com a dita “esquerda”.
Para tanto, há algum tempo, tem sido recorrente uma poderosa e milionária
propaganda midiática contra grupos políticos ideologicamente identificados com
o marxismo, por exemplo. O fracasso de tais partidos nas urnas, por certo, é
resultado, em parte, dos equívocos por eles praticados, traindo a esperança de
grande parcela da população, especialmente a mais pobre. Contudo, inegável é,
também, a orquestração de grupos políticos e econômicos com intuito de
espezinharem projetos alternativos que pudessem ou possam colocar em risco o
pérfido status quo. Para os “donos do
poder”, algumas plataformas soam como inaceitáveis, especialmente aquelas que
visam a distribuição de renda e o fortalecimento de políticas afirmativas. Demoniza-se
a “esquerda”, como se a “direita” fosse o repositório da solução à violência,
desemprego, precariedade da educação e saúde públicas. Ora, a história é
reveladora: foram os setores que hoje fazem apologia da moralidade e da ética
os que, ainda ontem, se locupletaram com os benesses da República Velha, do
voto de cabresto, do populismo, da ditadura... Como apregoar equidade e justiça
social com um passado maculado pela perfídia e insensibilidade em relação aos desvalidos?
Como discursar em favor da probidade frente a um passado improbo? Como falar em
esperança diante de uma história marcada pelo descaso quanto aos mais
necessitados? Respaldados, por vezes, num Judiciário falido e sem crédito,
alguns grupos políticos não conseguem disfarçar um misto de alegria orgástica e
doentia com o insucesso dos “adversários”. Estamos a caminhar em direção a uma
espécie de “unipartidarismo”, não literal obviamente. Ao contrário, nunca
tivemos uma miríade tão grande, confusa e insana de agremiações partidárias, a
maioria, verdadeiros balcões de negócio. São partidos ideologicamente vazios,
voltados à obtenção e/ou manutenção de privilégios individuais ou de grupos. A
pretensa “governabilidade” – comprada a preço de compadrios regados a cargos de
confiança, funções gratificadas e outras trocas de favores – é garantidora,
sobretudo, de vis privilégios e mesquinhos projetos pessoais de poder, em
detrimento do interesse coletivo. Ganham alguns poucos, enquanto perde a
sociedade como um todo. Tende-se a outra forma de “unipartidarismo”, travestido
de “base governamental”. A “governabilidade” é o pretexto favorito, apesar de
surrado, para incontáveis conchavos e troca de favores. À luz do dia, o
interesse público é violentado sob o olhar complacente daqueles que, por força
de lei (já que desconhecem a ética...), deveriam zelar pelo Estado democrático
de Direito. Serve a quem e para quem o arcabouço jurídico? Ao que tudo indica,
expressões como “impessoalidade” não passam de verbetes acadêmicos, indigestos
no mundo dos fatos. Caminhamos em direção a uma ditadura “branca”, sutil, mas
não menos cruel e danosa do que aquela que nos atormentou ao longo de duas
décadas. É sôfrega nossa democracia e combalida, apesar de teimosa, nossa
esperança. O futuro incerto aponta em direção às brumas, restando a
desconfiança de que marchamos em direção ao precipício.