À MINGUA
Gilvan Teixeira
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blog:
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Morrer à mingua. Conhecem a expressão? Certamente. O
problema é vivenciá-la, levá-la à literalidade. Seria, quem sabe, à letalidade?
É, o governo de Cachoeirinha, assim como do estado do Rio Grande do Sul, tem
conseguido dar vida às mais fúnebres expressões. Antes, cidade “dormitório”.
Hoje, cidade “pesadelo”. As aves que por aqui gorjeiam são as da pior espécie. Sujam
as ruas com suas fezes mal cheirosas, robustecendo o chorume da perfídia e da
vileza. O arrulho que soltam por entre os bicos lembram uma espécie de
insuportável mantra. Os mesmos bicos que não cansam de arrancar enormes nacos
da pouca carne que ainda resta do mísero contribuinte. Enquanto sobre a tribuna
da Casa do Povo pavoneiam-se algumas aves de rapina com aqueles discursos mal
elaborados, a denunciarem a fragilidade intelectual das mesmas, paira sobre a
cidade uma profunda escassez ética. Daí, talvez, tantas diárias gastas em
viagens obscuras e destituídas do mínimo pudor quanto ao dinheiro público. Qual
a intenção? Apagar as digitais e pegadas de práticas indecorosas? Por que
tantos cursos, seminários e simpósios? A ignorância não as abandona. Mal
conseguem articular meia dúzia de palavras. Por que tantas idas e vindas à
capital federal? Identificam-se, quiçá, com o ambiente daquela que é o maior
símbolo de nossa débil e fracassada República. Cachoeirinha está jogada às
moscas. Homicídios, latrocínios, roubos, estupros... Nada vale uma vida por
aqui. Buracos nas ruas confundem-se com os dos cachimbos do crack. O tráfico se alastra, multiplicando
o exército de zumbis que assombra a cidade e põe por terra qualquer faísca de
esperança. A sujeira das ruas entope não apenas as bocas-de-lobo, mas, ao que
parece, também as veias e artérias que alimentam a (in)consciência de quem
governa. Os já caóticos serviços públicos conseguem piorar dia após dia.
Crianças, mulheres e idosos veem suas dores sendo agravadas pelo nefasto
descaso do Poder Público em relação à saúde. Sobram filas, faltam médicos,
leitos e medicamentos. Sobra incompetência, falta humanidade. Alunos aprendem
cada vez menos. Entra ano, sai ano, e nossos pupilos seguem à margem do
conhecimento minimamente razoável. Quanto potencial desperdiçado em meio à
tamanha mediocridade. Enquanto recursos públicos esvaem pelo ralo – em parte,
para alimentar os “cortesãos” a mamarem nas tetas do Poder –, servidores
públicos concursados minguam. Homens e mulheres que, apesar de terem ingressado
pela “porta da frente”, seguem alijados dos “manjares” servidos à mesa. Sobram-lhes
menos do que as migalhas. Parcelam-lhes o salário e esfacelam sua dignidade. Não
bastasse, exigem deles abnegação e estoica resignação, numa brutal inversão de
valores, onde a vítima torna-se algoz. É duvidar, a dívida social recai sobre o
colo dos municipários, como se estes fossem os responsáveis pelos desmandos da
cidade. Cachoeirinha precisa reagir, expurgar os larápios de toda ordem e de
todas as espécies, inclusive aqueles que têm na lábia sua principal arma de
manutenção do poder e dos privilégios. Sirva teu voto na urna, como fogo na pira,
para queimar os cadáveres que teimam em levantar a cada pleito, infestando
nossa cidade com seu cheiro nauseabundo. Morram eles à mingua, e não os
valentes servidores que, como titãs, garantem alguma dignidade à Cachoeirinha.