O MENTECAPTO: PERGUNTAR NÃO OFENDE!
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
O mentecapto é assim mesmo. Insiste em pensar
bobagem. Atolado em seus devaneios, insiste ver chifre em cabeça de cavalo.
Pudesse, inquiriria os mais entendidos sobre dúvidas que o perseguem. Afinal,
perguntar não ofende, pensa. Como entender que o chefe de segurança de um ex-Secretário
de Segurança fosse, ao mesmo tempo, guarda-costas de um dos maiores traficantes
da região? Falta de informação, infelicidade, coincidência? O mentecapto não
acredita no acaso. Por mais que o tentem convencer de que não se pode confundir
alhos com bugalhos, segue pensando o pior. Teima em engolir a ideia de que o
principal responsável pela morte do traficante, cliente do chefe de segurança,
fosse preso e assassinado dentro do presídio. Como alguém que estava sob a
tutela do Estado foi asfixiado? Mais uma coincidência? Assim como fora
coincidência o fato de que a guarda responsável pela vigilância do preso fosse
uma novata? Mesmo ele, um mentecapto e, portanto, um idiota, sabe que aquele
preso, em especial, deveria receber atenção redobrada. O Secretário de
Segurança, ao que parece, não sabia. O governador, o Diretor do presídio, o
juiz e todos os outros agentes públicos também não sabiam. O mentecapto já não
sabe quem é, de fato, o imbecil. Está preocupado e temeroso em desconfiar que o
Estado tem flertado com o crime organizado. Tem calafrios só em pensar que as
mais altas lideranças e outros servidores de todos os Poderes possam, de alguma
maneira, se prostituir, vendendo suas consciências por algumas moedas, ainda
que manchadas pelo sangue que brota da violência associada ao tráfico. Tem
pesadelos ao imaginar que lobo e cordeiro, apesar da aparente distinção trazida
pela toga ou pela gravata, possuem a mesma essência e desmedida malícia. O
mentecapto anda desconfiado. Vê fantasmas por todos os lados. Já não dorme
direito, achando que o Apocalipse se avizinha. Mesmo a propaganda oficial, com
todas aquelas imagens, slogans e
frases de efeito, é incapaz de insuflar nele um pouco de ânimo. Lembra uma
barata tonta a escapar da morte que parece certa. O tempo arrefece a memória e
tende a amarelar as páginas do jornal. Quiçá, ali adiante, também o mentecapto
esqueça todas essas bobagens. Presídios controlados pelos encarcerados, ações
policiais abortadas pela carência de vagas nas cadeias, “prefeitos” que
determinam quem vive e quem morre nas galerias, pavilhões recheados de
celulares, bebidas, armas e drogas... Quanta besteira! O mentecapto, ao que se
vê, perdeu por completo o juízo. Exagera, inventa, vê o que ninguém mais vê.
Coitado. A lucidez, feito lampejos, raramente tem dado as caras. Já não sabe
quem “cheira”: ele, o traficante ou o Secretário. Alucinado, o idiota perambula
pelas fétidas ruas escuras e desertas, por vezes esbarrando num ou noutro monumento
coberto pela pichação. A cidade estaria cada vez mais feia ou tudo não passa de
uma visão distorcida pelo avanço da esquizofrenia? Achassem-no agora, o
tomariam por ébrio. Sem razão é claro, afinal tropeçava não nas pernas, mas nas
próprias ideias.