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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

SUPERANDO O MANIQUEÍSMO


SUPERANDO O MANIQUEÍSMO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


     O término da campanha presidencial de 2018, assim como a posse do novo mandatário não foi capaz de sepultar a flagrante e danosa polarização político-ideológica. Sobram, ainda, discursos vazios, raivosos e recheados de chavões surrados que mais fazem lembrar aquelas roupas cheirando a mofo. O país precisa, urgentemente, superar o enfadonho e pernicioso maniqueísmo que atravanca o desenvolvimento e impede a necessária “união nacional” em torno daquilo que é, de fato, urgente e necessário ser combatido. A desigualdade social é fruto, sobretudo, de uma ignóbil distribuição de renda. Esta, por sua vez, vem sendo alimentada e reforçada pelos vícios que maculam a história deste país, garantindo, por exemplo, privilégios a determinados indivíduos, famílias e/ou grupos. O arremedo de República que possuímos jamais conseguiu romper com a cleptocracia, o clientelismo e a confusão entre interesses público e privado. O Judiciário e o Legislativo – até por contarem com orçamentos próprios (como se isso fosse garantia de independência de Poderes…) - seguem completamente descolados da triste e indecorosa realidade de nosso povo. Mostram-se incapazes de cumprirem com seus papéis constitucionais, mais soando como um peso morto para o contribuinte. Contaminados por interesses corporativos e espúrios, bem como por conchavos e apadrinhamentos, tais Poderes há muito convivem com o descrédito junto à população. Quanto ao Executivo… Verdadeiro desastre, onde a má gestão confunde-se e mistura-se à incompetência, desonestidade, descompromisso com a verdade e com as normas mais elementares da Administração Pública. Não por acaso, o Estado brasileiro (Executivo, Legislativo e Judiciário, em todos os seus níveis) chegou onde chegou. Hoje, tem se mostrado completamente desnecessário, pois que destituído de sentido. Tornou-se o maior problema do país, insuportável fardo nas costas do contribuinte. Este – por meio de uma carga tributária insana e irresponsável – paga, paga e paga, sem o mínimo retorno que se espera de um ente público sério e comprometido. Assim, saúde, segurança, educação, infraestrutura seguem jogadas às moscas, com imensuráveis prejuízos à população, especialmente daquelas camadas mais pobres. Percebe-se, portanto, que são problemas e desafios concretos a serem atacados e resolvidos. Discursos mais ao centro, à direita ou á esquerda, por certo, são incapazes de resolverem e desatarem os nós existentes. Pelo contrário, muito comumente, desviam do foco e ajudam a reproduzir e perpetuar as mazelas existentes. O que se deseja não é a existência de apenas um “ponto de vista”, mas sim um pluralismo inteligente, equilibrado, responsável e comprometido com o bem comum.

     Apoiar a livre iniciativa e o empreendedorismo, por exemplo, não significa abrir mão da justiça social. Ser simpático à menor intervenção do Estado na economia e na vida das pessoas não pressupõe descompromisso com o interesse público. Posicionar-se favorável ou contrariamente à flexibilização da posse de armas, à redução da maioridade penal ou ao aborto, por exemplo, não atesta a idoneidade ou grau de cidadania de quem quer que seja. São posicionamentos individuais e/ou coletivos que precisam ser ouvidos, discutidos e respeitados. As divergências existentes são salutares e necessárias, porém devem convergir na mesma direção, qual seja, a da superação das vergonhosas mazelas que, como metástase, têm levado o país ao caos. Precisamos ter clareza acerca dos inimigos que nos são comuns: corrupção, malversação do dinheiro público, confusão entre público e privado, privilégios corporativos, péssima e criminosa qualidade dos serviços públicos, violência de toda sorte, sucateamento e precariedade da infraestrutura, desemprego… Demandas, portanto, não faltam. São problemas tão graves quanto complexos a exigirem muita competência, organização e trabalho para superá-los.

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