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terça-feira, 7 de agosto de 2018

CADA ESQUERDA TEM A DIREITA QUE MERECE


CADA ESQUERDA TEM A DIREITA QUE MERECE
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


        Não deveria surpreender a ascensão, no Brasil, de uma “direita” empunhando um discurso assentado no talião, na família “tradicional” e no “antipolítico”. Cada “esquerda” tem a “direita” que merece. Trata-se da já conhecida lei da ação-reação, onde o porvir refletirá aquilo que fazemos hoje, da mesma forma que as práticas pretéritas levam ao que hodiernamente se assiste. Da mesma forma que a redemocratização trouxe, em seu bojo, a ampliação dos direitos como resposta aos “anos de chumbo” das décadas de 1960 e 70, o fortalecimento da “direita”, hoje, nada mais é do que uma resposta às frustrações nascidas da dicotomia entre teoria e prática de governos ditos de “esquerda”. Os históricos e aparentemente atávicos problemas da educação, saúde e segurança não foram sequer minorados, quanto mais resolvidos, pelos governos alinhados ao, há muito surrado, discurso marxista. Vícios outrora combatidos – quando se estava na oposição – passaram a fazer parte do diabólico repertório do jeito de governar da “esquerda”. Carga tributária insana, confusão entre público e privado, promiscuidade e meretrício partidários, enriquecimento dos bancos, sucateamento dos serviços básicos, mendicância de estados e municípios frente ao centralismo do Planalto Central, incapacidade de transformar as riquezas do país em qualidade de vida para nossa gente, insignificância no cenário internacional, corporativismos de toda sorte, corrupção… Verdadeiro quadro da dor, onde os sete pecados capitais soam quase como brincadeira de criança. Infelizmente, a “esquerda” jogou ao lixo não apenas a esperança de milhões de brasileiros, mas a oportunidade de um “fazer” diferente. Movida pela desculpa da governabilidade, optou-se pelo presidencialismo de coalizão, vendendo-se a alma e a história de luta aos algozes que, desde sempre, vêm surrupiando nosso povo. Alianças espúrias e impudicas foram celebradas, desprezando a ética e a coerência. Não por acaso, coube – principalmente – à “base” a derrubada do famigerado governo da “esquerda”. Esta, portanto, colheu o que semeou. Não tardará, o país voltará às urnas. A “esquerda” precisa reconhecer os erros cometidos. Precisa, ainda, entender e aceitar que o Brasil – por sua extensão continental e formação cultural – é um país complexo, marcado por idiossincrasias, por vezes, irreconciliáveis. Urge, também, auscultar os sussurros de uma população refém do medo, ou os gritos de uma juventude que vê seu futuro esvaindo em meio à estreiteza de perspectivas. A “esquerda” precisa repensar-se antes de repensar o Brasil. Precisa submeter-se ao divã da humildade e forjar um novo pacto social, depurando suas fragilidades, seus vícios, seus discursos e suas posturas. Às demandas do século XXI, mostram-se inócuas as receitas do passado, ainda que bem intencionadas. A “esquerda” precisa entender que aqueles que dela discordam ou que, então, simpatizam com outras ideologias, têm o direito de fazê-lo, respeitados, por óbvio, os princípios da dignidade da pessoa humana e do verdadeiro Estado democrático de direito (não esse engodo que conhecemos...). A democracia não deve sepultar o antagonismo de ideias, sob o risco de enveredarmos para o caos. A “esquerda” precisa cortar na própria carne, rompendo, de fato, com práticas clientelistas e que têm levado este país ao jugo de uma cleptocracia asquerosa, insensível e desumana. Precisa quebrar os grilhões do corporativismo, que submete o interesse da maioria aos caprichos de alguns grupos que entravam o desenvolvimento social. Necessita romper com privilégios e com a cultura da “esmola”, pois que esta alimenta o coronelismo e a política de favores. À esquerda cabe propugnar por uma educação de qualidade, na formação de sujeitos autônomos, comprometidos, éticos e responsáveis. Lutar por um sistema tributário racional, justo e proporcional à capacidade econômica do contribuinte. Tensionar pela oferta urgente, com qualidade, de serviços públicos de saúde, diminuindo a dor, sofrimento e humilhação de milhões de brasileiros. Precisa sublevar-se frente à violência que ceifa vidas, combatendo o crime organizado em todas suas esferas, inclusive (principalmente...) estatal. Debruçar-se sobre políticas públicas de curto, médio e longo prazos, voltadas às diversas áreas, como transporte, moradia, saneamento, áreas estas que representam sérios gargalos a serem resolvidos. Somente assim teremos uma “esquerda” (e seu oposto, salutar e necessário) confiável, capaz de representar, a contento, importante parcela da população.

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