Translate

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

REFLEXÕES DE UM ALUNO

REFLEXÕES DE UM ALUNO[1]

     Assim como Albert Einstein já dizia: “Todo mundo é um gênio, mas se você julgar um peixe pela sua capacidade de subir em uma árvore, ele viverá toda a sua vida acreditando que é estúpido”.
                A educação a qual conhecemos foi originada no século XVII na Prússia, em uma época histórica chamada Despotismo Esclarecido, onde, basicamente, um rei comandava toda a sociedade através de suas expectativas e necessidades. Todavia, ele percebia que as pessoas estavam sendo influenciadas por um movimento que ocorria na França neste período, o Iluminismo, onde ideais de liberdade estavam sendo pregados e influenciados pelo mundo. Por conseguinte, ele teve a iniciativa de criar um sistema educacional para que as pessoas se adaptassem ao seu modo de governo, sem questionamentos. Foi criada a Escola do Povo, com o objetivo de “medianizar” todas as pessoas, em todas as disciplinas adotadas por ele, diminuindo a margem para o surgimento de gênios. Porém, ele percebeu que as crianças, filhas de seus súditos mais próximos, bem como seus próprios filhos estavam inseridos naquele sistema pífio de ensino que foi criado para a esfera pública. Em vista disso, criou a Verdadeira Escola, voltada para o “verdadeiro” ensino das crianças as quais eram ligadas aos sistemas governamentais e que futuramente herdariam o trono. Lá se exercitava tudo aquilo que as crianças tinham como habilidades, assim como disciplinas, tais como, por exemplo, humanidades, artes e sociologia, deixando de lado matérias que pareciam desnecessárias para o desenvolvimento humanístico desses jovens.
                Todos esses aspectos dissertados nos levam a uma semelhança com a Escola do Povo e com a Escola Moderna na qual estamos inseridos. Essa tal Escola Moderna que não só faz peixes serem obrigados a escalarem árvores, mas também a descerem e correrem. A exposição da dúvida é evidente; será que a escola se orgulha de fazer com que milhões de jovens se comparem a robôs, com esse sistema sórdido de ensino, mal adaptado para a sociedade atual? Fazendo com que crianças se assemelhem a peixes e as obrigando exercerem “atos insignificantes”. Pensam que são estúpidas e que não têm potencial. Quantas vidas e potenciais criativos serão “assassinadas” até tomarmos uma atitude? Este sistema, com certeza, já resistiu mais do que devia.
                A banda de rock progressivo Pink Floyd, já disse isso na década de 70, no disco “The Wall”, mais especificamente nas faixas de “Another Brick In The Wall” e “The Happiest Days Of Our Lives”. Nesse álbum há uma profunda crítica social, não só ao sistema escolar, mas também à maneira que o ser humano está se comportando e como a sociedade interfere na vida de cada um de nós.
                  O ser humano é o ser que tem a maior facilidade de adaptação. Para provar isso utilizamos a tecnologia como exemplo; ela foi evoluindo de acordo com as necessidades do ser humano. Quando nós não precisamos mais daquele objeto ou instrumento, deixamos de usá-lo. Para exemplificar: um telefone que foi usado há 150 anos convém ser utilizado hoje? A resposta é clara. Sua função já foi cumprida. Por isso, a tecnologia evoluiu e os smartphones chegaram ao mercado, para a adaptação, de acordo com as necessidades das pessoas.                             
                A escola de 150 anos atrás demonstrou alguma mudança para a adaptação do ser humano de “hoje em dia”? Olhemos para ela e não notaremos expressivas diferenças.
           Se a escola reivindica uma preparação de jovens para o futuro, é necessário a seguinte reflexão: por que nada mudou? Essa preparação é para o futuro ou para o passado?
                Essa escola foi criada para treinar pessoas, após a Revolução Industrial, para trabalharem em fábricas, o que explica o porquê dela colocar alunos em fila, sentados, calados e, caso haja a oportunidade de falar, é obrigatório levantar a mão para se expressar. Além disso, dá um pequeno intervalo para comer e socializar, e durante mais de cinco horas moldam o pensamento de cada criança, manipulando-a e dizendo o que é certo e errado de pensar. Alunos alienados disputando por uma nota dez, enquanto outros, verdadeiros gênios, acham que são insignificantes por não se compararem a estes.
            Até quando vamos criar adultos “medianos”? Quando vamos estimular pessoas para a genialidade? O mundo evoluiu. O ser humano evoluiu e precisamos parar de transformar pessoas em robôs e zumbis, e começarmos a dar valor à criatividade, inovação e criticidade, fazendo com que, de forma autônoma, as pessoas desenvolvam o dom de se “conectarem”.
Todas as pessoas são diferentes, e a ciência atesta que dois cérebros nunca serão iguais. Então por que a escola nos trata como fôrmas, moldando nosso jeito de pensar, dando-nos uma “medida que serve para todos”? Porém, segundo Richard Williams, se um médico prescrever exatamente o mesmo medicamento para todos, o resultado será catastrófico. Essa negligência também está presente na escola, onde o professor fica à frente de trinta ou quarenta pessoas, cada uma com diferentes habilidades, diferentes necessidades, diferentes dons, diferentes sonhos, ensinando todos da mesma maneira.
A profissão que os professores exercem deve ser valorizada, afinal este é o trabalho mais importante do planeta. Porém, continuam recebendo (ou quando recebem) um salário, muitas vezes é pouco para o próprio sustento. Não é de se admirar que a maioria das pessoas não possuem boa formação, ou são semianalfabetas ou, ainda, analfabetos políticos continuando a eleger aquelas mesmas figuras que destruíram nosso país. As grades curriculares são criadas por políticos, os quais sequer ensinaram algo em suas vidas. Eles são simplesmente obcecados por provas padronizadas, pensam que marcar um “X” em uma questão de múltipla escolha determina o quanto você é inteligente. Concluímos, que para essas pessoas estarem no poder, uma questão de múltipla escolha não é o melhor caminho a se tomar.  Esses testes são extremamente ultrapassados para serem utilizados. Isso deveria ser abandonado. O próprio Frederick J. Kelly, o homem que criou os testes padronizados, disse: “Essas provas são muito rudimentares para serem utilizadas”.
Se continuarmos acreditando que a mudança não é possível, o resultado será catastrófico. Devemos ter esperança. Esperança em nós mesmo. Ora, se conseguimos atualizar nosso perfil no Facebook, ou em nossos celulares, somos capazes de fazermos isso com a educação. Para que se acabem com essas aulas padronizadas devemos alcançar as necessidades de cada aluno dentro da sala de aula. Deve-se investir muito mais, por exemplo, na capacidade do ser humano de socializar e entender o espaço em que vive, valorizando seu espírito e sua cultura. Colocando, em primeiro plano, o papel do autoconhecimento, para uma evolução intelectual individual, em vista de uma sociedade mais harmoniosa. Isso não é uma utopia. Países como a Finlândia estão fazendo mudanças extraordinárias. Eles possuem horas reduzidas de aula, professores recebem um salário digno, e, além disso, as lições de casa foram abolidas e há um foco nos trabalhos em grupo, colaborativos, ao invés de objetivarem na disputa por essa “inteligência” adotada por provas padronizadas. Há uma preparação do jovem para ser um ser humano disposto a conviver em um meio social, com a valorização da consciência e do psicológico de cada jovem. Mas a melhor parte é que o resultado é mais efetivo do que qualquer outro país. Além da Finlândia, países como Singapura estão evoluindo rapidamente, com criação de programas escolares como Khan Academy.
Eu acredito nesse mundo. Um mundo onde os peixes não são forçados em subir em árvores. Um mundo onde, nós, seres humanos possamos ser valorizados pelo que realmente somos. Porém, repito, isso não é uma utopia, é apenas um mundo mais justo, focando-se no desenvolvimento do indivíduo.




[1] O texto é de responsabilidade de seu autor, o aluno Thiago Lermen, Turma 33, do Instituto de Educação São Francisco.

Um comentário:

  1. A escola deve se constituir num ambiente privilegiado para reflexão propositiva. Nossos jovens precisam ultrapassar o limite da mediocridade, sob o risco de, não o fazendo, serem sepultados pela mais absoluta ignorância. Espero que muitos outros alunos,como o Thiago, se lancem à escrita. Abraço deste eterno aprendiz.

    ResponderExcluir