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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

LEVEDAR

LEVEDAR[1]
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Era uma vez um certo padeiro. Fazia não apenas pão, mas operava milagres. Nascido e criado de forma humilde, tornou-se mais do que um simples homem, mas um GRANDE HOMEM. Apesar das inúmeras dificuldades e incontáveis obstáculos, tornou-se um exemplo de esposo, pai, padeiro e professor. Mal sabia ele que, ao contrário do que pensava, muito mais ensinava do que aprendia. Semanalmente, todas as quintas, lá estava ele, discreta e silenciosamente, a depositar um enorme pão caseiro sobre a mesa da biblioteca. Duvidasse, esquivava-se antes mesmo de receber um simples “obrigado”. Dava sem esperar nada, absolutamente nada, em troca. O humilde gesto reacendia a chama de que é possível construir um mundo melhor. O pão depositado por ele servia a todos, independentemente de ideologias, tez partidária, posição hierárquica, etnia, gênero ou credo. O pão parecia levedar o sentimento de partilha. Um a um, iam fatiando o alimento, fazendo-o multiplicar. Foram dois anos (quatro semestres), distribuindo, acima de tudo, a poderosa e genuína mensagem do amor e de seus frutos, cada vez mais esquecidos. A partilha do pão é emblemática. Pressupõe despojamento, perdão, equidade, solidariedade, empatia. É um ato de hombridade e humanidade. Não por acaso, Cristo o dividiu e, antes d’Ele, o salmista fez menção aquele que dá vigor ao homem. Antes de padeiro, professor! Quanta sabedoria por detrás da ação singela. Eis aí o verdadeiro testemunho. O verdadeiro mestre convence menos pela palavra do que pelo exemplo. Este sim é capaz de fomentar profundas e avassaladoras mudanças. Seja a escola o espaço para levedura das grandes transformações, onde, assim como o padeiro, aprendamos a amassar o pão. Arte que exige técnica, paciência, confiança, esperança. Moldemos e nos deixemos moldar. Sem pressa, soberba ou desconfiança quanto à capacidade do “outro” em modificar-se ou nos modificar. A “massa” precisa estar para o padeiro, assim como o barro para o oleiro. Trata-se não de uma relação desigual, mas, acima de tudo, de uma necessária e produtiva cumplicidade, assentada no respeito, no diálogo e no reconhecimento do “outro” como sujeito indispensável à nossa própria existência. Meus parabéns ao Sr. Aury, e ao fazê-lo, parabenizo todos os formandos do primeiro semestre de 2017 da EMEF Fidel Zanchetta. Deus nos abençoe!



[1] Texto em homenagem ao Sr. Aury, formando do Bloco 9aB (primeiro semestre de 2017), da EMEF Fidel Zanchetta. 

sábado, 19 de agosto de 2017

CACHORRO, SOMOS NÓS...

CACHORRO, SOMOS NÓS...
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Verdadeira ofensa à classe dos mammalias e à família dos canidaes, a declaração de um ministro do STF não surpreende. Deixa às claras o que há muito é sabido: o Judiciário, nem de perto, é sinônimo de ética ou credibilidade. Os mesmos vícios, que deveriam ser exemplarmente punidos pela caneta do magistrado, tangenciam a conduta de inúmeros juízes Brasil à fora, da primeira à última instância, da longínqua comarca do interior à mais alta Corte. Os valores trazidos na cartilha são letra-morta, sucumbem frente à consciência putrefata daqueles que usam a normativa jurídica para defesa de interesses escusos. Hermético é não apenas o “juridiquês”, mas o corporativismo doentio que, historicamente, vem sangrando os cofres públicos e cristalizando privilégios, em detrimento do interesse público. Donos de uma falsa moral, não são poucos os togados que, feito abutres, alimentam-se da carniça de um país combalido e sôfrego. Ao que tudo indica, fazendo uso da verborreia do ministro que acredita ser Deus, o Judiciário – não apenas, e eventualmente, o instituto do habeas corpus – tem, muito comumente, se tornado um “valhacouto de covardes”. O dito ministro, ao que tudo indica, parece também ter confundido a relação entre o cachorro e seu rabo. Precisa entender que ele, SERVIDOR PÚBLICO, é o “rabo”, enquanto quem o paga (a quem ele chama de “opinião pública”) é o “cachorro”.  Tantos anos enfiado em seu gabinete, embasbacado entre incontáveis benesses, talvez o tenha feito perder o sentido da dura realidade da maioria de nosso povo. Não se ponha a carreta na frente dos bois, “Excelência”! Não passas de um “rabinho”, pois que insignificante diante daquele que te dá sentido. Cachorro, e dos grandes, somos nós! Infelizmente, cachorro cotó, pois que, lamentável e vergonhosamente, o nosso “rabo” tem sido de pouca serventia. Apesar de viver às custas de seu dono, mais tem estorvado do que ajudado. Não abana e nem tampouco espanta as moscas. Não denota tristeza, dor ou felicidade. Faz lembrar o apêndice, só lembramos dele quando inflama. Passou da hora do rabo colocar-se no seu devido lugar, assim como o Judiciário no seu. Saia este do meio entre as pernas da malfadada República e cumpra, já, com seu papel. Urge refundarmos este país, saldando a imensa dívida com seus cidadãos, sequiosos por serviços públicos de qualidade, necessitados de justiça social e cansados de tamanha exploração.