Translate

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

BORRA BOSTA BRASILIENSIS



BORRA BOSTA BRASILIENSIS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Nossa terra tem sido pródiga em gerar borra bostas de toda espécie. Não apenas em gerá-los, mas em sustentá-los. Pari-se borra bostas a todo instante. Centenas e centenas, todos os dias. É facilmente identificável um borra bosta em potencial. Mimado, indisciplinado, avesso a compromissos. Incapaz de mirar além do próprio umbigo, cresce e se fortalece em meio à permissividade, omissão e condescendência familiares. A frouxidão paterna e/ou materna, como seiva, alimenta o borra bosta que, como câncer em metástase, irônica e impiedosamente, compromete o próprio berço que lhe abriga. Egocêntrico, insensível à dor alheia, narcisicamente contempla o mundo como se este fosse sua própria selfie. Zomba da autoridade, viola os mais elementares princípios éticos, desconhece a hierarquia e espezinha quem o contradiz. Como déspota, dita regras e vira as costas às leis, ainda que morais. Adolescente, segue no caminho do hedonismo desenfreado, mantendo seu castelo, ora por meio do baseado malcheiroso ou do consumismo doentio, ora, ainda, através de pichações, vandalismo e outros malfeitos. O "barato” e adrenalina – a custo do sofrimento de terceiros – alimentam o prazer descabido e escamoteiam um profundo vazio. O borra bosta, já adulto, carece dos pressupostos indispensáveis ao convívio social. Mesmo que diplomado, togado e titulado, o borra bosta mal consegue disfarçar o fétido odor do próprio estrume. Perfumes caros, charutos cubanos, bebidas famosas ou “milhas” de viagem são insuficientes para transformarem o borra bosta num cidadão de respeito. Mais vale a mão calejada do que a do gatuno. Mais vale o linguajar simples do que a verborreia jurídica do magistrado corrupto. O que são os dentes perfeitos da madame sustentada pelo dinheiro sujo, comparados à gargalhada sincera da camponesa banguela? Ética, honestidade, respeito, amor, são virtudes sem preço. O borra bosta, acostumado a levar vantagem em tudo (certo?), não esconde seu indescritível prazer em receber, sobre si, os holofotes de uma sociedade acostumada a privilegiar a aparência. A mesma sociedade que, logo ali adiante, engrossa o coro criticando o desvio de conduta do borra bosta. Triste contradição. O borra bosta é não um ponto fora da curva, mas produto da própria curva. Urge olharmos para as próprias entranhas, dissecá-las, compreendê-las. As condenáveis práticas do borra bosta resultam, sobretudo, do caldo cultural que nós construímos. Corrupção, privilégios espúrios, narcisismo doentio, insensibilidade social são pragas nascidas, criadas e cevadas, primeiro, no seio familiar. Sim, é a família a grande incubadora do borra bosta. Serve ela de casulo à erva daninha. A conivência dos genitores, como placenta, envolve o borra bosta, colocando-o a salvo de eventuais sanções. Mostrando-se insuficiente, apela-se à judicialização. A ideia da hipossuficiência, muito comumente, esconde outra inversão, que não apenas a da “prova”, mas a de valores. É quando, então, a sentença proferida fere de morte a esperança numa sociedade melhor. Reajamos, portanto. Lutemos contra a pérfida tendência de transformação de nossas crianças e jovens em borra bostas. Tiremos o “não” do breu do esquecimento, resgatemos a disciplina e hierarquia, verticalizemos as relações entre os “desiguais”, sem jamais perder de vista, é claro, o amor e o respeito. Deixemos claro os “papeis” de cada um, com seus respectivos ônus e bônus. Combatamos a falácia da pretensa “democracia” que, perdida em seu relativismo inconsequente, tem carcomido a já combalida teia social. Controlemos o que nossos pequenos veem, escutam, vestem, consomem. Fiscalizemos como e o que aprendem. Dialoguemos com a escola, participando ativamente do processo ensino-aprendizagem. Jamais façamos vistas grossas à indisciplina e desobediência dos pupilos, usando da correção necessária e adequada. O amor é exigente, compromissado, cúmplice. Amar é educar, vigiar, cuidar, corrigir. É ele, o amor, o grande antídoto no combate à proliferação do borra bosta.  

domingo, 4 de dezembro de 2016

A BASTILHA



A BASTILHA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

                Menos pomposa e conhecida do que a de Paris, a Bastilha do Planalto Central quiçá tenha um destino parecido com a da capital francesa. Tomada pelos ratos da República, a Bastilha tupiniquim tem servido de palco não apenas a longos discursos vazios e mal escritos, mas à aprovação de leis que reforçam o status quo perverso, marginalizando a maior parte de nossa gente. Historicamente usurpada por uma classe política eleita, muitas vezes, por meios espúrios, a Bastilha do Planalto Central tem sido não fonte de esperança de um povo, mas de vergonha e descrédito no presente e no porvir. Não por acaso, na calada da noite, leis são gestadas e aprovadas, escarnecendo o interesse público e violentando, despudoradamente, a vontade popular. Acastelados em seus interesses inconfessáveis, acostumados a ardis e mesquinhas práticas, escondidas sob a máscara do foro privilegiado, larápios de toda espécie infestam a Bastilha. Enfiados em seus ternos bem alinhados, fajardos lotam os gabinetes. Estes, como bueiros, exalam o mau cheiro das consciências corrompidas pela ganância. A mesa farta da Bastilha, a contrastar com a fome do povo, só faz recrudescer a ignominiosa contradição. Enquanto o contribuinte, o trabalhador, o produtor e o empresário honesto veem o próprio suor escorrer pelo rosto e os vinténs fugirem pelo sumidouro da insana carga tributária, facínoras regurgitam seus dólares em contas secretas nos paraísos fiscais. Feito piranhas, os ocupantes da Bastilha, com maestria e invejável agilidade, unem-se para rasgarem a carne do brasileiro, num frenesi doentio e sem limite. É duvidar, sequer ficam os ossos para contarem a história. Ideologias e siglas partidárias são postas de lado, revelando o instinto assassino da bandalheira da Bastilha. Desdenham e traem o eleitor, fazendo pouco caso das promessas de campanha. Feito vermes, não têm palavra. Desonestos, indignos, repugnantes. Ao morrerem, não deixarão saudade e a história há de sepultá-los na vala comum dos indigentes, não daqueles sem posses, mas dos destituídos do maior patrimônio da pessoa humana, a saber, os valores universais e atemporais da ética, verdade e hombridade. Fazem lembrar não homens, mas moscas em torno da própria imundice. Seus perfumes caros, automóveis potentes, coberturas luxuosas e rechonchudos saldos bancários são insuficientes para torna-los verdadeiros homens e mulheres. Desmerecem a Bastilha. Esta não é para eles. Desratizemos seus corredores e usemos de todos os meios para torná-la um símbolo nacional. Pelo voto ou pelo fórceps, extirpemos a praga que tomou conta da Bastilha. Esta é patrimônio do povo.