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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

UNIPARTIDARISMO: DEMOCRACIA A PIQUE

UNIPARTIDARISMO: DEMOCRACIA A PIQUE
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Dentre as marcas de um governo totalitário, merece destaque a inexistência de partidos políticos ou, na melhor (pior?) das hipóteses, o unipartidarismo. As ditaduras, ao que tudo indica, preferem esta última “saída” à primeira. Assim, acreditam conseguir esconder suas práticas espúrias por detrás de uma falsa imagem de democracia. Mantém-se o formalismo e, sob seu teto, esconde-se a repressão a toda e qualquer espécie de oposição. O último pleito, em muitos municípios gaúchos, revelou o que já sabíamos, a saber, a flagrante tentativa de alguns setores em acabar com a dita “esquerda”. Para tanto, há algum tempo, tem sido recorrente uma poderosa e milionária propaganda midiática contra grupos políticos ideologicamente identificados com o marxismo, por exemplo. O fracasso de tais partidos nas urnas, por certo, é resultado, em parte, dos equívocos por eles praticados, traindo a esperança de grande parcela da população, especialmente a mais pobre. Contudo, inegável é, também, a orquestração de grupos políticos e econômicos com intuito de espezinharem projetos alternativos que pudessem ou possam colocar em risco o pérfido status quo. Para os “donos do poder”, algumas plataformas soam como inaceitáveis, especialmente aquelas que visam a distribuição de renda e o fortalecimento de políticas afirmativas. Demoniza-se a “esquerda”, como se a “direita” fosse o repositório da solução à violência, desemprego, precariedade da educação e saúde públicas. Ora, a história é reveladora: foram os setores que hoje fazem apologia da moralidade e da ética os que, ainda ontem, se locupletaram com os benesses da República Velha, do voto de cabresto, do populismo, da ditadura... Como apregoar equidade e justiça social com um passado maculado pela perfídia e insensibilidade em relação aos desvalidos? Como discursar em favor da probidade frente a um passado improbo? Como falar em esperança diante de uma história marcada pelo descaso quanto aos mais necessitados? Respaldados, por vezes, num Judiciário falido e sem crédito, alguns grupos políticos não conseguem disfarçar um misto de alegria orgástica e doentia com o insucesso dos “adversários”. Estamos a caminhar em direção a uma espécie de “unipartidarismo”, não literal obviamente. Ao contrário, nunca tivemos uma miríade tão grande, confusa e insana de agremiações partidárias, a maioria, verdadeiros balcões de negócio. São partidos ideologicamente vazios, voltados à obtenção e/ou manutenção de privilégios individuais ou de grupos. A pretensa “governabilidade” – comprada a preço de compadrios regados a cargos de confiança, funções gratificadas e outras trocas de favores – é garantidora, sobretudo, de vis privilégios e mesquinhos projetos pessoais de poder, em detrimento do interesse coletivo. Ganham alguns poucos, enquanto perde a sociedade como um todo. Tende-se a outra forma de “unipartidarismo”, travestido de “base governamental”. A “governabilidade” é o pretexto favorito, apesar de surrado, para incontáveis conchavos e troca de favores. À luz do dia, o interesse público é violentado sob o olhar complacente daqueles que, por força de lei (já que desconhecem a ética...), deveriam zelar pelo Estado democrático de Direito. Serve a quem e para quem o arcabouço jurídico? Ao que tudo indica, expressões como “impessoalidade” não passam de verbetes acadêmicos, indigestos no mundo dos fatos. Caminhamos em direção a uma ditadura “branca”, sutil, mas não menos cruel e danosa do que aquela que nos atormentou ao longo de duas décadas. É sôfrega nossa democracia e combalida, apesar de teimosa, nossa esperança. O futuro incerto aponta em direção às brumas, restando a desconfiança de que marchamos em direção ao precipício.