Translate

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

INDEPENDÊNCIA, PARA QUEM?


INDEPENDÊNCIA, PARA QUEM?
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Cento e noventa e quatro anos! Sonho duradouro este, não é mesmo? Quase dois séculos de história, desde a dita “independência” e continuamos como que a sonhar. A ideia de um país verdadeiramente livre, justo e solidário segue ainda no plano do discurso, vez por outra inflamado pela disputa eleitoral. A prosperidade até que deu as caras por aqui, mas apenas para uma minoria. Enquanto isso, a maioria de nossa gente – assim como os escravos de outrora – segue à margem da boa qualidade de vida. Nossa pátria tem sido “gentil” apenas para alguns poucos. Educação, saúde, segurança, assim como a renda, têm faltado à maioria. A grandeza do território e a pujança do subsolo contrastam com a esperança esfarrapada de nosso povo. Enormes clareiras, impulsionadas pela ganância, vêm acabando com o verde da bandeira, enquanto o amarelo tem sido surrupiado pela corrupção endêmica que contamina todas as esferas do Poder. O azul, há horas sombreado pelas brumas do egoísmo, ostenta não mais estrelas, mas pontas de baseados embebidas no cheiro nauseante saído de cachimbos tomados de pedra que levam à morte. O que antes era branco, agora é luto. Ouve-se, por toda parte, gritos de socorro. Mães desesperadas veem seus rebentos serem tragados pelo tráfico e por toda sorte de violência. Para elas, filhos. Para o Estado, números. Para elas, a tristeza e saudade eternas. Para o Estado, estatísticas. O que vale a vida por estas terras? Um par de tênis, um boné, um celular, um carro ou, quem sabe, um punhado de reais? Como bastardos, não temos sido reconhecidos por este país. A Constituição, feito letra morta, pouco mais serve do que carne putrefata aos vermes e abutres vestidos em suas togas a pousarem em tribunais asseados e astronomicamente distantes da realidade de quem os sustenta. É, o tempo passou e a real independência não veio. Por que então comemorar? Há razões para fazê-lo? Sim e não são poucas. Muitos são os que ainda teimam em crer no amanhã. Mais do que “crer”, levantam todo dia dispostos a “agir”, transformando mera intenção em ação. Estudantes, professores, serventes, porteiros, operários, empresários, médicos, advogados, servidores públicos... Empregados, patrões, desempregados, aposentados, pensionistas... Letrados, analfabetos, atletas, enfermos... Enfim, um universo de crianças, jovens, homens e mulheres que teimam em fazer “seu melhor”. Não titubeiam em optar pelo caminho da ética, da alteridade e da resiliência, esta jamais confundida com subserviência. Amigos que são da verdade e da justiça, enjeitam o dinheiro fácil e desonesto. Trilham o caminho da (auto)disciplina e do interesse coletivo, sem perder de vista o respeito às diferenças, ainda que incômodas. Não menor do que o Brasil, é o senso de justiça que brota em meio à indiferença e desesperança. No interior das casas, escolas, fábricas, hospitais, quarteis, igrejas e canteiros de obra pulsa uma esperança propositiva, irrequieta, explosiva, capaz de subverter qualquer status quo, ainda que com aparência atávica. Ora, que a fajuta independência registrada nos livros didáticos possa dar lugar à verdadeira, a saber, uma independência construída no dia-a-dia, nas relações de poder estabelecidas entre pais e filhos, homens e mulheres, governantes e governados, professores e educandos. País independente é aquele que prima pelo respeito à dignidade da pessoa humana, pela proteção e valorização da vida, pela educação fundada na qualidade, pela aplicação impessoal da lei, pela garantia de oportunidades iguais a todos, pela manutenção da ordem respaldada na soberania popular e pela capacidade de manter acesa a tão necessária esperança. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

ROSAS, AINDA QUE COM ESPINHOS

ROSAS, AINDA QUE COM ESPINHOS...
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Há muito, nossa cidade sente falta do frescor das rosas. Estas, sufocadas pela insensibilidade fria do concreto e do asfalto, parecem ter sucumbido. Contudo, feito a esperança, ainda que tênue, o perfume das rosas resiste à maldade humana e teimosamente borrifa o ar com seu inigualável cheiro. Mesmo o mais forte odor do chorume, resultante do  engodo e da falta de ética, se mostra incapaz de liquidar, por completo, a simples – mas poderosa – fragrância das rosas. Insuperáveis na capacidade de encantarem, não são poucos os que tentam criar artifícios com o vão intuito de imitá-las. Imbecis. Não sabem eles que a beleza das rosas reside na simplicidade? Esta não tem preço. Rosas são belas não por serem caras, mas por serem tão-somente rosas. Ao contrário dos vermes camaleônicos que mudam de tez partidária conforme a direção do vento e de acordo com os interesses espúrios e inconfessáveis, consubstanciados em projetos de poder, as rosas permanecem firmes e resolutas. Esperam e querem ser aceitas como são: rosas. Os espinhos são tidos por elas não como empecilho ou vergonha, mas como virtude. Através deles, as rosas falam e sentem-se vivas. Como porta-vozes, os espinhos nos fazem lembrar que somos homens, portanto mortais. Daí, quem sabe, serem as rosas mal quistas pelos ditadores e por aqueles que se veem como eternos. Impérios são desnudos ante o poder avassalador dos espinhos. Pode alguém resistir à imperiosa verdade revelada pelas rosas? Cachoeirinha precisa mais de rosas. As ruas escuras e tomadas pelo medo, enlameadas pelas drogas que entorpecem e transformam gente em trapo, gritam por socorro. Indigentes, prostitutas, trabalhadores e toda sorte de gente esquecida pela “mãe gentil”, feito gado no abatedouro, lutam contra um destino aparentemente selado. O sorriso forçado e o impecável traje do candidato estampado na foto ao fundo só faz esgaçar o vergonhoso fosso entre governantes e governados. A quem pertence a cidade? Assim como as rosas, homens e mulheres de bem foram perdendo espaço para homicidas, estupradores, estelionatários, corruptos, traficantes e falsos políticos. Falsos porque fazem da política ferramenta para enriquecimento próprio. Sevem-se do eleitor e locupletam-se, fazendo do Estado meio para obtenção de vantagens sórdidas e mesquinhas. Tamanho egocentrismo e ganância mal cabem no interior do terno alinhado. Brincam e zombam da lei, sob o olhar embasbacado de um Judiciário pífio. Assim como as rosas, homens e mulheres de bem existem não para serem ardilosamente manipulados. Cachoeirinha precisa mais de rosas. Contagiem a cidade com sua beleza! Jamais seja a delicadeza das rosas confundida com subserviência. Rosas são pétalas, mas também espinhos! Afagam, mas também espetam! Fazem-se presentes entre apaixonados e debutantes, mas também entre seguidores do féretro. Aparecem no altar, mas também sobre a lápide. Invadam as rosas os espaços públicos! Ocupem a Câmara e demais repartições públicas! Espalhem seu bálsamo sobre a política da cidade, dando-lhe real significado e fazendo ressurgir a necessária e indispensável esperança. Cachoeirinha precisa mais de rosas!