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domingo, 11 de setembro de 2016

À MINGUA

À MINGUA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Morrer à mingua. Conhecem a expressão? Certamente. O problema é vivenciá-la, levá-la à literalidade. Seria, quem sabe, à letalidade? É, o governo de Cachoeirinha, assim como do estado do Rio Grande do Sul, tem conseguido dar vida às mais fúnebres expressões. Antes, cidade “dormitório”. Hoje, cidade “pesadelo”. As aves que por aqui gorjeiam são as da pior espécie. Sujam as ruas com suas fezes mal cheirosas, robustecendo o chorume da perfídia e da vileza. O arrulho que soltam por entre os bicos lembram uma espécie de insuportável mantra. Os mesmos bicos que não cansam de arrancar enormes nacos da pouca carne que ainda resta do mísero contribuinte. Enquanto sobre a tribuna da Casa do Povo pavoneiam-se algumas aves de rapina com aqueles discursos mal elaborados, a denunciarem a fragilidade intelectual das mesmas, paira sobre a cidade uma profunda escassez ética. Daí, talvez, tantas diárias gastas em viagens obscuras e destituídas do mínimo pudor quanto ao dinheiro público. Qual a intenção? Apagar as digitais e pegadas de práticas indecorosas? Por que tantos cursos, seminários e simpósios? A ignorância não as abandona. Mal conseguem articular meia dúzia de palavras. Por que tantas idas e vindas à capital federal? Identificam-se, quiçá, com o ambiente daquela que é o maior símbolo de nossa débil e fracassada República. Cachoeirinha está jogada às moscas. Homicídios, latrocínios, roubos, estupros... Nada vale uma vida por aqui. Buracos nas ruas confundem-se com os dos cachimbos do crack. O tráfico se alastra, multiplicando o exército de zumbis que assombra a cidade e põe por terra qualquer faísca de esperança. A sujeira das ruas entope não apenas as bocas-de-lobo, mas, ao que parece, também as veias e artérias que alimentam a (in)consciência de quem governa. Os já caóticos serviços públicos conseguem piorar dia após dia. Crianças, mulheres e idosos veem suas dores sendo agravadas pelo nefasto descaso do Poder Público em relação à saúde. Sobram filas, faltam médicos, leitos e medicamentos. Sobra incompetência, falta humanidade. Alunos aprendem cada vez menos. Entra ano, sai ano, e nossos pupilos seguem à margem do conhecimento minimamente razoável. Quanto potencial desperdiçado em meio à tamanha mediocridade. Enquanto recursos públicos esvaem pelo ralo – em parte, para alimentar os “cortesãos” a mamarem nas tetas do Poder –, servidores públicos concursados minguam. Homens e mulheres que, apesar de terem ingressado pela “porta da frente”, seguem alijados dos “manjares” servidos à mesa. Sobram-lhes menos do que as migalhas. Parcelam-lhes o salário e esfacelam sua dignidade. Não bastasse, exigem deles abnegação e estoica resignação, numa brutal inversão de valores, onde a vítima torna-se algoz. É duvidar, a dívida social recai sobre o colo dos municipários, como se estes fossem os responsáveis pelos desmandos da cidade. Cachoeirinha precisa reagir, expurgar os larápios de toda ordem e de todas as espécies, inclusive aqueles que têm na lábia sua principal arma de manutenção do poder e dos privilégios. Sirva teu voto na urna, como fogo na pira, para queimar os cadáveres que teimam em levantar a cada pleito, infestando nossa cidade com seu cheiro nauseabundo. Morram eles à mingua, e não os valentes servidores que, como titãs, garantem alguma dignidade à Cachoeirinha.