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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

ROSAS, AINDA QUE COM ESPINHOS

ROSAS, AINDA QUE COM ESPINHOS...
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Há muito, nossa cidade sente falta do frescor das rosas. Estas, sufocadas pela insensibilidade fria do concreto e do asfalto, parecem ter sucumbido. Contudo, feito a esperança, ainda que tênue, o perfume das rosas resiste à maldade humana e teimosamente borrifa o ar com seu inigualável cheiro. Mesmo o mais forte odor do chorume, resultante do  engodo e da falta de ética, se mostra incapaz de liquidar, por completo, a simples – mas poderosa – fragrância das rosas. Insuperáveis na capacidade de encantarem, não são poucos os que tentam criar artifícios com o vão intuito de imitá-las. Imbecis. Não sabem eles que a beleza das rosas reside na simplicidade? Esta não tem preço. Rosas são belas não por serem caras, mas por serem tão-somente rosas. Ao contrário dos vermes camaleônicos que mudam de tez partidária conforme a direção do vento e de acordo com os interesses espúrios e inconfessáveis, consubstanciados em projetos de poder, as rosas permanecem firmes e resolutas. Esperam e querem ser aceitas como são: rosas. Os espinhos são tidos por elas não como empecilho ou vergonha, mas como virtude. Através deles, as rosas falam e sentem-se vivas. Como porta-vozes, os espinhos nos fazem lembrar que somos homens, portanto mortais. Daí, quem sabe, serem as rosas mal quistas pelos ditadores e por aqueles que se veem como eternos. Impérios são desnudos ante o poder avassalador dos espinhos. Pode alguém resistir à imperiosa verdade revelada pelas rosas? Cachoeirinha precisa mais de rosas. As ruas escuras e tomadas pelo medo, enlameadas pelas drogas que entorpecem e transformam gente em trapo, gritam por socorro. Indigentes, prostitutas, trabalhadores e toda sorte de gente esquecida pela “mãe gentil”, feito gado no abatedouro, lutam contra um destino aparentemente selado. O sorriso forçado e o impecável traje do candidato estampado na foto ao fundo só faz esgaçar o vergonhoso fosso entre governantes e governados. A quem pertence a cidade? Assim como as rosas, homens e mulheres de bem foram perdendo espaço para homicidas, estupradores, estelionatários, corruptos, traficantes e falsos políticos. Falsos porque fazem da política ferramenta para enriquecimento próprio. Sevem-se do eleitor e locupletam-se, fazendo do Estado meio para obtenção de vantagens sórdidas e mesquinhas. Tamanho egocentrismo e ganância mal cabem no interior do terno alinhado. Brincam e zombam da lei, sob o olhar embasbacado de um Judiciário pífio. Assim como as rosas, homens e mulheres de bem existem não para serem ardilosamente manipulados. Cachoeirinha precisa mais de rosas. Contagiem a cidade com sua beleza! Jamais seja a delicadeza das rosas confundida com subserviência. Rosas são pétalas, mas também espinhos! Afagam, mas também espetam! Fazem-se presentes entre apaixonados e debutantes, mas também entre seguidores do féretro. Aparecem no altar, mas também sobre a lápide. Invadam as rosas os espaços públicos! Ocupem a Câmara e demais repartições públicas! Espalhem seu bálsamo sobre a política da cidade, dando-lhe real significado e fazendo ressurgir a necessária e indispensável esperança. Cachoeirinha precisa mais de rosas!

Um comentário:

  1. Texto forte!!Marcado pela identidade firme, inteligente e critica do meu amigo escritor.
    Um super abraço!!!

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