Translate

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

BORRA BOSTA BRASILIENSIS



BORRA BOSTA BRASILIENSIS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Nossa terra tem sido pródiga em gerar borra bostas de toda espécie. Não apenas em gerá-los, mas em sustentá-los. Pari-se borra bostas a todo instante. Centenas e centenas, todos os dias. É facilmente identificável um borra bosta em potencial. Mimado, indisciplinado, avesso a compromissos. Incapaz de mirar além do próprio umbigo, cresce e se fortalece em meio à permissividade, omissão e condescendência familiares. A frouxidão paterna e/ou materna, como seiva, alimenta o borra bosta que, como câncer em metástase, irônica e impiedosamente, compromete o próprio berço que lhe abriga. Egocêntrico, insensível à dor alheia, narcisicamente contempla o mundo como se este fosse sua própria selfie. Zomba da autoridade, viola os mais elementares princípios éticos, desconhece a hierarquia e espezinha quem o contradiz. Como déspota, dita regras e vira as costas às leis, ainda que morais. Adolescente, segue no caminho do hedonismo desenfreado, mantendo seu castelo, ora por meio do baseado malcheiroso ou do consumismo doentio, ora, ainda, através de pichações, vandalismo e outros malfeitos. O "barato” e adrenalina – a custo do sofrimento de terceiros – alimentam o prazer descabido e escamoteiam um profundo vazio. O borra bosta, já adulto, carece dos pressupostos indispensáveis ao convívio social. Mesmo que diplomado, togado e titulado, o borra bosta mal consegue disfarçar o fétido odor do próprio estrume. Perfumes caros, charutos cubanos, bebidas famosas ou “milhas” de viagem são insuficientes para transformarem o borra bosta num cidadão de respeito. Mais vale a mão calejada do que a do gatuno. Mais vale o linguajar simples do que a verborreia jurídica do magistrado corrupto. O que são os dentes perfeitos da madame sustentada pelo dinheiro sujo, comparados à gargalhada sincera da camponesa banguela? Ética, honestidade, respeito, amor, são virtudes sem preço. O borra bosta, acostumado a levar vantagem em tudo (certo?), não esconde seu indescritível prazer em receber, sobre si, os holofotes de uma sociedade acostumada a privilegiar a aparência. A mesma sociedade que, logo ali adiante, engrossa o coro criticando o desvio de conduta do borra bosta. Triste contradição. O borra bosta é não um ponto fora da curva, mas produto da própria curva. Urge olharmos para as próprias entranhas, dissecá-las, compreendê-las. As condenáveis práticas do borra bosta resultam, sobretudo, do caldo cultural que nós construímos. Corrupção, privilégios espúrios, narcisismo doentio, insensibilidade social são pragas nascidas, criadas e cevadas, primeiro, no seio familiar. Sim, é a família a grande incubadora do borra bosta. Serve ela de casulo à erva daninha. A conivência dos genitores, como placenta, envolve o borra bosta, colocando-o a salvo de eventuais sanções. Mostrando-se insuficiente, apela-se à judicialização. A ideia da hipossuficiência, muito comumente, esconde outra inversão, que não apenas a da “prova”, mas a de valores. É quando, então, a sentença proferida fere de morte a esperança numa sociedade melhor. Reajamos, portanto. Lutemos contra a pérfida tendência de transformação de nossas crianças e jovens em borra bostas. Tiremos o “não” do breu do esquecimento, resgatemos a disciplina e hierarquia, verticalizemos as relações entre os “desiguais”, sem jamais perder de vista, é claro, o amor e o respeito. Deixemos claro os “papeis” de cada um, com seus respectivos ônus e bônus. Combatamos a falácia da pretensa “democracia” que, perdida em seu relativismo inconsequente, tem carcomido a já combalida teia social. Controlemos o que nossos pequenos veem, escutam, vestem, consomem. Fiscalizemos como e o que aprendem. Dialoguemos com a escola, participando ativamente do processo ensino-aprendizagem. Jamais façamos vistas grossas à indisciplina e desobediência dos pupilos, usando da correção necessária e adequada. O amor é exigente, compromissado, cúmplice. Amar é educar, vigiar, cuidar, corrigir. É ele, o amor, o grande antídoto no combate à proliferação do borra bosta.  

domingo, 4 de dezembro de 2016

A BASTILHA



A BASTILHA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

                Menos pomposa e conhecida do que a de Paris, a Bastilha do Planalto Central quiçá tenha um destino parecido com a da capital francesa. Tomada pelos ratos da República, a Bastilha tupiniquim tem servido de palco não apenas a longos discursos vazios e mal escritos, mas à aprovação de leis que reforçam o status quo perverso, marginalizando a maior parte de nossa gente. Historicamente usurpada por uma classe política eleita, muitas vezes, por meios espúrios, a Bastilha do Planalto Central tem sido não fonte de esperança de um povo, mas de vergonha e descrédito no presente e no porvir. Não por acaso, na calada da noite, leis são gestadas e aprovadas, escarnecendo o interesse público e violentando, despudoradamente, a vontade popular. Acastelados em seus interesses inconfessáveis, acostumados a ardis e mesquinhas práticas, escondidas sob a máscara do foro privilegiado, larápios de toda espécie infestam a Bastilha. Enfiados em seus ternos bem alinhados, fajardos lotam os gabinetes. Estes, como bueiros, exalam o mau cheiro das consciências corrompidas pela ganância. A mesa farta da Bastilha, a contrastar com a fome do povo, só faz recrudescer a ignominiosa contradição. Enquanto o contribuinte, o trabalhador, o produtor e o empresário honesto veem o próprio suor escorrer pelo rosto e os vinténs fugirem pelo sumidouro da insana carga tributária, facínoras regurgitam seus dólares em contas secretas nos paraísos fiscais. Feito piranhas, os ocupantes da Bastilha, com maestria e invejável agilidade, unem-se para rasgarem a carne do brasileiro, num frenesi doentio e sem limite. É duvidar, sequer ficam os ossos para contarem a história. Ideologias e siglas partidárias são postas de lado, revelando o instinto assassino da bandalheira da Bastilha. Desdenham e traem o eleitor, fazendo pouco caso das promessas de campanha. Feito vermes, não têm palavra. Desonestos, indignos, repugnantes. Ao morrerem, não deixarão saudade e a história há de sepultá-los na vala comum dos indigentes, não daqueles sem posses, mas dos destituídos do maior patrimônio da pessoa humana, a saber, os valores universais e atemporais da ética, verdade e hombridade. Fazem lembrar não homens, mas moscas em torno da própria imundice. Seus perfumes caros, automóveis potentes, coberturas luxuosas e rechonchudos saldos bancários são insuficientes para torna-los verdadeiros homens e mulheres. Desmerecem a Bastilha. Esta não é para eles. Desratizemos seus corredores e usemos de todos os meios para torná-la um símbolo nacional. Pelo voto ou pelo fórceps, extirpemos a praga que tomou conta da Bastilha. Esta é patrimônio do povo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

UNIPARTIDARISMO: DEMOCRACIA A PIQUE

UNIPARTIDARISMO: DEMOCRACIA A PIQUE
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Dentre as marcas de um governo totalitário, merece destaque a inexistência de partidos políticos ou, na melhor (pior?) das hipóteses, o unipartidarismo. As ditaduras, ao que tudo indica, preferem esta última “saída” à primeira. Assim, acreditam conseguir esconder suas práticas espúrias por detrás de uma falsa imagem de democracia. Mantém-se o formalismo e, sob seu teto, esconde-se a repressão a toda e qualquer espécie de oposição. O último pleito, em muitos municípios gaúchos, revelou o que já sabíamos, a saber, a flagrante tentativa de alguns setores em acabar com a dita “esquerda”. Para tanto, há algum tempo, tem sido recorrente uma poderosa e milionária propaganda midiática contra grupos políticos ideologicamente identificados com o marxismo, por exemplo. O fracasso de tais partidos nas urnas, por certo, é resultado, em parte, dos equívocos por eles praticados, traindo a esperança de grande parcela da população, especialmente a mais pobre. Contudo, inegável é, também, a orquestração de grupos políticos e econômicos com intuito de espezinharem projetos alternativos que pudessem ou possam colocar em risco o pérfido status quo. Para os “donos do poder”, algumas plataformas soam como inaceitáveis, especialmente aquelas que visam a distribuição de renda e o fortalecimento de políticas afirmativas. Demoniza-se a “esquerda”, como se a “direita” fosse o repositório da solução à violência, desemprego, precariedade da educação e saúde públicas. Ora, a história é reveladora: foram os setores que hoje fazem apologia da moralidade e da ética os que, ainda ontem, se locupletaram com os benesses da República Velha, do voto de cabresto, do populismo, da ditadura... Como apregoar equidade e justiça social com um passado maculado pela perfídia e insensibilidade em relação aos desvalidos? Como discursar em favor da probidade frente a um passado improbo? Como falar em esperança diante de uma história marcada pelo descaso quanto aos mais necessitados? Respaldados, por vezes, num Judiciário falido e sem crédito, alguns grupos políticos não conseguem disfarçar um misto de alegria orgástica e doentia com o insucesso dos “adversários”. Estamos a caminhar em direção a uma espécie de “unipartidarismo”, não literal obviamente. Ao contrário, nunca tivemos uma miríade tão grande, confusa e insana de agremiações partidárias, a maioria, verdadeiros balcões de negócio. São partidos ideologicamente vazios, voltados à obtenção e/ou manutenção de privilégios individuais ou de grupos. A pretensa “governabilidade” – comprada a preço de compadrios regados a cargos de confiança, funções gratificadas e outras trocas de favores – é garantidora, sobretudo, de vis privilégios e mesquinhos projetos pessoais de poder, em detrimento do interesse coletivo. Ganham alguns poucos, enquanto perde a sociedade como um todo. Tende-se a outra forma de “unipartidarismo”, travestido de “base governamental”. A “governabilidade” é o pretexto favorito, apesar de surrado, para incontáveis conchavos e troca de favores. À luz do dia, o interesse público é violentado sob o olhar complacente daqueles que, por força de lei (já que desconhecem a ética...), deveriam zelar pelo Estado democrático de Direito. Serve a quem e para quem o arcabouço jurídico? Ao que tudo indica, expressões como “impessoalidade” não passam de verbetes acadêmicos, indigestos no mundo dos fatos. Caminhamos em direção a uma ditadura “branca”, sutil, mas não menos cruel e danosa do que aquela que nos atormentou ao longo de duas décadas. É sôfrega nossa democracia e combalida, apesar de teimosa, nossa esperança. O futuro incerto aponta em direção às brumas, restando a desconfiança de que marchamos em direção ao precipício. 

domingo, 11 de setembro de 2016

À MINGUA

À MINGUA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Morrer à mingua. Conhecem a expressão? Certamente. O problema é vivenciá-la, levá-la à literalidade. Seria, quem sabe, à letalidade? É, o governo de Cachoeirinha, assim como do estado do Rio Grande do Sul, tem conseguido dar vida às mais fúnebres expressões. Antes, cidade “dormitório”. Hoje, cidade “pesadelo”. As aves que por aqui gorjeiam são as da pior espécie. Sujam as ruas com suas fezes mal cheirosas, robustecendo o chorume da perfídia e da vileza. O arrulho que soltam por entre os bicos lembram uma espécie de insuportável mantra. Os mesmos bicos que não cansam de arrancar enormes nacos da pouca carne que ainda resta do mísero contribuinte. Enquanto sobre a tribuna da Casa do Povo pavoneiam-se algumas aves de rapina com aqueles discursos mal elaborados, a denunciarem a fragilidade intelectual das mesmas, paira sobre a cidade uma profunda escassez ética. Daí, talvez, tantas diárias gastas em viagens obscuras e destituídas do mínimo pudor quanto ao dinheiro público. Qual a intenção? Apagar as digitais e pegadas de práticas indecorosas? Por que tantos cursos, seminários e simpósios? A ignorância não as abandona. Mal conseguem articular meia dúzia de palavras. Por que tantas idas e vindas à capital federal? Identificam-se, quiçá, com o ambiente daquela que é o maior símbolo de nossa débil e fracassada República. Cachoeirinha está jogada às moscas. Homicídios, latrocínios, roubos, estupros... Nada vale uma vida por aqui. Buracos nas ruas confundem-se com os dos cachimbos do crack. O tráfico se alastra, multiplicando o exército de zumbis que assombra a cidade e põe por terra qualquer faísca de esperança. A sujeira das ruas entope não apenas as bocas-de-lobo, mas, ao que parece, também as veias e artérias que alimentam a (in)consciência de quem governa. Os já caóticos serviços públicos conseguem piorar dia após dia. Crianças, mulheres e idosos veem suas dores sendo agravadas pelo nefasto descaso do Poder Público em relação à saúde. Sobram filas, faltam médicos, leitos e medicamentos. Sobra incompetência, falta humanidade. Alunos aprendem cada vez menos. Entra ano, sai ano, e nossos pupilos seguem à margem do conhecimento minimamente razoável. Quanto potencial desperdiçado em meio à tamanha mediocridade. Enquanto recursos públicos esvaem pelo ralo – em parte, para alimentar os “cortesãos” a mamarem nas tetas do Poder –, servidores públicos concursados minguam. Homens e mulheres que, apesar de terem ingressado pela “porta da frente”, seguem alijados dos “manjares” servidos à mesa. Sobram-lhes menos do que as migalhas. Parcelam-lhes o salário e esfacelam sua dignidade. Não bastasse, exigem deles abnegação e estoica resignação, numa brutal inversão de valores, onde a vítima torna-se algoz. É duvidar, a dívida social recai sobre o colo dos municipários, como se estes fossem os responsáveis pelos desmandos da cidade. Cachoeirinha precisa reagir, expurgar os larápios de toda ordem e de todas as espécies, inclusive aqueles que têm na lábia sua principal arma de manutenção do poder e dos privilégios. Sirva teu voto na urna, como fogo na pira, para queimar os cadáveres que teimam em levantar a cada pleito, infestando nossa cidade com seu cheiro nauseabundo. Morram eles à mingua, e não os valentes servidores que, como titãs, garantem alguma dignidade à Cachoeirinha. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

INDEPENDÊNCIA, PARA QUEM?


INDEPENDÊNCIA, PARA QUEM?
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Cento e noventa e quatro anos! Sonho duradouro este, não é mesmo? Quase dois séculos de história, desde a dita “independência” e continuamos como que a sonhar. A ideia de um país verdadeiramente livre, justo e solidário segue ainda no plano do discurso, vez por outra inflamado pela disputa eleitoral. A prosperidade até que deu as caras por aqui, mas apenas para uma minoria. Enquanto isso, a maioria de nossa gente – assim como os escravos de outrora – segue à margem da boa qualidade de vida. Nossa pátria tem sido “gentil” apenas para alguns poucos. Educação, saúde, segurança, assim como a renda, têm faltado à maioria. A grandeza do território e a pujança do subsolo contrastam com a esperança esfarrapada de nosso povo. Enormes clareiras, impulsionadas pela ganância, vêm acabando com o verde da bandeira, enquanto o amarelo tem sido surrupiado pela corrupção endêmica que contamina todas as esferas do Poder. O azul, há horas sombreado pelas brumas do egoísmo, ostenta não mais estrelas, mas pontas de baseados embebidas no cheiro nauseante saído de cachimbos tomados de pedra que levam à morte. O que antes era branco, agora é luto. Ouve-se, por toda parte, gritos de socorro. Mães desesperadas veem seus rebentos serem tragados pelo tráfico e por toda sorte de violência. Para elas, filhos. Para o Estado, números. Para elas, a tristeza e saudade eternas. Para o Estado, estatísticas. O que vale a vida por estas terras? Um par de tênis, um boné, um celular, um carro ou, quem sabe, um punhado de reais? Como bastardos, não temos sido reconhecidos por este país. A Constituição, feito letra morta, pouco mais serve do que carne putrefata aos vermes e abutres vestidos em suas togas a pousarem em tribunais asseados e astronomicamente distantes da realidade de quem os sustenta. É, o tempo passou e a real independência não veio. Por que então comemorar? Há razões para fazê-lo? Sim e não são poucas. Muitos são os que ainda teimam em crer no amanhã. Mais do que “crer”, levantam todo dia dispostos a “agir”, transformando mera intenção em ação. Estudantes, professores, serventes, porteiros, operários, empresários, médicos, advogados, servidores públicos... Empregados, patrões, desempregados, aposentados, pensionistas... Letrados, analfabetos, atletas, enfermos... Enfim, um universo de crianças, jovens, homens e mulheres que teimam em fazer “seu melhor”. Não titubeiam em optar pelo caminho da ética, da alteridade e da resiliência, esta jamais confundida com subserviência. Amigos que são da verdade e da justiça, enjeitam o dinheiro fácil e desonesto. Trilham o caminho da (auto)disciplina e do interesse coletivo, sem perder de vista o respeito às diferenças, ainda que incômodas. Não menor do que o Brasil, é o senso de justiça que brota em meio à indiferença e desesperança. No interior das casas, escolas, fábricas, hospitais, quarteis, igrejas e canteiros de obra pulsa uma esperança propositiva, irrequieta, explosiva, capaz de subverter qualquer status quo, ainda que com aparência atávica. Ora, que a fajuta independência registrada nos livros didáticos possa dar lugar à verdadeira, a saber, uma independência construída no dia-a-dia, nas relações de poder estabelecidas entre pais e filhos, homens e mulheres, governantes e governados, professores e educandos. País independente é aquele que prima pelo respeito à dignidade da pessoa humana, pela proteção e valorização da vida, pela educação fundada na qualidade, pela aplicação impessoal da lei, pela garantia de oportunidades iguais a todos, pela manutenção da ordem respaldada na soberania popular e pela capacidade de manter acesa a tão necessária esperança. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

ROSAS, AINDA QUE COM ESPINHOS

ROSAS, AINDA QUE COM ESPINHOS...
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Há muito, nossa cidade sente falta do frescor das rosas. Estas, sufocadas pela insensibilidade fria do concreto e do asfalto, parecem ter sucumbido. Contudo, feito a esperança, ainda que tênue, o perfume das rosas resiste à maldade humana e teimosamente borrifa o ar com seu inigualável cheiro. Mesmo o mais forte odor do chorume, resultante do  engodo e da falta de ética, se mostra incapaz de liquidar, por completo, a simples – mas poderosa – fragrância das rosas. Insuperáveis na capacidade de encantarem, não são poucos os que tentam criar artifícios com o vão intuito de imitá-las. Imbecis. Não sabem eles que a beleza das rosas reside na simplicidade? Esta não tem preço. Rosas são belas não por serem caras, mas por serem tão-somente rosas. Ao contrário dos vermes camaleônicos que mudam de tez partidária conforme a direção do vento e de acordo com os interesses espúrios e inconfessáveis, consubstanciados em projetos de poder, as rosas permanecem firmes e resolutas. Esperam e querem ser aceitas como são: rosas. Os espinhos são tidos por elas não como empecilho ou vergonha, mas como virtude. Através deles, as rosas falam e sentem-se vivas. Como porta-vozes, os espinhos nos fazem lembrar que somos homens, portanto mortais. Daí, quem sabe, serem as rosas mal quistas pelos ditadores e por aqueles que se veem como eternos. Impérios são desnudos ante o poder avassalador dos espinhos. Pode alguém resistir à imperiosa verdade revelada pelas rosas? Cachoeirinha precisa mais de rosas. As ruas escuras e tomadas pelo medo, enlameadas pelas drogas que entorpecem e transformam gente em trapo, gritam por socorro. Indigentes, prostitutas, trabalhadores e toda sorte de gente esquecida pela “mãe gentil”, feito gado no abatedouro, lutam contra um destino aparentemente selado. O sorriso forçado e o impecável traje do candidato estampado na foto ao fundo só faz esgaçar o vergonhoso fosso entre governantes e governados. A quem pertence a cidade? Assim como as rosas, homens e mulheres de bem foram perdendo espaço para homicidas, estupradores, estelionatários, corruptos, traficantes e falsos políticos. Falsos porque fazem da política ferramenta para enriquecimento próprio. Sevem-se do eleitor e locupletam-se, fazendo do Estado meio para obtenção de vantagens sórdidas e mesquinhas. Tamanho egocentrismo e ganância mal cabem no interior do terno alinhado. Brincam e zombam da lei, sob o olhar embasbacado de um Judiciário pífio. Assim como as rosas, homens e mulheres de bem existem não para serem ardilosamente manipulados. Cachoeirinha precisa mais de rosas. Contagiem a cidade com sua beleza! Jamais seja a delicadeza das rosas confundida com subserviência. Rosas são pétalas, mas também espinhos! Afagam, mas também espetam! Fazem-se presentes entre apaixonados e debutantes, mas também entre seguidores do féretro. Aparecem no altar, mas também sobre a lápide. Invadam as rosas os espaços públicos! Ocupem a Câmara e demais repartições públicas! Espalhem seu bálsamo sobre a política da cidade, dando-lhe real significado e fazendo ressurgir a necessária e indispensável esperança. Cachoeirinha precisa mais de rosas!

sexta-feira, 22 de julho de 2016

E.I


E.I
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                As iniciais acima trazem à lembrança o Estado Islâmico, mas também o Estado Irresponsável, o Estado Inconsequente, o Estado Insano... O que têm eles em comum? Tudo! Inegável é a relação, por exemplo, entre o avanço das ideias do Estado Islâmico e a miséria e vulnerabilidade da população. A omissão do Estado e a precariedade dos serviços públicos são como fermento que leveda a massa da revolta e indignação daqueles que diuturnamente são vomitados para longe do bem-estar social. Quantas vidas foram ceifadas, ao redor do mundo, pelo Estado Islâmico nos últimos doze meses? Quantas vidas, no Brasil, foram tiradas, em igual período? Alguma dúvida sobre onde reside, de fato, o maior perigo? A violência urbana neste país tem gerado consequências infinitamente mais funestas do que o famigerado grupo terrorista. Computemos, então, as vítimas do falido sistema de saúde e da carnificina do trânsito brasileiro e veremos que o Estado Islâmico mais parece brincadeira de criança. Qual o verdadeiro alcance do discurso odioso do Estado Islâmico para nós brasileiros? Será maior do que o histórico engodo travestido em promessas de nossas campanhas eleitorais? Quem mais mata, ameaça, oprime e aterroriza em nossas terras? Quem mais alicia, mente, suborna e entorpece nossa gente? Será o Estado Islâmico ou “nosso” (!?) Estado? Quem tem por triste hábito extorquir o contribuinte por meio de uma insuportável carga tributária, sem a devida contraprestação? Será o Estado Islâmico? Quem tem fechado os olhos à atávica miséria de nosso povo? Quem tem assistido e garantido a manutenção de privilégios corporativos de um grupo de togados e engravatados, sob o argumento esfarrapado da “independência e autonomia dos Poderes”, enquanto a maioria de nosso povo segue entregue às moscas? Será o Estado Islâmico? Quem alimenta a impunidade por meio de leis falhas e um sistema prisional que mais faz lembrar as masmorras medievais? Quem alija nossas crianças e jovens de uma educação de qualidade? Quem faz vistas grossas à corrupção endêmica há muito enraizada nas estruturas do poder? Será o Estado Islâmico? Quem confunde o público e o privado? Quem coloca o interesse individual espúrio à frente do interesse coletivo? Quem aniquila o direito e esperança de um povo? Quem surrupia dinheiro público ou frauda licitações? Quem faz “parcerias” com o crime organizado? Será o Estado Islâmico? Quem transforma o ente público em cabide de empregos, tomado de CCs que, em regra, pouco mais fazem do que empunhar bandeirinhas em período de campanha? Quem transforma repartições públicas em ilhas regadas a leite e mel, enquanto quem paga a conta vegeta na fome e desesperança? Será o Estado Islâmico? Quem fiscaliza as Agências Reguladoras que, salvo exceções, não passam de redutos de apadrinhados? Quem cria e mantém o profundo fosso que separa as poucas aposentadorias rechonchudas daquelas que são incapazes de garantirem a subsistência mínima de milhões de velhinhos? Quem mantém e fiscaliza as polícias que, muito comumente, ultrapassam o tênue limite do abuso de poder ou se deixam levar pelo mundo do crime? Será o Estado Islâmico? Por que então, toda preocupação com este último? Estamos tentando provar o “quê” e para “quem”? Valem mais os olhos do “mundo” do que os de nosso povo? Enquanto o aparato policial se debruça sobre criadores de galinhas do interior do Rio Grande do Sul, as raposas seguem soltas. Enquanto o discurso oficial se volta contra a etérea ameaça jihadista, nosso país segue entregue à triste sorte. Até quando? O terrorismo internacional precisa ser tratado com cuidado e responsabilidade, mas, não tenho dúvidas, nem de perto é nosso maior problema!

sábado, 26 de março de 2016

TERNEIRO MAMÃO


TERNEIRO MAMÃO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                No centro da atual e, ao que parece, interminável crise política que o país atravessa, o PMDB pousa como uma espécie de fiel da balança. Logo ele, um partido que – como nenhum outro – sempre esteve de braços dados com o Poder. Feito terneiro mamão, o Partido segue mamando nas tetas da República, dançando conforme a música. Amorfo ideologicamente, se prostitui em troca dos tão cobiçados “espaços” junto a ministérios, secretarias e autarquias. Não titubeia em mudar de cor, indo do vermelho marxista ao preto da suástica totalitária. Quiçá, uma técnica camaleônica de sobrevivência, apesar de vil e pouco confiável. Assim é que, por exemplo, o Partido atravessou o período da Ditadura, assumindo o papel de oposição “água-com-açúcar”, consentida (cooptada?) e, por isso, aceitável em tempos pretéritos. Entra governo e sai governo, lá está ele, o PMDB. Este está para o Brasil, assim como os ratos para o navio a pique ou como as baratas para o mundo assolado pela guerra. O PMDB tem se revelado um partido maquiavelicamente palaciano, comungando das orgias – pagas com dinheiro público! –, porém à espreita, sempre pronto a apear ante à fumaça que precede as eventuais mudanças de cetro. Trata-se de um Partido paradoxal: por um lado, obeso e robusto, espalhando seus tentáculos por incontáveis rincões deste país. Por outro, pífio e insosso, destituído de personalidade própria. Um Partido que pauta seu discurso na tênue ideia do “politicamente correto”, mas que, na prática, tem entre seus maiores “caciques” grandes vultos da pérfida e asquerosa história política deste país. Jamais ousou cortar na própria carne. Optou pelo (des)caminho da manutenção de privilégios, confusão entre público e privado, bem como pelas práticas eleitorais espúrias, onde prevalece o poder econômico a contrastar com a atávica fome que assola nosso povo. Como víbora, o PMDB troca de pele. Por vezes, ainda, assume ares de cordeiro, ainda que a catinga denuncie a raposa que ali se esconde. É este o PMDB que temos. É este o PMDB que ameaça romper com o governo. É este o PMDB que vem se aproximando dos que defendem o impeachment. É este o PMDB que, uma vez consumado o sepultamento deste (des)governo sórdido, não vê a hora de assumir o trono. Será a crise ética apenas do PT? Ao que se vê, soa evidente que não! Diz respeito a todas (ou quase todas) as agremiações partidárias, independentemente do matiz ideológico. Serão os partidos criações diabólicas ou, ao contrário, refletem a natureza humana? A bagunça político-partidária do Brasil é, sem dúvida, produto de nossa própria miséria no que tange à ética e aos valores. Estes diuturnamente são vilipendiados, “negociados”, negligenciados... Esperamos o quê em troca? Partidos confiáveis pressupõem filiados confiáveis. Filiados éticos pressupõem cidadãos éticos. Quem são os “políticos”, senão nós mesmos? Eleitos e eleitores fazem parte de uma mesma moeda, portanto indissociáveis, obrigatoriamente cúmplices e solidários. Mal ou bem, o sistema partidário-representativo ainda é o melhor caminho para perfectibilização da democracia. Assim, os partidos políticos precisam, neste país, passar por uma profunda reflexão propositiva, depurando seus quadros, zelando por condutas probas, cumprindo com suas promessas de campanha, afastando-se de qualquer espécie de conluio (travestido, às vezes, em “governabilidade”...), clareando e tornando factíveis suas teses. Sirva a presente crise política como pira expiatória para repensarmos NOSSA conduta, de modo a termos não apenas um PMDB, mas também um PT, DEM, PSB, PCB, PSDB ... melhores e em consonância com a busca do verdadeiro desenvolvimento econômico e social de nossa terra.




segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

SUS, UMA VESÍCULA INFLAMADA


SUS, UMA VESÍCULA INFLAMADA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Assim como o ensino e a segurança, a saúde pública neste país há muito vem sendo motivo de vergonha e desespero. Vergonha, porque é o retrato fiel de um país que viola os direitos mais elementares do ser humano. Desespero, porque nossa gente vê o sofrimento ganhar corpo, sem um naco sequer de esperança. Apesar da insana e irresponsável carga tributária, os serviços prestados pelo Estado seguem infinitamente aquém do mínimo necessário. O ente público, ao que parece, é um fim em si mesmo. Triste e asqueroso culto narcísico, tendo por plateia um séquito que, historicamente, se locupleta em detrimento do interesse coletivo. Enquanto os ditos “Poderes” da malfadada República mais fazem lembrar Os Três Patetas, a população brasileira segue jogada às moscas. Nem mesmo o marketing pago a preço de ouro tem se mostrado eficaz para afugentar o cheiro fétido exalado pela pocilga em que se tornou o Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um triste exemplo da inegável falência do Estado. Feito um doente terminal, o SUS segue respirando com ajuda de aparelhos. Apesar do esforço hercúleo de um grande número de abnegados servidores, o Sistema sangra pelas ventas. Resultado de muitos anos de descaso, gestão fraudulenta, incompetência administrativa, falta de fiscalização, corporativismo doentio, omissão e tantas outras práticas por nós conhecidas. O resultado não poderia ser diferente. Hospitais lotados e sucateados, filas intermináveis nas emergências, esperas infindáveis por exames e consultas... O verdadeiro quadro da dor. Estará o país em guerra? O cenário repugnante e desolador dá a entender que sim. Muitos são, por certo, os exemplos a ilustrarem de maneira farta e inconteste o inferno dantesco em que se tornou o SUS, exemplos como o do meu irmão. Acometido de dores na vesícula, ingressou na “emergência” do hospital Conceição de Porto Alegre no dia primeiro de fevereiro do presente ano (2016). Apesar do quadro clínico, ficou não menos do que quatro dias sentado numa cadeira junto ao corredor. Depois de muitas idas e vindas na Ouvidoria, finalmente, conseguimos uma maca para que pudesse descansar. Passado mais algum tempo, finalmente, foi deslocado para um quarto, sem qualquer previsão para o procedimento cirúrgico. No dia vinte e quatro (sim, quase um mês depois...), por fim, faria a cirurgia. Faria... Após ter sido sedado, a “brilhante” equipe médica percebeu que faltava um cateter, lapso este que inviabilizaria o prosseguimento do trabalho. Assim, meu irmão retornou ao quarto, com previsão de cirurgia para dali alguns dias. Hoje, contabiliza-se um mês de internação, sem que a cirurgia tenha sido feita, tempo este para lá do razoável e que revela o caos em que se encontra o SUS. Prejuízo não apenas para a saúde do paciente – pois que exposto a um maior risco de infecções, além dos inequívocos danos psicológicos –, mas para o próprio Sistema (enorme custo da diária hospitalar) e para a economia como um todo (dias e mais dias afastado do trabalho). Verdadeiro atestado de incompetência e desleixo frente a um direito assegurado na Constituição. Mais do que a vesícula de meu irmão, o SUS tem se mostrado inflamado pela vileza de alguns, omissão de tantos outros e pela atávica prática espúria de fazer do interesse público mero trampolim para obtenção de vantagens indevidas. Enquanto isso, vidas são ceifadas, famílias são enlutadas e a esperança de um porvir melhor se esvai. 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

PARA ALÉM DO "SHORTINHO"


PARA ALÉM DO SHORTINHO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Não são poucos os que vivem sob a ditadura de infantes, filhos e filhas de pretensos reis que, muito comumente, preparam a prole para ser “herdeira” e não “sucessora”. Trata-se de uma geração mimada, dada à estupidez narcísica de olhar não mais além do que o limite do próprio umbigo. Uma geração que, na busca insana do prazer a qualquer preço (ainda que, quase sempre, efêmero...) entrega-se de corpo e alma às drogas, anabolizantes, álcool e inúmeros outras “bengalas” produzidas pelo consumismo doentio e desenfreado. Mais importa a aparência do que a essência, o ter do que o ser. Enquanto, por vezes, ecoam discursos sob uma roupagem ética, seguem indiferentes às agruras dos pobres mortais. Entorpecem a consciência com seus smartphones modernos, looks a peso de ouro e viagens à Disney. Passam longe das filas do SUS, desconhecem a masmorra em que se transformaram nossos presídios, nem, tampouco, sabem o que é a fome ou a miséria. Enquanto o inglês fluente contrasta com o vernáculo mal escrito, os príncipes e princesas dedilham nas redes sociais em busca de aceitação e fútil notoriedade. Amizades, eles as têm, contudo quase todas tomadas da típica frieza do mundo virtual. Parecem cegos e indiferentes ante à dura realidade da vida e, até por isso, buscam levantar bandeiras que preencham o enorme vazio existencial. Daí venha, talvez, o endeusamento do “eu”, relativizando a autoridade e negando os limites e as regras. Terreno fértil à formação de homens e mulheres individualistas, egoístas e avessos ao bem comum. Homens e mulheres que, apesar de avançada idade, se portam feito crianças. Seres mal resolvidos emocionalmente e presos a um eterno cordão umbilical. Dar as costas, irresponsavelmente, às convenções sociais – se justas, necessárias e oportunas – soa como algo perigoso. Atenta contra não apenas uma regra ou instituição, mas sim contra a própria noção de “autoridade”. Esta é imprescindível na formação de pessoas equilibradas, felizes e sadias. Indispensável na construção de uma sociedade verdadeiramente solidária, menos injusta e mais fraterna. Uma sociedade capaz de educar seus mancebos para os difíceis desafios do mundo moderno, livrando nossos guris e gurias das armadilhas impostas pela mercantilização do corpo e coisificação das relações. A escola – pública ou privada – tem indelével importância nessa empreitada. Precisa, com o apoio da comunidade, fazer valer suas convicções. É, indubitavelmente, um espaço privilegiado para a reflexão propositiva, esta capaz de superar o limite do discurso fácil, ainda que “politicamente correto”. Urge sairmos em defesa da escola, pois sob sua guarda está nosso bem mais precioso: nossos filhos!