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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O ESTADO NA HISTORIA DO BRASIL


O ESTADO NA HISTÓRIA DO BRASIL
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Nossa história teve início, oficialmente, com a chegada dos portugueses, em 1500. Começou aí o chamado período Pré-Colonial (1500-1530), onde a metrópole mostrou flagrante descaso com suas novas terras, quiçá mais preocupada com o lucrativo comércio junto às Índias Orientais. A partir de 1530, até a chamada “Independência” (1822), tivemos o período Colonial. Neste último, assim como o momento anterior, tínhamos não um Estado “brasileiro”, mas um Estado lusitano que – dentro de uma lógica fundada no Pacto Colonial – impunha sua vontade sobre a Colônia. Durante o período, apesar das riquezas advindas dos “Ciclos Econômicos” (principalmente, da Cana e do Ouro), a qualidade de vida da maioria da população seguiu marcada pela miséria e escravidão. À época, o Estado português não titubeava ao usar a força para reprimir qualquer tentativa de revolta contra a Coroa. Exemplo disso, vale lembrar, foi a Inconfidência Mineira (1789), movimento inspirado, em parte, nos ideais iluministas.

                A Independência (1822) inaugurou uma nova fase na história do Brasil: o período Imperial. Apesar da expectativa gerada pela mudança de status (de Colônia à país independente), o Brasil manteve praticamente as mesmas estruturas políticas, econômicas e sociais do período anterior. A distribuição de renda seguiu abjeta e vergonhosa, mantendo-se o trabalho escravo como principal sustentáculo da economia. O Estado “brasileiro” (Dom Pedro I possuía fortes vínculos sanguíneos, afetivos e políticos com Portugal...) se mostrou incapaz de transformar o país numa potência respeitada e, menos ainda, numa verdadeira democracia. O poder centralizador do monarca (que tinha sob seu controle o Poder Moderador), durante o Primeiro Império (1822–1831), instigou inúmeras revoltas (como, por exemplo, a Confederação do Equador, em1828), todas elas prontamente sufocadas, apesar do enorme desgaste político que levaria, mais tarde, à abdicação do trono. Durante a Regência (1831–1840), os problemas continuaram, merecendo destaque a Revolução Farroupilha (1835-1845). O Estado, mais uma vez, demonstrara insensibilidade social ao usar a sangrenta repressão para debelar os levantes. O Segundo Império (1840-1889), apesar de alguns avanços e “lampejos” socioeconômicos (processo de Abolição da Escravidão, Era Mauá, etc.), manteve a profunda desigualdade social e o atraso político. A expulsão da família real apenas “coroou” uma longa crise encabeçada, principalmente, pelos grandes fazendeiros, pelos militares e pela Igreja, descontentes que estavam com o governo de Dom Pedro II.

                A República brasileira (1889-...), infelizmente, da mesma forma que a Monarquia, começara mal. Nosso primeiro Presidente assumiu após um golpe, “método” este que, ao que parece, teima em manchar nossa história. Durante a chamada República Velha (1889-1930), por exemplo, tivemos a Política do Café com Leite (onde apenas São Paulo e Minas Gerais se revezavam na presidência) e a “política dos coronéis” (marcada pelo voto de cabresto). Não por acaso, muitos foram os movimentos sociais surgidos à época, a maioria duramente sufocado pelo Estado. O golpe de 1930 – que daria início à Era Vargas e à República Nova – foi a saída encontrada por algumas elites brasileiras que desejavam, ansiosamente, participar das decisões nacionais. Getúlio Vargas era a própria encarnação de uma “nova” forma das classes mais ricas não apenas permanecerem no poder, mas fortalecerem-se. O conhecido título “pai dos pobres” atribuído ao ícone do populismo deixava transparecer o lado mais perverso de seu estilo de governar, onde ficavam às escondidas suas reais intenções. O Estado Novo (1937-1945) é a prova cabal do autoritarismo getulista, onde o arbítrio, a censura e o aniquilamento da oposição foram a tônica.

                Durante o período que se estende do suicídio de Vargas (1954) ao Golpe Militar de 1964, tivemos altos e baixos na relação entre o Estado (aqui entendido como “governo”) e a sociedade. Os governos de Café Filho, Juscelino, Jânio e Jango tiveram em comum a incapacidade do Estado em estabelecer uma efetiva distribuição de renda, apesar dos discursos ideológicos (Jânio e Jango) à “direita” ou à “esquerda”. Apesar dos avanços econômicos e da modernização da indústria – especialmente no governo JK –, o Brasil seguiu sendo um país “de poucos” e “para poucos”.

                A Ditadura Militar (1964-1985) inscreve-se entre os períodos mais sombrios de nossa história. Mais do que nunca, o Estado distanciou-se da democracia, da liberdade de expressão e da busca de uma sociedade justa e igualitária. A tortura, censura, bipartidarismo e permanente repressão diuturnamente mancharam as duas décadas sob os governos militares. Sob o argumento de defender o Brasil da ameaça “comunista”, atrocidades foram cometidas. Enquanto isso, as desigualdades sociais não apenas permaneceram, como se aprofundaram, em que pese o crescimento da economia impulsionado pelo dito Milagre Econômico. Os Atos Institucionais cerceavam a opinião pública e legitimavam as cassações políticas. A morte, quando não consumada, espreitava a vida de todos aqueles que ousavam discordar do governo ou que por este eram considerados uma ameaça.


                O Estado que nasceu com a Nova República (1985...), no fundo, trouxe consigo os mesmos vícios e fragilidades dos períodos anteriores. Não por coincidência, o primeiro Presidente da nova fase foi “entronizado” pelo Congresso e não pelo voto popular. Não por acaso, quem fora escolhido (Tancredo Neves) não assumiu. Quem o fez (José Sarney) era (e é...) um representante das elites do coronelismo nordestino. Ironicamente, o primeiro Presidente eleito após tantos anos de Ditadura, Collor de Melo, foi afastado por um impeachment. Depois veio Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma...Muitos governos, porém o Estado brasileiro segue eivado de problemas estruturais (corrupção, ineficiência, custo elevado, clientelismo, etc.) que mantêm a maioria da população à margem da qualidade de vida. Educação, saúde, segurança, renda, moradia, transporte público estão muito aquém do razoável, fazendo do Brasil um país de profundas e inaceitáveis contradições: rico, porém subdesenvolvido.