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domingo, 30 de agosto de 2015

FORMATURA DA EJA (PRIMEIRO SEMESTRE DE 2015)


DISCURSO FORMATURA EJA 2015-1
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

Boa noite!


            Saúdo à mesa, aos convidados e, de forma muito especial, aos formandos. Nada pode e, nem tampouco, deve nos separar de nossos sonhos. Nem surto de meningite, nem crise econômica, nem instabilidade política, nem mesmo o tempo... Este, por sinal, talvez por ser “eterno”, é sábio. Passamos nós, ele não. Passam as dificuldades, as paixões, os mandatos. O tempo permanece incólume. Pode, aparentemente, tardar, porém certa e inevitavelmente chegará. Prova disso, é que estamos aqui. Não por acaso, o tempo postergou a presente Formatura. Sabem por quê? Assim como o bom vinho, envelhecido em barris de carvalho, vocês são especiais. Por isso a demora. Perderia muito da graça o casamento sem o tradicional atraso da noiva, ou a viagem sem a expectativa da criança que, a cada curva, inquire os pais sobre o ponto de chegada. Esta Formatura não é diferente. Chegou na hora certa, no momento e do jeito que deveria chegar. Olhem para vocês, formandos. Estão lindos! Seus semblantes denunciam uma incontida alegria a disputar espaço com a esperança de ser este momento um divisor de águas, cuja ponte é a força de vontade de cada um e cada uma de vocês. Quanta correnteza, heim? Quantas quedas e galhos pelo caminho, muitos deles – feito mãos inimigas – tentando vos submergirem? Pedras de todo tamanho e forma a machucarem não apenas o corpo, mas por vezes a própria alma, numa vã tentativa de vos fazerem desistir. Resolutos, contudo, vocês persistiram, apesar de cansados. Fizeram dos obstáculos, intransponíveis muralhas ante o pessimismo e o derrotismo. Transformaram os “nãos” da vida em antídoto contra as agruras típicas de um país que não valoriza o conhecimento e a pesquisa, um país que teima em sabotar o presente em nome de um futuro que jamais chega. Um país que precisa de vocês, como estudantes, trabalhadores, pais e mães de família, cidadãos e cidadãs. Sejam o que sejam, façam o que façam, jamais abram mão da ética, do respeito, da solidariedade e cumplicidade com o “outro”. Não escamoteiem a verdade e resistam ao canto da vaidade que, em nome de interesses espúrios, faz adoecer a sociedade. Guardem na memória o que há de melhor de seus familiares, amigos, colegas e professores. Destes, jamais esqueçam, ainda, os ensinamentos. Não tanto os cálculos, a gramática ou um que outro conceito da Geografia, mas, sobretudo, o apego à vida e à certeza de que um novo horizonte é possível, mais feliz, sadio e fraterno! Sejam felizes.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

MANIFESTO


MANIFESTO
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Para que serve o Estado, senão para garantir, com qualidade, a materialização dos princípios constitucionais, como saúde, educação e segurança? Para que serve o Estado, senão para garantir a paz social fundada na justiça e respeito à dignidade da pessoa humana? Para que serve o Estado, senão para retirar da esfera privada iniciativas violentas que, na busca de proteção, vingança ou satisfação de desejos mesquinhos, acabam por fazer sombra aos avanços civilizatórios? O Estado não é um fim em si mesmo. Existe, sobretudo, para “servir” aqueles que não apenas lhe sustentam, mas lhe dão sentido.

                Vivemos tempos de medo. As ruas e avenidas há muito vêm sendo manchadas de sangue. As praças viraram local “seguro”, não para as crianças, jovens e trabalhadores, mas para o consumo e tráfico de drogas. Como zumbis, hordas de pichadores, arruaceiros, viciados e criminosos de toda espécie infestam a cidade, fazendo dos espaços públicos e privados um verdadeiro inferno. O velho ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” vem assumindo proporções cada vez mais trágicas e preocupantes. Inexiste local seguro ou a salvo da barbárie que vem ceifando vidas e enlutando lares. Enquanto os muros altos das residências evidenciam a sensação de insegurança, as frágeis grades dos presídios – que mais parecem masmorras medievais – escancaram a falência do ente público, este há muito motivo de escárnio e deboche. O avanço da criminalidade contrasta com a incapacidade do Estado em transformar o conhecido e surrado discurso em ações concretas capazes de estancarem o avanço do câncer da violência urbana que tem levado à metástase da teia social.

                Queremos, merecemos e exigimos dias melhores. Nossas mães não geraram filhos para serem precoce e violentamente arrancados desta vida. O sangue, inocentemente vertido, de cada criança, jovem ou adulto, clama por justiça. Não apenas façamos memória a cada filho, irmão, pai, mãe, amigo que perderam a vida em decorrência desta guerra urbana – alimentada pela omissão, incompetência, quando não pela íntima relação do Estado com o crime organizado –, mas transformemos nossa dor e indignação em ações concretas. As escolas que compõem a Paróquia Estudantil, através do presente documento manifestam a profunda preocupação, repúdio e indignação frente ao avanço da violência. A dor da família do Gabriel (Escola Estadual Júlio César Ribeiro de Souza, em Alvorada), covardemente assassinado, é, também, a nossa dor. O sofrimento do Henrique (Instituto de Educação São Francisco, em Porto Alegre) e de sua família é, também, o nosso sofrimento. Quantos mais perderão a vida? Quantos mais serão privados de curtirem a infância e a juventude? Quantos mais trocarão muitos anos de vida por uma pequena nota nas páginas policiais de um jornal qualquer? Quantas flores de debutantes darão lugar àquelas postas sobre a lápide fria como a morte?

                Enquanto o cidadão de bem definha e agoniza, o crime engorda e avança a passos largos. Atinge, indistintamente, a todos: brancos e negros, pobres e ricos, letrados e analfabetos, crianças e idosos, homens e mulheres... Entrar ou sair de casa é um risco. Ir à escola, ao trabalho, à padaria, ao posto de gasolina é um risco. Andar a pé, de carro ou de ônibus é um risco. Sair de dia ou à noite, sozinho ou em grupo é um risco. Ser abordado por alguém com farda ou sem ela, é um risco. Estamos a ponto de temer a própria sombra, não sem razão. Nossos direitos vêm sendo vilipendiados diuturnamente. Há muito, não enxergamos sequer a luz no final do túnel. Foi-nos subtraída.

                Abaixo, portanto, à impunidade! Abaixo ao discurso evasivo ou ao leque de promessas jamais cumpridas. Abaixo à frouxidão do Poder Público. Abaixo às decisões de magistrados que, em nome de uma lei – por vezes equivocadamente interpretada – dão salvo conduto a delinquentes de toda sorte. Abaixo à gestão assentada no amadorismo, na troca de favores e na defesa de interesses espúrios. Abaixo ao corporativismo de toda espécie que, ao olhar para o próprio umbigo, olvida o interesse verdadeiramente “público”. Abaixo à falta de investimentos nas áreas vitais, como a da segurança.

Queremos, através do presente Manifesto, marcar posição, iniciativa esta que, tenham certeza, não se limitará à formalidade deste documento. Sozinhos, mais fazemos lembrar uma ovelha ameaçada pela matilha, mas juntos somos fortes. Assumamos aqui o compromisso com o “outro”. Uma relação pautada na ética, no respeito, na empatia e na solidariedade. Exerçamos nossa cidadania com firmeza, não titubeando ante às falhas e vícios do Estado.


Ante o exposto, encaminhamos este Manifesto – em nome das escolas (e comunidades a elas associadas) da Paróquia Estudantilaos representantes de todos os Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), ao Ministério Público, à imprensa e à Sociedade Civil Organizada, para EXIGIR, por parte do Poder Público, ações concretas e duradouras que garantam a segurança de nossa comunidade, conforme previsto na Constituição Federal. 

Leia também: http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/noticias_visualizar.php?noticia_id_=1574