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terça-feira, 26 de maio de 2015

O MENTECAPTO: PERGUNTAR NÃO OFENDE!


O MENTECAPTO: PERGUNTAR NÃO OFENDE!
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                O mentecapto é assim mesmo. Insiste em pensar bobagem. Atolado em seus devaneios, insiste ver chifre em cabeça de cavalo. Pudesse, inquiriria os mais entendidos sobre dúvidas que o perseguem. Afinal, perguntar não ofende, pensa. Como entender que o chefe de segurança de um ex-Secretário de Segurança fosse, ao mesmo tempo, guarda-costas de um dos maiores traficantes da região? Falta de informação, infelicidade, coincidência? O mentecapto não acredita no acaso. Por mais que o tentem convencer de que não se pode confundir alhos com bugalhos, segue pensando o pior. Teima em engolir a ideia de que o principal responsável pela morte do traficante, cliente do chefe de segurança, fosse preso e assassinado dentro do presídio. Como alguém que estava sob a tutela do Estado foi asfixiado? Mais uma coincidência? Assim como fora coincidência o fato de que a guarda responsável pela vigilância do preso fosse uma novata? Mesmo ele, um mentecapto e, portanto, um idiota, sabe que aquele preso, em especial, deveria receber atenção redobrada. O Secretário de Segurança, ao que parece, não sabia. O governador, o Diretor do presídio, o juiz e todos os outros agentes públicos também não sabiam. O mentecapto já não sabe quem é, de fato, o imbecil. Está preocupado e temeroso em desconfiar que o Estado tem flertado com o crime organizado. Tem calafrios só em pensar que as mais altas lideranças e outros servidores de todos os Poderes possam, de alguma maneira, se prostituir, vendendo suas consciências por algumas moedas, ainda que manchadas pelo sangue que brota da violência associada ao tráfico. Tem pesadelos ao imaginar que lobo e cordeiro, apesar da aparente distinção trazida pela toga ou pela gravata, possuem a mesma essência e desmedida malícia. O mentecapto anda desconfiado. Vê fantasmas por todos os lados. Já não dorme direito, achando que o Apocalipse se avizinha. Mesmo a propaganda oficial, com todas aquelas imagens, slogans e frases de efeito, é incapaz de insuflar nele um pouco de ânimo. Lembra uma barata tonta a escapar da morte que parece certa. O tempo arrefece a memória e tende a amarelar as páginas do jornal. Quiçá, ali adiante, também o mentecapto esqueça todas essas bobagens. Presídios controlados pelos encarcerados, ações policiais abortadas pela carência de vagas nas cadeias, “prefeitos” que determinam quem vive e quem morre nas galerias, pavilhões recheados de celulares, bebidas, armas e drogas... Quanta besteira! O mentecapto, ao que se vê, perdeu por completo o juízo. Exagera, inventa, vê o que ninguém mais vê. Coitado. A lucidez, feito lampejos, raramente tem dado as caras. Já não sabe quem “cheira”: ele, o traficante ou o Secretário. Alucinado, o idiota perambula pelas fétidas ruas escuras e desertas, por vezes esbarrando num ou noutro monumento coberto pela pichação. A cidade estaria cada vez mais feia ou tudo não passa de uma visão distorcida pelo avanço da esquizofrenia? Achassem-no agora, o tomariam por ébrio. Sem razão é claro, afinal tropeçava não nas pernas, mas nas próprias ideias.