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terça-feira, 31 de março de 2015

OS PUXADINHOS DA ESCOLA


OS PUXADINHOS DA ESCOLA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Não fosse trágico, seria cômico. As escolas neste país, principalmente (mas não somente...) as públicas, convivem com a síndrome dos “puxadinhos”. Lida-se com elas como se fossem um fusca velho. Remenda-se uma correia aqui, aperta-se um parafuso ali, dá-se uma martelada acolá e toca-se o barco adiante, ainda que aos trancos e barrancos. Sobra amadorismo, enquanto falta competência por parte do Estado para imprimir ao ensino a importância historicamente deixada de lado. Não apenas competência, mas faltam ao gestor público seriedade e compromisso com a “coisa” pública. Enquanto as secretarias municipais e estaduais de ensino, assim como o Ministério da Educação, seguem loteadas por interesses político-partidários espúrios e mesquinhos, as escolas definham, mais fazendo lembrar um amontoado de ossos secos sob a indisfarçável pele da indiferença. Salas de aula imundas e mal pintadas, bibliotecas e laboratórios sucateados, pátios nada convidativos, refeitórios onde o que menos se vê é uma alimentação equilibrada e de qualidade, banheiros depredados e mal cheirosos a despertarem a saudade das velhas patentes de tempos pretéritos... Sobejam problemas na mesma medida que escasseiam soluções efetivas. Discursos e chavões é que não faltam, assim como as velhas e desgastadas promessas jamais cumpridas. Enquanto a acessibilidade passa de largo, a comunidade escolar vai driblando as dificuldades do terreno irregular, das escadarias mal projetadas e dos acessos por vezes intransponíveis. O mesmo ente público que tece e fiscaliza os regramentos, não os cumpre, numa insofismável demonstração de incoerência e criminosa irresponsabilidade. Ao exercício do magistério sonega-se não apenas o salário minimamente razoável, mas também as ferramentas indispensáveis no processo ensino-aprendizagem. É duvidar, falta inclusive o giz, restando quiçá o cuspe a um profissional aviltado em seu bolso e extorquido em seus sonhos. Quanto ao aluno, segue alimentado por quimeras e palavras vazias acerca de um futuro que jamais chega. Fora os parcos instantes sob os flashes das fotos onde pousa ao lado do prefeito, governador ou presidente, o que prevalece é o breu de uma vida desassistida e fadada à pobreza. A escola, antes do que tábua da salvação, há muito vem sendo trampolim para interesses que não vão além do umbigo de alguns inescrupulosos. O quadro-verde esburacado, os ventiladores estragados, o telhado mais parecendo um queijo suíço, os jurássicos equipamentos de uma tecnologia para lá de ultrapassada são apenas a triste ponta de um vergonhoso iceberg. A esquálida figura da escola é nada mais do que o retrato do atávico descaso com que o ensino vem sendo tratado por estes páreos. A real qualidade é preterida em nome das aparências. Confeccionam-se gráficos multicoloridos que, no frigir dos ovos, buscam escamotear um contexto sombrio e preocupante. Maquila-se a evasão com o jogo de palavras e trocadilho de conceitos, assim como “resolve-se” o problema da repetência com a invenção de fórmulas mágicas. Como de costume, joga-se para debaixo do tapete toda a fétida sujeira que impede que nossos educandos, de fato, aprendam. Pactua-se com o politicamente correto passando panos quentes sobre a incompetência de alguns pseudo-educadores e quase absoluta inabilidade de muitos gestores. Trata-se, muito comumente, o aluno e sua família como bestas, como se não fossem eles os que dão sentido à escola. Inexiste servidor público sem o contribuinte que o sustente. O educando é imprescindível ao profissional da educação. O primeiro precede o último, dando-lhe razão de ser. A escola merece respeito! Escola jamais deveria rimar com esmola, mas carece, isto sim, é de ser entronizada como única resposta para superação do subdesenvolvimento.  

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