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terça-feira, 24 de março de 2015

A EJA E O PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: DESAFIOS


A EJA E O PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: DESAFIOS
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Mais um Plano Municipal de Educação (PME) e, com ele, uma torrente de sentimentos que vão da tímida esperança à escancarada desconfiança. Não por acaso, afinal a história recente deste município (do estado e do país...) vem reforçando os atávicos problemas que dizem respeito à educação. Esta, há muito maltratada e vilipendiada, segue no plano da etérea esperança, onde abundam discursos e promessas, enquanto faltam ações efetivas capazes de alavancarem o único caminho para o desenvolvimento social, a saber, o ensino de qualidade. Apesar do pessimismo e descrédito reinantes, o PME – a reboque do “novo” Plano Nacional de Educação (PNE), tardiamente aprovado em 2014 –, indiscutivelmente, é um importante documento, importância esta que nasce da construção coletiva dos atores direta ou indiretamente ligados à educação: professores e demais funcionários das instituições de ensino (públicas e privadas), alunos, pais, sindicatos, mantenedora (Executivo), Legislativo, etc.. O grande desafio, ao que parece, é transformar o texto produzido (inicialmente, não mais do que letra morta) em realidade, desafio que passa, necessária e obrigatoriamente, pelo tensionamento do Estado (aqui compreendido em seu sentido lato sensu) pela sociedade organizada.

                A Educação de Jovens e Adultos (EJA), no município de Cachoeirinha, há alguns anos vem agonizando, envolta em inúmeros e graves problemas. O fechamento dessa modalidade em muitas escolas públicas municipais é apenas a ponta de um triste e preocupante iceberg, onde a verdadeira frieza nasce do absoluto descaso do Estado (produto, no frigir dos ovos, da ação e/ou omissão da sociedade como um todo...) em relação ao ensino, postura associada ainda à incompetência, inépcia, malversação de recursos, falta de planejamento a médio e longo prazos, confusão entre público e privado, processos licitatórios suspeitos, sobreposição de interesses espúrios em detrimento da coletividade, política salarial aviltantemente pífia e muito aquém do razoável levando ao desestímulo dos profissionais da educação, dentre outros. A evasão – principal causa alegada para o fechamento da EJA – não é obra do acaso, mas produto de uma série de fatores, quase sempre conjugados: descaracterização do público atendido pela modalidade (hoje, em sua maioria, adolescentes “vomitados” pelo dia, em decorrência da indisciplina e multirrepetência, por exemplo), despreparo docente (às vezes, consequência da rotatividade dos profissionais da EJA, muitos deles vendo na modalidade não mais do que a oportunidade de aumentar seus vencimentos), estruturas física e pedagógica precárias (falta de acessibilidade, currículos descolados da realidade discente, falta de equipamentos), etc.. Portanto, motivos temos de sobra para discutirmos a EJA. A revisão do PME soa como uma boa oportunidade para revisitá-lo e, ao fazê-lo, apontarmos eventuais avanços (eles existem, por certo) e falhas de percurso, denunciando e cobrando do Estado aquilo que lhe diz respeito, além é claro de jamais deixarmos de lado a sempre bem-vinda e salutar autocrítica enquanto gestores, professores, alunos, pais, representantes de Conselhos de Direitos, etc.

                A EJA da EMEF Fidel Zanchetta vem buscando romper com a perversa lógica do ciclo acima descrito, onde o Poder Público fecha a modalidade porque não tem aluno e não tem aluno porque o Poder Público nem de perto cumpre com seu papel constitucional. A opção pelo Ensino à Distância (EAD) Semipresencial é a prova cabal da intenção da comunidade escolar em perfectibilizar um direito assegurado nos principais diplomas legais nacionais ou não. Abre-se com ele (EAD-Semipresencial) uma importante oportunidade para os jovens e adultos trabalhadores finalizarem o Ensino Fundamental. A flexibilização de horários (duas noites presenciais e as demais à distância, por meio da Plataforma Moodle), a possibilidade de contato com os educadores a qualquer hora, a apropriação e familiarização com a linguagem digital são apenas algumas das virtudes do Ensino à Distância praticado pela EJA na referida Escola. Os frutos vêm aparecendo! Objetiva-se com o EAD-Semipresencial não apenas mitigar a evasão e repetência, mas sobretudo aprofundar a inclusão social, onde o exercício da cidadania extrapole os limites do discurso e se transforme em práxis modificadora do cotidiano. A ferramenta, ao contrário do que muitos pensavam, veio contribuir na humanização do processo ensino-aprendizagem.


                Apesar de todos os avanços, a EMEF Fidel Zanchetta (EAD-Semipresencial) ainda se debate com muitos dos infortúnios de outras instituições de ensino que ofertam a modalidade EJA. Urge, por exemplo, significativos investimentos no Laboratório de Informática (LI), afinal dito espaço passou a ser uma das espinhas dorsais da EJA. Poucos não são os alunos que dependem dos equipamentos à disposição na Escola. A falta e/ou a precariedade dos computadores, por exemplo, fere um importante direito do educando e compromete o próprio Projeto da Instituição. O PME, a ser discutido ao longo dos próximos meses, pode e deve contribuir na louvável intenção da comunidade escolar da EJA Fidel Zanchetta em garantir e aprofundar o atendimento. Para tanto, é imprescindível a efetiva participação de todos, opinando, criticando, propugnando por ações concretas que viabilizem uma escola de qualidade. 

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