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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

LEI JOÃO DÁ PENA


LEI JOÃO DÁ PENA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Nasci numa época em que homem só casava com mulher e esta com homem. Numa época em que os pais se portavam como tal. Eram tempos em que cabia ao marido tomar as rédeas da casa, restando à esposa zelar para que as regras e vontades do senhorio fossem seguidas à risca. Hoje, dispensável é dizer, o mundo (ocidental!) mudou. Não sei se para melhor, mas que já não é o mesmo da minha época de criança, isso não é. Saímos de uma realidade fortemente machista e patriarcal para uma meleca a que alguns chamam de democracia. Inflacionou-se a legislação dita protetiva sem que isso tenha redundado, em absoluto, na melhoria das relações humanas. Nunca houve tanto desrespeito ao outro. Feito cachorro perdido correndo atrás do próprio rabo, vamos criando textos legais estéreis que pouco ou nada contribuem para qualificar e fortalecer a dita teia social. Mesmo as novas tecnologias e penduricalhos produzidos em larga escala pelo Capitalismo doentio se mostram incapazes de disfarçar o mau cheiro desta realidade decrépita que desova na sarjeta um incontável número de viciados e depressivos. Uma realidade onde boa parte da juventude não vislumbra ali na frente mais do que um baseado, um par de tênis da Nike ou um smartphone. As selfies, feito lago de Narciso, soam, muitas vezes, como eufemismo para um hedonismo mal disfarçado. A inversão (perversão) de valores é tamanha que, ao sair do oito para o oitenta, acaba por produzir algumas situações, também, hilárias. Qual o marido, por exemplo, que já não se defrontou com a tão temida “lista” pendurada, estrategicamente, na geladeira? Sim, aquela enorme e maldita “lista” escrita à mão de ferro pela impaciente companheira que, diuturnamente, faz questão de inquirir se a grama já foi cortada, a janela consertada ou o pinga-pinga da torneira estancado. Mais severa do que a cobrança divina em relação aos mandamentos trazidos do cume do Sinai, a esposa faz da dita “lista” a Lei do Talião. A mulher escreveu e o marido não leu, o pau comeu... Nessas horas, onde estão os Direitos Humanos? Mais fácil achar guarida na legislação que protege a bicharada do que numa eventual defesa em prol do marido desassistido. Daí, quem sabe, o esposo aguardar, quase desesperado, o fim das férias e o retorno ao trabalho, uma saída protelatória, mas interessante, para escapar da cobrança doméstica. Apelar para quem? Verdadeiro mato sem cachorro, beco sem saída. Propugnar, talvez, por uma espécie de “Lei João Dá Pena”, em contraposição à Lei que protege a mulher frente à violência doméstica e familiar. Quem sabe um diploma legal que traga, dentre outros artigos, incisos, alíneas e parágrafos, uma expressa vedação às “listas” produzidas por mulheres sem coração que escravizam e atormentam os pobres maridos. Estes merecem respeito, um lugar ao sol, de preferência acompanhados de um bom prato de petiscos regado à cerveja bem gelada. Abaixo as “listas” e bom verão a todos os meus amigos!



segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

BANHO TCHECO


BANHO TCHECO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

               

                “Esta noite não vai ter”. Tamanha ameaça vinda da companheira só fazia aumentar a ira e indignação do desgraçado. Um dia inteiro sem água e, como sempre acontece, a corda arrebenta do lado mais fraco. Ora, que se penalizasse a companhia de abastecimento de água, seus diretores e funcionários ou, ainda, quem sabe, as imprestáveis agências reguladoras que nada mais servem do que meros cabides de emprego e trampolins político-partidários. Por que sobrar para ele? A mensagem da esposa era direta e objetiva – ao contrário da embromação por detrás da linha telefônica do maldito zero oitocentos –, não deixava margem para dúvidas: banho tcheco ou passaria a noite em seco. Até tentara convencê-la do poder miraculoso do Rexona, ainda mais se emplastado em várias camadas embaixo dos sovacos. Irredutível, a mulher nem lhe olhava, ignorando-o por completo. Até a água gelada da piscina de plástico enfiada nos fundos da residência parecia uma saída honrosa para o imbróglio alimentado pela resoluta insistência feminina. Contudo, como explicar aos filhos o banho àquela hora da noite? Fosse criança, tudo bem, mas logo ele, burro velho, enfiado na piscina em meio à madrugada, viraria motivo de gracinhas por parte da vizinhança. Portanto, fora de cogitação. A raiva aumentava à medida que os ponteiros do relógio avançavam sem que a esperada água aparecesse. Perdera as contas quantas vezes abriu a torneira da área de serviço em busca da perfeita mistura dos dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. O desespero era tamanho que bastava meio átomo de cada elemento. Contudo, nem água e nem vento saía da bica. O pavor era tal que até abriu mão da rotineira escovação dos filhos, além é claro de clamar aos céus que os pequerruchos não inventassem de cagar naquela altura do campeonato. A ordem era clara: poupar cada gota de água que fosse possível. Verdadeiro estado de guerra. Sem banho, pouca ração e sem televisão. Sim, afinal temia que as mensagens subliminares da programação pudessem desencadear uma vontade incontrolável da piazada em consumir água. Menos a caçula, esta movida a refrigerante e picolé. Quem diria, enquanto noutros tempos sentia certa inveja do carro ou da casa nova do vizinho, agora mirava o poço artesiano do felizardo. O ronco do motor a puxar água lá de baixo fazia lembrar o monstro da motosserra estraçalhando seu orgulho. Não bastasse, não é que o malvado, muito provavelmente, de forma proposital, deixava a água sair pelo ladrão, como que a zombar da sina alheia? A tardança da água era caso de polícia, um atentado ao contribuinte e uma ameaça à estabilidade familiar. A mulher, que de tcheca nada tinha, não cansava de ostentar que com dois copos e meio de água não só tomara banho, como lavara a cabeça. Impossível, pensava o pobre marido. Dois copos mal davam para lavar os olhos, quanto mais um corpito como o dele, para lá dos noventa quilos. Percebendo a falta de flexibilidade da esposa, partira para negociação. Quem sabe um aconchego aqui, uma carícia acolá... Banho tcheco ou nada! Apelara para filosofia, história, sociologia, bruxaria... Não! Bolas, até os Estados Unidos relaxaram o embargo econômico à Cuba, por que então tamanha incompreensão? “No, no, no estoy convencida” bradava ela num espanhol impulsionado por uma brabeza russa. Algo de assustar. Resignado, o coitado, de posse da canequinha, dirigiu-se ao banheiro. Até que sorteasse as partes a serem limpas e transformasse toda aquela pedra em pão, eis que a mulher entregara-se aos braços de Morfeu.


domingo, 7 de dezembro de 2014

REMÉDIO E VENENO: UMA QUESTÃO DE DOSAGEM


REMÉDIO E VENENO: UMA QUESTÃO DE DOSAGEM
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Quem trabalhou ou trabalha em escola sabe o quanto é difícil, porém necessário, explicar às crianças e adolescentes a diferença entre a “brincadeira” e o “ato de indisciplina”, este último sujeito aos “puxões de orelha” previstos no Estatuto Disciplinar ou algo que o valha. Comum é lidarmos com situações onde o educando é encaminhado para a Direção ou Coordenação de Disciplina porque ofendeu, machucou ou ameaçou o colega, por exemplo. Não menos comum é nos depararmos com a “justificativa” dada pelo aluno: ”tudo não passava de uma brincadeira”. Sincera ou não a explicação – até porque é difícil averiguar a verdadeira intencionalidade do ato –, precisamos admitir o quanto é tênue o limite que separa o “brincar” daquilo que o extrapola, passando a ser um problema. Faz lembrar o conhecido dito popular de que o que diferencia o remédio do veneno é, no frigir dos ovos, a dosagem aplicada. Brincadeira é quando todos os envolvidos se divertem, sem qualquer espécie de prejuízo a eles e/ou a terceiros. Por outro lado, quando alguém – mesmo que de fora do circuito da “brincadeira” – sai ferido, magoado, lesado ou diminuído em sua dignidade, aí passamos a ter um problema. Toda brincadeira tem limites, marcos estes que devem estar assentados no respeito, na ética, na verdade, na honestidade e, é claro, na diversão e no lúdico. Divertir-se é não apenas aceitável, como necessário e saudável, algo indispensável à formação do sujeito enquanto pessoa. O prazer que nasce da diversão é como cimento imprescindível à edificação de homens e mulheres mais felizes e melhor preparados para construção de uma sociedade mais harmoniosa e menos desequilibrada. Contudo, o próprio “brincar” obedece, ou deveria obedecer, certas ordens, alguns paradigmas necessários para que a alegria de “um” não se transforme em tristeza para “outro”. O que é, por exemplo, o bullying senão uma perversa e abominável prática onde alguém se “diverte” às custas de outrem? Brincar, é remédio para alma. Extrapolar a brincadeira, por sua vez, é veneno para as relações. A brincadeira aproxima, enquanto o exagero não apenas distancia, mas – por vezes – é tão cruel a ponto de apagar até mesmo as pegadas que poderiam levar a um novo encontro de perdão. A brincadeira rejuvenesce, o excesso recrudesce a vil tirania do aparentemente mais forte em face da vítima. A brincadeira abre portas e faz brotar a amizade, já a maldade sepulta a confiança mútua. Brincar é como bálsamo que restaura a saúde, faz correr a dor e afugenta a nuvem sombria da descrença na vida. Distorcê-la, contudo, é lançar irresponsavelmente o sentimento alheio contra os duros penedos, deixando – por vezes – cicatrizes eternas na memória. À escola e, principalmente, à família cabe educar o rebento, orientá-lo a discernir entre o certo e o errado (aos defensores do relativismo doentio, afirmo existir sim o “certo” e o “errado”!), diferenciar o veneno do remédio, primar pelo respeito ao outro, sem abrir mão ou deixar de lado a brincadeira e a felicidade. Boa diversão a todos! 
Veja também:
http://www.sinepe-rs.org.br/site/informacao/opinioes_125
Veja, ainda:
http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=d2edbf7abcb878468e6019d4a8b73e2e

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

UH, É TERCEIRÃO


UH, É TERCEIRÃO
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                É, mais um ano que chega ao ocaso. Duas turmas de formandos que veem o coroamento do esforço de uma labuta que perdurou onze, doze anos ou mais. Levantar cedo, abrir mão quem sabe do lazer, torcer para que o ônibus não tardasse ou que o larápio e flibusteiro passasse de largo. Chegar uniformizado no horário, não esquecer a agenda, retornar do recreio antes do segundo sinal, cuidar para não dormir nas aulas do Gilvan... Os pais a perguntarem sobre a nota daquela prova que melhor seria não ter existido, o mantra sobre o ENEM, a pressão pela escolha “certa” do curso acadêmico e a expectativa da carreira profissional. Para compensar, nada melhor do que a companhia dos amigos. Amizades que singraram as ondas do tempo e, ainda assim, resistiram incólumes às vicissitudes da vida. Aquele inconfundível sorriso, o afetuoso abraço e, sobretudo, a certeza de poder contar com toda aquela cumplicidade. O final de semana difícil, o conflito familiar, a pindaíba aparentemente sem fim, o término de um relacionamento... Tudo parecia sumir quando na companhia dos verdadeiros amigos. Parece mentira, ainda ontem não passavam de pequerruchos a carregarem suas mochilinhas coloridas e merendeiras. Corriam pelo pátio, feito loucos, para desespero de quem os cuidava. Trocavam figurinhas e cartinhas cheias de uma pueril ingenuidade, nem por isso, destituídas de sinceridade. O primeiro caderno, a primeira “prô”, o primeiro “amor”, ainda que em formato de um pequeno ser com pouco mais de um metro de comprimento. Quantas histórias juntos? Passeios inesquecíveis, festas memoráveis e segredos inconfessáveis. Só o tempo para transformar as peraltices e travessuras de outrora em boas lembranças. Como bálsamo, só ele para cicatrizar as feridas, mesmo as mais profundas. O tempo traz a cura, mas também alguns efeitos colaterais, como a saudade. A mesma que nasce desde já, saudade dos tempos de “São Chico”. A vontade de chorar só não é maior do que a certeza de que, assim como a debutante, aproxima-se o instante em dar o braço ao futuro, que aguarda para a tão esperada valsa da vida. Dentre os convidados, este singelo professor. Sentirei falta de cada um e de cada uma de vocês. Foi um ano excepcional de convívio, onde muito mais aprendi do que ensinei. Os conteúdos, muitos deles, se perderão nos becos e ruelas da memória, mas a amizade e admiração construídas permanecerão para sempre. A saudade baterá à porta quando lembrar das brincadeiras em aula, dos puxões de orelha em quem ousasse sequer pensar em mexer no celular, das perguntas atrapalhadas ou protelatórias de alguns colegas. Lembrarei de vocês a cada Festa Junina ou Gincana. Os recreios, por certo, já não serão os mesmos. Toda vez que olhar para o fundo da Cantina virá à lembrança aquele casalzinho comportado. Como esquecer a galera que, todo santo dia – salvo finais de semana e feriados, é claro... –, se posicionava próximo à imagem do Padroeiro? Fizeram história na Escola e marcaram, de maneira indelével, o coração deste velho professor. Resta, neste momento, primeiro agradecê-los e desejar a vocês muita paz, sabedoria, saúde, felicidade e sucesso. Jamais esqueçam que nada tem maior valor do que a relação com o “outro”, portanto pautem a conduta na ética, na verdade e no respeito, virtudes estas que nascem do amor. Não pude abraçar a todos, mas o faço agora através deste singelo texto. Parabéns e que Deus os abençoe! Dá-lhe Terceirão.

Veja também:
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

DISCURSO DE FORMATURA


DISCURSO DE FORMATURA DA EJA FIDEL ZANCHETTA (2014/2)
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


Boa noite!


Cumprimento a mesa e, ao fazê-lo, saúdo a todos aqui presentes: Mantenedora, Direção, Setores, professores, familiares e, de forma muito especial, meus queridos formandos. Desnecessário é dizer o quanto me sinto honrado em ter sido duplamente homenageado pelos alunos que, hoje, recebem, ainda que simbolicamente, o diploma de conclusão do Ensino Fundamental. A modalidade Ensino à Distância (EaD) Semipresencial da Escola Municipal Fidel Zanchetta vem produzindo bons frutos. Garante, por exemplo, o tempo necessário à pesquisa e planejamento colaborativo dos professores, aproxima os educandos das novas tecnologias indispensáveis ao mercado de trabalho e privilegia o aluno trabalhador interessado em agregar ao currículo não apenas um certificado, mas, sobretudo, experiências de vida.

Adoráveis alunos, este momento ímpar só se tornou possível graças, principalmente, ao sonho de cada um de vocês. Não um sonho qualquer, mas – como deveriam ser todos os sonhos – um sonho que nasce no coração, passa pelas veias e artérias, por todos os membros do corpo, até se transformar em algo encantadoramente real. Um sonho que foi sendo construído, passo a passo, ainda que, por vezes, com dificuldade. Um sonho que, talvez, os obrigou abrir mão, ainda que temporariamente, da família, do lazer ou de algumas horas de sono. Um sonho que envolveu disposição e paixão, afinal sem esta o sonho perde muito de sua graça. Um sonho não apenas de vocês, mas também nosso. Qual é o verdadeiro professor que não sofre, com alguma intensidade, com a dor de vocês, que não se torna cúmplice dos anseios de seus alunos? Qual é o bom professor que não se emociona com o brilho no olhar do aluno que aprende ou com o suspiro daquele que ainda tenta aprender? Tal qual o pastor zeloso, o professor chora quando vê um dos seus alunos abandonar o aprisco e se alegra ao ver que a ovelha desgarrada retornou à escola. O aluno está para o professor, assim como o néctar para o beija-flor. São vocês, meus queridos educandos, que dão sentido à tarefa de educar.

Sei que falo também em nome de todos os demais professores e funcionários da EMEF Fidel Zanchetta, ao desejar a cada um de vocês, formandos, muito sucesso. Façam bom uso daquilo que aprenderam. Busquem, assim como o sal, dar sabor à Terra. Sejam éticos, verdadeiros, honestos, trabalhadores e sirvam de exemplo. Não parem por aqui, sigam estudando, galgando não apenas títulos e certificados, mas, sobretudo, espaços de verdadeira participação na comunidade, de maneira a contribuírem na construção de uma sociedade menos desigual, menos violenta, mais fraterna e muito, muito mais feliz. Parabéns e muito obrigado a todos!



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A LISTA


A LISTA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Procurando o nome na lista de alunos aprovados por média? Por quê? Tens alguma dúvida? Ora, o resultado final não deveria causar nenhuma surpresa ou solavanco, não é mesmo? Afinal, quase sempre, colhemos aquilo que plantamos. Qual foi o grau de dedicação e comprometimento com os estudos? A resposta é diretamente proporcional à certeza que tens (ou deverias ter...) quanto ao fato de veres, ou não, teu nome inserido na tão aguardada Lista. Claro, há que se admitir certa “margem de erro”, especialmente para aqueles raros casos em que, apesar de todo esforço, ainda assim, o conteúdo explicado nas aulas parece teimar em entrar na cachola. A Lista não deveria surpreender, seja para o bem do próprio educando, da família, da escola, da sociedade como um todo, seja, ainda, para o bem da educação, afinal esta última carece, cada vez mais, de coerência e previsibilidade. Discursos não faltam em defesa da aprovação a qualquer custo, objetivando quiçá a obtenção de dados “positivos”, ainda que para lá de mascarados. Não menos danosos são os chavões que, na prática, fazem da nota um triste e perverso açoite para compensar a incompetência do educador em dar conta do recado. A Lista deveria revelar o “preto no branco”, coroando o casamento perfeito entre o previamente combinado e o efetivamente realizado. Estar nela deveria ser, ainda, regra e não exceção. Infelizmente, contudo, a Lista tem estado não apenas cada vez mais magra, mas também mais pobre em qualidade. Mesmo a flagrante mediocrização do ensino tem se mostrado incapaz de ampliá-la. Causa tristeza ver a Lista virar um fim em si mesmo. O que importa, para maioria, é ver seu nome ali inscrito, como se fosse o próprio Livro da Vida. Poucos demonstram preocupação em saber como seu nome foi parar ali, se foi produto do trabalho e verdadeira dedicação ou se foi obra do acaso ou, o que não deixa de ser pior e mais constrangedor, se foi resultado da “bondade” docente. O que seria mais preocupante, constar ou deixar de constar na Lista por alguns minguados “pontinhos”? Existem até aqueles que, em troca de um lugarzinho no tão sonhado rol da “fama”, se comprometem com alguns Pais-Nossos e pagamento de promessas. Há também os que juram, reiteradamente, que no próximo ano será diferente, fazendo lembrar a eterna dieta da segunda-feira. Para fazer parte da Lista, para muitos, vale de tudo, até botar uma “pressão” neste ou naquele professor. A Lista ressuscita até mortos. Aquela mãe que jamais compareceu na escola e sequer sabe o Ano do rebento ou o nome da “prô”, até ela, acreditem, resolve dar as caras e cobrar o nome do filho na Lista. Rola, por vezes, desde sutis ameaças até a mais escancarada agressão. O blefe corre solto: “caso rodem meu filho, vou tirá-lo da escola”. Como se o pobrezinho fosse vítima senão do próprio desleixo e da falta de vigilância familiar. É duvidar, lá está o guri no ano seguinte, acompanhado da mãe, como se nada tivesse acontecido... A Lista tem sido a própria síntese da decadência e do fracasso escolares. Urge repensá-la, vê-la como a ínfima parte de um perigoso iceberg que coloca em risco gerações inteiras de naus a espera de um norte. Cabe, principalmente, a nós adultos (pais, professores, gestores, estudiosos...) apontarmos o caminho. Ah, antes que esqueça: parabéns ao que tiveram (ou tiverem) o nome inscrito na Lista. Quanto aos demais... 

Veja também:
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