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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

SIMPLESMENTE, PROFESSOR...


SIMPLESMENTE, PROFESSOR...
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Sei que o Dia do Professor já passou. Homenagem extemporânea, quem sabe. Acho que não, afinal qual é o dia em que o professor não deva ser lembrado? Afinal, há quem leve, inclusive, a imagem do professor ou da professora para a mesa, para a praia e, se duvidar, para cama... Existem os que preferem, obviamente, levar – neste último caso – não apenas a imagem. Ainda ontem estava assistindo alguns vídeos no youtube, quando me deparei com a animação abaixo:



Perceberam? Não é nosso próprio retrato, imagem e semelhança? Não são poucos os que sonham em ser um professor “ideal”, numa sociedade ideal, dentro de uma escola ideal, ocupada com o aluno ideal... Tais como as nuvens brancas a produzirem lindos e adoráveis gatinhos, cãezinhos e bebezinhos rechonchudos. Caberia, assim, ao educador – da mesma forma que à alinhada cegonha – apenas a tarefa de “finalizar” o trabalho. Uma barbada! Apesar de simpática, a ideia de tamanha perfeição passa de largo frente à dura realidade. Pessoas de carne e osso carregam em sua essência as imperfeições do “barro” original. Habitam escolas que, não raras vezes, têm na falta da pintura, no quadro-verde danificado e nos banheiros emporcalhados seus menores problemas. Tais como as nuvens escuras, escolas inseridas num contexto de violência, insalubridade, vulnerabilidade, desrespeito e falta de esperança. Assim como a cegonha desajeitada, cansada e maltrapilha, o professor faz das tripas coração para sobreviver em meio a tantas adversidades. Apesar dos salários aviltantes e do parco reconhecimento social, teima em acreditar em dias melhores. Diariamente, recebe em suas mãos jacarezinhos, bodinhos, quando não  enguias e tubarões. Crianças, adolescentes e adultos muitas vezes feridos na alma e desassistidos na vida. Alunos e alunas limitados menos por eventuais deficiências do que pela histórica e irresponsável incompetência do Poder Público. Ainda assim, o professor segue adiante. Busca forças, sabe-se lá onde. Gasta o tempo e o dinheiro que não tem, em busca da própria “formação”. Não desiste, ainda que – durante uma vida inteira – nade contrário à maré. Vê beleza onde ninguém mais vê. Vislumbra luz onde outros veem tão-somente nada mais do que escuridão. Daí ser alguém muito especial. Feliz Dia do Professor!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

RODA DE SABERES


RODA DE SABERES
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Pode haver melhor forma de refletir e discutir história do que através da poesia? Pode existir melhor maneira de dialogar com o “outro” e consigo mesmo do que através do verso? A prosa e a rima desarmam e seduzem. Diferentemente do canto das sereias que apenas encanta e, por fim, tira do homem a seiva da vida, a poesia convence, pois que fala ao coração. Mesmo a dor, quando peneirada por entre as estrofes e refrões, é amainada, tornando-se quase uma companheira, apesar de incômoda. Refletir sobre o passado, embalado pelo atabaque, é como navegar por entre as ondas do grande mar. Saborear a letra que brota dos cordéis e dos livros é como deliciar-se em meio aos manjares apimentados do Pelourinho, é como lambuzar-se com as cocadas açucaradas anunciadas nas ladeiras cercadas por casinhas coloridas. A ginga sensual da negra no meio do salão é um convite à dança. Feito a presa hipnotizada pelo movimento da serpente, o espectador entrega-se por completo, um tanto que embriagado pelo prazer instigado por aquelas curvas mal escondidas sob o vestido rendado. Histórias vão sendo contadas através dos pequenos nacos de papel pescados dentro do cesto. Uma espécie de costura coletiva, onde o que se tece é um lindo mosaico multicolorido. Palavras que vão dando sentido às coisas, resgatando não apenas memórias, mas vidas. Sofrimentos e paixões de outrora ressurgem com força através das letras que vão constituindo as palavras. Verbos que vão constituindo as pessoas. O que são estas senão produto da própria palavra? A literatura adverte e subverte. Ela transforma, daí ser, por alguns, odiada, menosprezada e perseguida. Quando comungada, então... Poucos não são os que tentam eternizar o navio tumbeiro, em especial a escuridão que embota o olhar. Soubessem eles que aquela gente trazia era na alma as vogais e consoantes que vão dando forma e sentido à existência. Grilhões aprisionam tão-somente o corpo, jamais as ideias. A oralidade, feito o sopro que insufla a chama, preserva o passado, dignifica o presente e anuncia dias melhores. Enquanto o pandeiro e o agogô vão dando o ritmo, a roda de cadeiras vai girando. É sair um, logo atrás vem outro. Roda democrática, que não obriga, mas convence. Roda de saberes distintos, de vivências únicas, de experiências singulares. Unidade que na roda não se dissipa, mas se fortalece, sem que isso represente a tirania de um sobre o outro. Até porque “um” inexiste sem o “outro”. É este último (ou será “primeiro”?) que embeleza e ressignifica o “eu”. A poesia transborda na roda. Diverte e alimenta. Sacia e acalenta. Aquece e encanta. Seduz e humaniza... É a poesia, mesmo a mais singela e discreta, que nos faz diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais. Aproxima e apaixona. Ensina, não por meio da dor... Até a vara de marmelo, quando não mais do que literatura, provoca risos. Açoita e põe a correr a dor, ou, então, dá a esta última, novo sabor. Viva a poesia. Poesia é vida. 

Veja também:
http://educacao.cachoeirinha.rs.gov.br/index.php/26-noticias/outras-noticias/391-roda-de-saberes.html

http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=e2646871a545a1061d0695e71051c8a9

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

CAXIAS DO SUL, A TERRA DA UVA E DA MULTA


CAXIAS DO SUL, A TERRA DA UVA E DA MULTA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                É ir à Terra da Uva para receber de “brinde” uma, duas ou mais multas por “excesso de velocidade”. Pudera, a confusão (proposital?) de informações tonteia até mesmo o mais atento dos motoristas. Sessenta quilômetros aqui, enquanto dali quinhentos metros oitenta,  pouco mais adiante o que vale são os setenta... Uma tremenda babel. A indústria da multa no Rio Grande do Sul, de forma especial na estrada que leva à Caxias do Sul – via Farroupilha – vem engordando os cofres do governo e esgotando a paciência do contribuinte. Os radares móveis mais fazem lembrar as “pegadinhas” de programas humorísticos. Não fosse trágico e caro, seria cômico. É de tirar do sério as artimanhas dos patrulheiros da Polícia Rodoviária Estadual para, às escondidas, atocharem multas nos motoristas. O cunho pedagógico cede lugar à vil e insana prática arrecadatória do Estado. É a multa como um fim em si mesmo. Escondidos por detrás de placas (muitas delas gastas menos pela ação do tempo do que pela omissão do ente público) ou enfiados em meio ao mato alimentado pela incompetência dos órgãos responsáveis pela conservação das rodovias, os agentes do Estado ficam à espreita, feito raposas à espera da presa. Fazem lembrar as víboras a destilarem o veneno diante dos “ratões” que pagam a conta. Segurança e sinalização na estrada que é bom, nada. Guard rail a reforçar a segurança nas curvas da serra que é bom, nada. Viaturas a coibirem os assaltos à noite nas estradas que é bom, nada. As maquininhas usadas pelos patrulheiros mais fazem lembrar caça-níqueis, alimentando a gula de um Estado mastodôntico e ineficaz. A mesma agilidade que sobra na arte vampiresca de sugar os cobres do cidadão, falta na prestação dos serviços públicos. Uma espécie de círculo vicioso, ou seria circo onde o palhaço somos nós? Servidores públicos a serviço de quem? Ora, o que de fato fomenta a tragédia no trânsito, senão, principalmente, a impunidade do mesmo Estado que multa? Os homicidas, movidos quase sempre pelo álcool ou pela droga, que fazem do veículo uma arma, zombam das penas eventualmente aplicadas e, quase sempre, não cumpridas. Os “magrinhos” seguem seus rachas nas principais vias públicas sob o olhar complacente de quem deveria coibi-los. Todos sabem, menos os órgãos fiscalizadores e repressores. Enquanto isso, pais e mães de família, trabalhadores e trabalhadoras, a maioria jamais envolvida em qualquer espécie de acidente, são surrupiados em nome de uma fantasiosa política de “prevenção”. Rodar pelas estradas de nosso (nosso?) Rio Grande tem sido uma triste caixa de surpresa. É retornar para casa e aguardar o carteiro com aquela maldita “notificação” para ser assinada. Isso quando os “presentes” do DETRAN não vêm em penca. Quanto ao “recurso”, é para lá de sabido, que – salvo raras exceções – não passa de mera ficção jurídica, pois que na prática raramente o interessado vê seu pedido deferido. Resta ao coitado abrir mão da próxima Festa da Uva e, se possível, manter distância dos parreirais de Caxias. 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ANTIPETISMO: SAÍDA PARA CRISE?


ANTIPETISMO: SAÍDA PARA CRISE?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Findo o primeiro turno das eleições deste ano (2014), restou clara uma espécie de “antipetismo” por grande parte do eleitorado. Votantes que, embora nem um pouco convencidos acerca dos candidatos a serem escolhidos, tinham uma só certeza: não votar no Partido dos Trabalhadores. Tamanha ojeriza e repúdio ao PT, obviamente não é de graça. Os vícios que outrora configuravam o principal alvo dos discursos inflamados dos “companheiros”, há algum tempo – a coincidir com os sucessivos mandatos sob a liderança do PT – vêm corroendo as administrações petistas em todas as esferas. Corrupção, malversação de recursos públicos, apadrinhamento, confusão entre público e privado, loteamento do Estado e das empresas públicas pelos “amigos do rei”, são apenas alguns tristes e vergonhosos exemplos dos condenáveis pecados praticados pelo partido que até pouco tempo atrás se arvorava como sinônimo de honestidade, ética e “nova forma” de governar. A política petista – política esta, vale lembrar apoiada e respaldada por muitos outros partidos, como o próprio PMDB, que aqui no Rio Grande do Sul tem em Sartori seu candidato ao governo estadual – vem se mostrando nefasta. A carga tributária insana, somada à precariedade dos serviços públicos, faz do Brasil um dos maiores paradoxos da Terra. Apesar de ser uma potência econômica, o país segue no rol dos países com pior distribuição de renda, onde a maioria permanece alijada das mínimas condições de saúde, segurança, educação e saneamento básico, por exemplo. O discurso paradisíaco, recheado de cifras estratosféricas, contrasta com a realidade fria do dia-a-dia. Os números, produto muitas vezes do marketing pago a preço de ouro, se mostram incapazes de arrefecer o mau cheiro que nasce do “chorume” de Brasília. O que se vê, de fato, é, por exemplo, a classe trabalhadora vendo seu poder de compra achincalhado pela extorsão tributária via imposto de renda, aposentados vitimados pelo pérfido fator previdenciário, empresários encurralados por taxas de juros abusivas, mães a verem seus filhos e filhas se perderem em meio à violência e ao tráfico, crianças e jovens enfiadas em escolas sucateadas que pouco ensinam, sistemas prisionais aquém das masmorras medievais... Exemplos não faltam para testificarem a falência do Estado no Brasil. Culpa de quem? Arrolar o PT com único responsável por tamanha tragédia é, no mínimo, ingênuo. A falha na gestão é histórica, antecedendo e perpassando não apenas o Partido dos Trabalhadores, mas quase todas as agremiações que povoam o confuso e risível quadro partidário nacional. A “sopa” de letras e siglas existentes comprova a imaturidade política de nossa gente. A pocilga político-partidária em que se transformou o Brasil é motivo não apenas de chacota, mas de preocupação com os rumos deste país. O antipetismo, apesar de compreensível, é injustificável, pois não passa de um reducionismo simplório e quase irresponsável. O “furo” é muito mais embaixo. O que faz água são as estruturas da República, corroídas que estão pelos ratos das mais diversas cores partidárias. Partidos são feitos de pessoas. Estas é que são honestas ou não, honradas ou não, éticas ou não. Os partidos, em tese, deveriam representar ideologias distintas e, por conseguinte, vir ao encontro de determinados segmentos da sociedade. Contudo, no Brasil, objetivando abarcar o maior número possível de eleitores, os partidos perdem em originalidade. A chegada e a permanência no “poder” passam a ser um fim em si mesmo e, para isso, amancebam-se e se prostituem. Daí soar como “natural” – não como “ideal” – o voto na “pessoa” e não no “partido”. Talvez aqui esteja a saída para o atávico imbróglio político-partidário nacional. Bem-vinda seja a dialética que daí nasce. Cabe ao eleitor escolher o candidato com as melhores credenciais e que represente seus interesses. Cabe ao eleito, por sua vez, tensionar sua agremiação para que faça jus à respectiva “bandeira”. Cabe, por fim, ao partido zelar pela “fidelidade” de seus representantes e cumprimento de seus princípios, depurando – sempre que necessário – seus “quadros”, tendo por norte a ética e a coerência programática. 

domingo, 5 de outubro de 2014

EXCEÇÃO OU REGRA?


EXCEÇÃO OU REGRA?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                A merecida homenagem ao aluno, que devolveu os cinquenta reais encontrados no pátio do Instituto de Educação São Francisco, suscita algumas certezas e desencadeia muitas dúvidas. É certo, por exemplo, que existe gente honesta. A dúvida, paradoxalmente associada à certeza anterior, diz respeito ao número de pessoas que podem ser arroladas como ilibadas. Até porque é comum, mesmo entre aqueles que se mantêm vigilantes quanto às inúmeras tentações da carne, deslizes, ainda que pequenos. Contudo, mesmo sendo todos pecadores – alguns tidos como mais, outros menos –, é inegável o sentimento de conforto e esperança quando nos deparamos com atitudes como a do aluno. Por que não ficou com o dinheiro? Poderia engambelar a consciência sob o conhecido argumento de que “achado não é roubado”. Optou por devolver o valor encontrado. Quebrou a perversa lógica de encontrar explicações para o inexplicável, e justificativas para o injustificável. Superou a vergonhosa tendência de trilhar o senso comum de que agir como a maioria, ainda que o referido agir seja eticamente repreensível, abona os eventuais deslizes cometidos. Assim como o aluno, muitos são os que não titubeariam em fazer o que é certo. Outros tantos, ainda, mesmo que titubeantes, após uma “crise” de consciência, também fariam o que é certo. O problema são aqueles que, sendo ou não abalados pelo dilema interior da consciência, optam pelo caminho errado. Trata-se de um liame, por vezes, muito tênue, mas que faz toda a diferença, pois que distingue o honesto do desonesto, o bom do mau, o probo do improbo. A família, sem dúvida, tem indelével papel no desenrolar da história. O exemplo dos pais, o zelo pela verdade, a disciplina exigida à prole são determinantes na formação do caráter dos filhos e filhas. Inegociáveis são, por exemplo, o respeito, a responsabilidade, o cumprimento às regras estabelecidas – desde que obviamente justas – e a honestidade. Virtudes não surgem do nada, mas brotam das relações que se estabelecem no cotidiano do lar. Os desejados frutos são semeados, amadurecidos e, quase sempre, colhidos, no seio familiar. Virtudes são construídas em meio ao afeto, à autoridade, ao perdão e a todos os demais frutos que nascem do amor. Este pressupõe condescendência e cumplicidade, mas apenas quando eticamente pertinentes. Amar exige compreensão e diálogo, desde que jamais confundidas com anuência aos desvios de conduta. Amar é cuidar, vigiar e insurgir-se contra as terríveis pragas do mundo moderno, por vezes escondidas sob o manto de modismos que, no fundo, corroem as estruturas da família e colocam em risco não apenas o presente, mas o futuro de nossas crianças e adolescentes. Os “zumbis” a povoarem as praças e “cracolândias”, por exemplo, ainda ontem não passavam de crianças sob os cuidados (descuidos!) dos pais. O medo ou a fraqueza de dizer “não” ao rebento, de colocar e exigir limites aos excessos da criança, serviram – mesmo que inconscientemente – de combustível  a alimentar o triste mundo do crime e do tráfico. Gerações inteiras de desgarrados e fracassados. Pais verdadeiramente presentes geram bons frutos. Parabéns ao aluno e aos amados pais que fizeram dele um exemplo a ser admirado e, principalmente, seguido.  

Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=6321dc6b2ce6d36cc9da6997c5c850f5

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

BASE NACIONAL COMUM: UMA SAÍDA DEMOCRÁTICA PARA O ENSINO?


BASE NACIONAL COMUM: UMA SAÍDA DEMOCRÁTICA PARA O ENSINO?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Corre a notícia acerca da intenção do Ministério da Educação (MEC) em construir uma Base Nacional Comum para a Educação Básica. A ideia, em que pese nada ter de nova, suscita uma série de dúvidas e desconfianças. Tal iniciativa não engessaria o trabalho docente? Não colocaria em risco a autonomia das escolas? Não olvidaria as idiossincrasias regionais deste país continental? Os argumentos contrários e favoráveis à implantação de uma Base Nacional Comum surgem, ambos, na mesma velocidade. Alguns mais, outros menos convincentes. A intenção do ente federal parece boa, pois favorece a construção de uma espinha dorsal programática em âmbito nacional, opção esta que vem ao encontro, por exemplo, de outras iniciativas federais como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Arruma-se, até certo ponto, a “casa”, ao menos sob o ponto de vista formal. Todas as escolas do país, públicas ou não, passariam a contar com uma espécie de “listagem” comum de conteúdos mínimos a serem trabalhados nas respectivas séries/anos da Educação Básica. Acabaria com esta “Babel” que conhecemos, onde inexiste qualquer coerência ou homogeneidade no que tange aos conteúdos trabalhados pelas instituições de ensino, situação esta que, diga-se de passagem, traz sérios prejuízos aos educandos, especialmente aqueles que, por algum motivo, transitam de uma escola para outra, de uma cidade para outra ou, ainda, de um estado federativo para outro. Quanto às diferenças regionais, por óbvio existentes, a saída parece ter sido pensada pelo MEC. A Base Nacional Comum representaria cerca de dois terços do total de conteúdos a serem trabalhados, sendo que o restante seria utilizado para inserção de conteúdos tipicamente regionais ou locais, iniciativa este que garantiria o respeito às diferenças existentes neste país de invejável dimensão territorial. Por outro lado, a implantação de uma Base Nacional Comum nem de perto é garantia de melhoria da qualidade do ensino ofertado neste país. A simples “previsão” de um rol de conteúdos mínimos a serem estudados não é sinônimo de efetiva aprendizagem. É para lá de sabido – em que pese a histórica omissão, incompetência e irresponsabilidade do Poder Público, por exemplo – que um “ensino” de qualidade passa, sobretudo, por efetivos investimentos na infraestrutura física das escolas, na formação profissional do corpo docente, na valorização salarial do magistério e na competente gestão escolar. Optar pela mera implantação de uma Base Nacional Comum, sem levar em conta os demais fatores, é inócuo e absolutamente estéril. Infelizmente, não são poucas as iniciativas governamentais concebidas em gabinetes e completamente distanciadas da vontade da maioria ou mesmo dos segmentos diretamente envolvidos com o assunto em questão. O Estado brasileiro, apesar de mastodôntico, parece acéfalo. Absurdamente caro, porém incapaz de responder ao mínimo daquilo que se espera dele. Assim, não causam estranheza as desconfianças acerca das intenções do Ministério da Educação. O tema, contudo, merece uma profunda reflexão, pois diz respeito ao mais importante pilar constitutivo do desenvolvimento econômico e social. 

Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=a34169b39603ad2805ca6b41d2e7f9c8