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segunda-feira, 30 de junho de 2014

CARTA À CÂMARA


CARTA À CÂMARA


            Nós, alunos do Sexto Ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade semipresencial (EAD), da EMEF Fidel Zanchetta, saudamos, na pessoa do Presidente desta Casa, a todos aqui presentes. A presente Carta é fruto do Projeto “Saúde Pública: conhecer para exercer”, iniciativa esta interdisciplinar e desenvolvida ao longo do primeiro semestre de 2014. A ideia central do Projeto é a questão da saúde pública em Cachoeirinha e, de forma muito especial, na Vila Fátima e arredores. Queríamos, juntos, entender quais os principais problemas e dificuldades enfrentados por nós e nossas famílias no que diz respeito à saúde. Mais do que isso. Desejávamos que nossa indignação chegasse aos “ouvidos” do Poder Público. Esperamos – e lutaremos por isso – que nosso “grito” traga melhorias na qualidade de vida deste município.

            Ao longo do semestre, fomos instigados a lançarmos um olhar crítico acerca da saúde pública em Cachoeirinha, de forma especial nas regiões onde residimos. Observamos e registramos, através de relatórios escritos e fotografias, a situação de nossos postos de saúde (ou a falta deles...), do descarte do lixo, da precariedade de nossas poucas praças, dos problemas relacionados ao esgoto e escoamento da água das chuvas, da falta de limpeza e manutenção de nossas bocas de lobo, da iluminação pública deficiente, do medo que impera nas ruas em decorrência da flagrante insegurança, entre tantos outros problemas. Aparentemente, e só aparentemente, algumas das situações analisadas estão descoladas da questão da saúde. Ora, chegamos à conclusão que saúde pública só existe de forma plena quando inúmeras outras demandas são atendidas com qualidade. Concluímos, ainda, que os sérios e históricos problemas por nós enfrentados nascem, em grande parte, da forma de se fazer política. Esta última precisa ser séria, comprometida com o interesse coletivo, pautada na ética e voltada à melhoria da qualidade de vida de nossa gente. Somos nós, alunos, que damos sentido à Escola. Somos nós, eleitores, que damos sentido aos partidos políticos. Somos nós, cidadãos, que damos sentido a todos os Poderes do Estado.

            Finalizamos a presente Carta, primeiramente, agradecendo à Vereadora Rosane Lipert, por ter, prontamente, se colocado à disposição em lê-la em Plenário. Segundo, pedimos a esta Casa que invista, ainda mais, na criação de canais permanentes e democráticos de comunicação junto à comunidade, em especial junto aqueles que, apesar de numericamente superiores, compõem, não raras vezes, as chamadas “minorias”. Não apenas nos ouçam, mas estejam atentos às nossas demandas, tensionando os demais poderes desta cidade, em especial o Executivo, para que tais necessidades sejam, de fato, coisa de um passado vergonhoso, porém distante. Nosso muito obrigado!

segunda-feira, 23 de junho de 2014

MARCAS DA COPA


MARCAS DA COPA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Esta Copa trará, como provavelmente as anteriores, inúmeras marcas na minha (nossa?) vida. Qual é o real legado da competição? A Copa pouco ou nada acrescenta na qualidade de vida de nosso povo. Mostra-se incapaz de melhorar a saúde, o ensino, a segurança, o saneamento. Exceto, é claro, um “puxadinho” aqui ou acolá, quase sempre voltado ao atendimento dos forasteiros. Coisa para “inglês” (às vezes, literalmente...) ver. O tão falado “padrão FIFA”, infelizmente, soa como fogo de palha. Fugaz e caro. Muito caro. Economicamente, quem ganhou, ganha e – de fato – ganhará com a Copa? Poucos, sem dúvida. O discurso estatal, reforçado por alguns veículos de comunicação – sob o controle de uma elite historicamente distanciada dos interesses da maioria –, apontando os benesses da “invasão” estrangeira não convence. A relação custo-benefício parece desastrosa para nossa gente que, na prática, é quem paga a conta de tamanha farra. Inegavelmente, a Copa anestesia, entorpece os sentidos, em especial aqueles voltados à construção de uma visão crítica. Não de todos, obviamente. Existe uma elite que, sem dúvida, se mostra insensível aos gols e dribles nos gramados das arenas Brasil a fora. Uma elite sorrateira que, estratégica e perfidamente, decide pelo reajuste de tarifas, assinatura de contratos escusos nascidos de licitações suspeitas, alianças político-partidárias espúrias e aprovação de leis questionáveis, por exemplo. A Copa, de per si, não é um problema. Afinal, é mais uma – entre tantas – competição. Envolve poderosos interesses econômicos e políticos de empresários, clubes e confederações. Move uma incontável quantidade de dinheiro, por vezes não contabilizado, lícito ou não, moeda sem pátria e sem bandeira, afinal o capital conhece muito bem o verdadeiro sentido da globalização. Culpar a Copa, seus organizadores e apoiadores pelos atávicos descalabros do “lado debaixo do Equador” soa como ingênuo, senão injusto. É como lançar sobre o vizinho a responsabilidade da enorme e histórica sujeira de nossa própria casa. O torneio aqui no Brasil é, isto sim, inoportuno. Mais parece um escárnio frente à enorme fragilidade e precariedade dos (des)serviços públicos. O sentimento que fica é o mesmo que aflige o filho que nada tem e vê seu pai tratar o estranho a pão de ló. Os pomposos estádios – alguns deles construídos no meio do nada, fadados a virarem caríssimos elefantes brancos sem nenhuma serventia – destoam das ruínas em que se transformaram nossos hospitais, escolas, rodovias e presídios. Assim, qual é o real “legado” da Copa para nosso país? Nenhum que justifique o seu custo. O que representará para esta e as futuras gerações? Nada que pareça razoável e, de fato, significativo. Emoções à parte, a Copa enriqueceu e enriquecerá alguns poucos. Os dividendos tangíveis pertencerão, sobretudo, às empreiteiras, financiamento “paralelo” de campanhas políticas e obtenção de vantagens individuais. O interesse coletivo fica, na melhor das hipóteses, em segundo plano. Contudo, existe um outro legado, intangível. Este é individual, personalíssimo e não necessita de qualquer investimento público ou privado de monta. A Copa tem representado uma ótima oportunidade para reunir as pessoas que amamos e queremos bem. Momento para torcer juntos, partilhar o pão, a pipoca, o pinhão... É grito para todo lado, “linchamento” verbal do juiz, explosão de alegria e indignação. O quarto, a sala, a cozinha, cada peça da casa serve de “arena” privilegiada para nossa algazarra, com a vantagem de dispensar o agiota do ingresso ou do estacionamento. Assim, Copa não precisa ser, necessariamente, sinônimo de alienação, omissão ou condescendência diante das mazelas verde-amarelas. Sirva ela de “ponto de encontro”, de “força centrípeta”, de “fio condutor” para estreitarmos os laços de afeto e (por que não?) aguçar a reflexão acerca do país que temos e aquele que desejamos. O país das “chuteiras”, mas também da saúde, da educação, da arte, da segurança, da igualdade de oportunidades, da seriedade, do trabalho bem remunerado, da justiça social, da ética, do respeito à diversidade. Sobretudo, o país não de uma esperança quimérica, mas de uma esperança alicerçada na ação coletiva e na cumplicidade com a sorte alheia.  
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=0d08d4ca84bc0093930d4a1acec61152 

terça-feira, 17 de junho de 2014

FÉ: IGNORÂNCIA DE QUEM?


FÉ: IGNORÂNCIA DE QUEM?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
                                                                       
                                                                                                                          


                Lembro, quando ainda pequeno, ficava a imaginar tamanha dificuldade de se professar a fé em tempos idos. Ouvia, durante a “escola dominical”, as narrativas bíblicas do Antigo e Novo Testamentos: A firmeza de Sadraque, Mesaque e Abednego frente ao temido Nabucodonosor, a convicção inabalável de Daniel, mesmo quando lançado – a mando do rei Dario – na cova tomada de leões, a esperança de Pedro, ainda que encarcerado, nos tempos de Herodes... Exemplos não faltam de homens e mulheres que, em nome da fé, arriscaram e, por vezes, perderam a vida acreditando, no fundo, ganhá-la. Tempos difíceis aqueles, sem dúvida. Passados centenas, milhares de anos, a impressão que fica é que involuímos. Escassearam os impérios territoriais de outrora e, com eles, os temidos “vultos” a governarem os povos com mãos de ferro. Avançamos, sem dúvida, no que tange ao reconhecimento e garantia de direitos que, antes, eram privilégio de uma ínfima minoria. A decantada democracia alastrou-se, em especial no chamado mundo ocidental. A dita modernidade e, mais ainda a controversa pós-modernidade, aguçou a liberdade de expressão e de pensamento, trazendo em seu bojo, por exemplo, uma forte ojeriza em relação à homofobia e ao sexismo. Vivemos hoje na chamada “sociedade do conhecimento”, onde o tempo é “líquido” e as relações cada vez mais horizontalizadas. Uma época onde a robótica, a nanotecnologia e a informática caminham a passos largos. Uma sociedade que se diz pautada na ciência e na razão, mas que ironicamente apela diuturnamente para a emoção. Afinal, é esta a mola propulsora do consumismo, pilar central do famigerado Capitalismo. Na verdade, inúmeros outros são os paradoxos criados e alimentados pela modernidade encastelada, por exemplo, e muito comumente, no meio acadêmico. Este apregoa a liberdade, mas satiriza e ridiculariza os que optam por acreditarem nesta ou naquela divindade. Defende a razão, mas deixa escapar a razoabilidade mínima ao menosprezar opiniões dissidentes. Levanta a bandeira da democracia, mas achaca escolhas que não aquelas condizentes com o meio pretensamente letrado da universidade. Fé e razão, necessariamente se contrapõem? Soa como sensato opor a fé à inteligência? Por vezes, silogismos mal intencionados têm feito crer que profissão religiosa seja sinônimo de alienação e atrofia intelectual. Ululante engodo. Exilar a fé em nome da razão representa enorme risco à humanidade. Associar ateísmo a elevado grau de inteligência e discernimento ou, então, fé à obscuridade e caducidade intelectual não passa de simplismo preconceituoso. Ignóbil tendência denuncia, isto sim, o profundo descompasso hoje existente entre o homem e sua espiritualidade. Defender a ideia de um homem puramente racional e agnóstico ofende a sensibilidade e empobrece as relações. A liberdade de crença, mais do que um preceito constitucional é um importante pilar constitutivo da dignidade da pessoa humana. Cerceá-la ou demonizá-la (o que não deixa de ser mais uma entre tantas ironias do meio acadêmico) em nada contribui para o enriquecimento da reflexão, da discussão e da pesquisa, esta última matéria-prima da própria ciência. 
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=cec1638b697c1445c5d1c54f55294348