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terça-feira, 14 de outubro de 2014

RODA DE SABERES


RODA DE SABERES
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Pode haver melhor forma de refletir e discutir história do que através da poesia? Pode existir melhor maneira de dialogar com o “outro” e consigo mesmo do que através do verso? A prosa e a rima desarmam e seduzem. Diferentemente do canto das sereias que apenas encanta e, por fim, tira do homem a seiva da vida, a poesia convence, pois que fala ao coração. Mesmo a dor, quando peneirada por entre as estrofes e refrões, é amainada, tornando-se quase uma companheira, apesar de incômoda. Refletir sobre o passado, embalado pelo atabaque, é como navegar por entre as ondas do grande mar. Saborear a letra que brota dos cordéis e dos livros é como deliciar-se em meio aos manjares apimentados do Pelourinho, é como lambuzar-se com as cocadas açucaradas anunciadas nas ladeiras cercadas por casinhas coloridas. A ginga sensual da negra no meio do salão é um convite à dança. Feito a presa hipnotizada pelo movimento da serpente, o espectador entrega-se por completo, um tanto que embriagado pelo prazer instigado por aquelas curvas mal escondidas sob o vestido rendado. Histórias vão sendo contadas através dos pequenos nacos de papel pescados dentro do cesto. Uma espécie de costura coletiva, onde o que se tece é um lindo mosaico multicolorido. Palavras que vão dando sentido às coisas, resgatando não apenas memórias, mas vidas. Sofrimentos e paixões de outrora ressurgem com força através das letras que vão constituindo as palavras. Verbos que vão constituindo as pessoas. O que são estas senão produto da própria palavra? A literatura adverte e subverte. Ela transforma, daí ser, por alguns, odiada, menosprezada e perseguida. Quando comungada, então... Poucos não são os que tentam eternizar o navio tumbeiro, em especial a escuridão que embota o olhar. Soubessem eles que aquela gente trazia era na alma as vogais e consoantes que vão dando forma e sentido à existência. Grilhões aprisionam tão-somente o corpo, jamais as ideias. A oralidade, feito o sopro que insufla a chama, preserva o passado, dignifica o presente e anuncia dias melhores. Enquanto o pandeiro e o agogô vão dando o ritmo, a roda de cadeiras vai girando. É sair um, logo atrás vem outro. Roda democrática, que não obriga, mas convence. Roda de saberes distintos, de vivências únicas, de experiências singulares. Unidade que na roda não se dissipa, mas se fortalece, sem que isso represente a tirania de um sobre o outro. Até porque “um” inexiste sem o “outro”. É este último (ou será “primeiro”?) que embeleza e ressignifica o “eu”. A poesia transborda na roda. Diverte e alimenta. Sacia e acalenta. Aquece e encanta. Seduz e humaniza... É a poesia, mesmo a mais singela e discreta, que nos faz diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais. Aproxima e apaixona. Ensina, não por meio da dor... Até a vara de marmelo, quando não mais do que literatura, provoca risos. Açoita e põe a correr a dor, ou, então, dá a esta última, novo sabor. Viva a poesia. Poesia é vida. 

Veja também:
http://educacao.cachoeirinha.rs.gov.br/index.php/26-noticias/outras-noticias/391-roda-de-saberes.html

http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=e2646871a545a1061d0695e71051c8a9

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