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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

TIM TONES


TIM TONES
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Alguém lembra do personagem do saudoso Chico Anysio? Todo aquele discurso acalorado antes de passar a sacolinha. A música entoada pelo coral de inocentes crianças: “Tim Tones, glória Tim Tones...”. Por que a lembrança? Os diversos meios de comunicação de todo país, ao longo da semana, têm noticiado a obrigatoriedade de pagamento, por parte dos “mensaleiros” – José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, etc. –, das multas arbitradas pela Justiça. Não demorou muito para que os “fiéis” seguidores das lideranças condenadas criassem uma corrente para angariar fundos para saudar o débito. O fato, por si só, já daria pano para manga, mas vai lá, cada louco com sua mania... Afinal, cada um faz o que julgar melhor com o seu dinheiro. O que mais chama atenção, contudo, é a declaração de bens dos condenados. Não sei se é de rir ou chorar. Acredite, os nobres senhores mal têm onde caírem mortos... Um puxadinho aqui, um terreninho acolá. Nada, absolutamente nada, que possa chegar aos pés da dívida a ser paga. Não é estranho? Para qualquer imbecil e idiota soaria como engodo tal situação. Para a Receita Federal – que nos extorque ano após ano retirando de nosso salário fatia vital, como se aumento de patrimônio fosse –, ao que parece, nada há que chame atenção. Absolutamente normal. Ainda ontem – será que ainda não? – frequentavam restaurantes caros, vestiam ternos finos, viajavam mundo afora, patrocinavam festas para a grã-finagem, esbanjavam dinheiro (público, muito provavelmente...). O que aconteceu? Onde foi parar todo o dinheiro que dava suporte a tudo aquilo? Ora, minha casa vale mais do que a do José Dirceu e a do Genoíno juntas... Inacreditável! Logo eu, professor, servidor público de um município que, é duvidar, mal aparece no mapa. Como a maioria dos meus colegas, mal consigo honrar minhas contas: água, luz, telefone, mensalidades escolares, IPTU, IPVA, um que outro carnê de loja... Isso sem falar em alimentação, combustível, etc. O Imposto de Renda referente a 2012, por exemplo, tive que pagá-lo ao longo de todo ano passado. A mesma Receita que me abocanha na “fonte”, me obriga a pagar – com base numa vergonhosa tabela que, não sei por que cargas d’água, entidades como o Ministério Público e OAB não conseguem reverter – o que não tenho. Por outro lado, os serviços públicos, sem quase nenhuma exceção, são um verdadeiro escárnio ao contribuinte, obrigando-nos a pagar por saúde, segurança, ensino privadas. Viajar de avião com toda família, só em sonho... Confesso que já pensei, também, em passar a “sacolinha”. Quem sabe, né? Vai que algum maluco se condoa com minha via crúcis... Apesar de tudo, não invejo os “mensaleiros”. Tá bom, no máximo, gostaria de ter o número do telefone do contador deles. Deve ser mágico, uma espécie de Midas às avessas, capaz de transformar, quando necessário, ouro em poeira. Quem sabe, ainda, um grande plantador de “laranjas”? Afinal, neste país, ao que parece, tudo é possível. 

domingo, 12 de janeiro de 2014

SONHOS E DEVANEIOS


SONHOS E DEVANEIOS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Enquanto o sonho insere-se no limite do possível, o devaneio é pura e inalcançável fantasia. Imaginar-se envolvido num romance hollywoodiano com a Gisele Bündchen regado a Armand de Brignac às margens do Sena, por exemplo, é escancarado devaneio. Não muito diferentes são os quadros que nascem dos discursos oficiais. A pautarmo-nos pelo que dizem as propagandas governamentais, vivemos no paraíso. Onde ficam mesmo as escolas, estradas e hospitais públicos veiculados nos meios de comunicação? Não os conheço. Não são daqui. Sou muito azarado, quem sabe. Passam de longe os corredores largos, asseados e quase vazios mostrados na telinha em horário nobre. As escolas daqui são sucateadas, pouco convidativas e nada instigadoras. Sobram problemas e faltam investimentos, na mesma medida que – feito ratos – corruptos e corruptores infestam os corredores e gabinetes de órgãos públicos. Onde vivo, a violência cresce e se banaliza, sob o olhar impotente, quando não omisso, do Estado. Os presídios por aqui despertam saudade dos calabouços medievais. Neles, o poder público não manda e, se duvidar, sequer entra. Neles, a vida não tem nenhum valor, fadadas que estão ao pérfido círculo vicioso do crime. Sob a égide do medo e da insegurança, tentamos criar nossos rebentos, nadando contra a maré e, muitas vezes, submersos pela política tributária extorsiva e insana do governo. Alimentamos um Estado perdulário e mastodôntico, que nem de perto cumpre com suas funções. Um Estado, portanto, cada vez mais desnecessário. Executivo, Legislativo e Judiciário têm sido um fim em si mesmos. Parecem existir tão somente para garantirem privilégios e interesses individuais e/ou de pequenos grupos. Não falam a linguagem do povo e com este não estão sintonizados. Não por acaso, muitos dos “figurões” de hoje são os mesmos de uma, duas, três ou mais décadas atrás. Reproduzem-se em nível federal, as mesmas relações coronelísticas tão comuns em alguns estados brasileiros, onde público e privado se confundem. Famílias que ontem governavam, seguem dando as cartas. Mudam o discurso aqui e ali, fazem plástica, lipoaspiração, implantam cabelos, mas as práticas seguem as mesmas. Enquanto isso, feito paspalhos, pagamos a alta conta. Somos, talvez sem sabermos, os principais responsáveis pela manutenção e perpetuação das relações de poder que permitem a existência de um país tão injusto, desumano e desigual. Um país bem distinto daquele produzido pelas perfumarias das grandes agências de publicidade, pagas a preço de ouro. O grande desafio é passarmos do Brasil do devaneio ao Brasil do sonho. Este último só será possível a partir de profundas transformações, capazes de subverterem o status quo. Comecemos pelo voto. Façamos dele uma poderosa ferramenta de mudança, feito a lança do principal personagem de Cervantes. Expurguemos, por meio das urnas, toda sorte de larápio, bem como aqueles que se associam a interesses espúrios. Firamos de morte o poder sombrio do coronelismo travestido de democracia que domina significativa parcela do território nacional. Meu voto, teu voto, nossos votos. O Brasil do sonho só nasce de uma construção que seja coletiva. Discuta política com sua família, amigos, colegas... Permita-se sonhar!